Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S Azambuja
A revista “ISTO É” publica, em sua edição deste fim de
semana (Nº 1830 – 03 Nov. 2004), matéria com o título “Os
Documentos do Araguaia”, assinada
pelo jornalista Hugo Studart.
No início da matéria, o jornalista afirma que “ISTO
É” teve acesso a 37 documentos
militares secretos ou confidenciais sobre a Guerrilha do Araguaia o que,
segundo ele, contradiz afirmações do ministro da Defesa - José Viegas - e dos
comandantes militares de que tais documentos tenham sido destruídos e, por
isso, não podem ser abertos ao conhecimento público.
Afirma o jornalista que os papéis obtidos fazem parte de
um longo dossiê, preparado pelos próprios militares, todos eles ex-integrantes
dos órgãos de Inteligência que, ao longo de quatro anos, copiaram documentos
que permanecem nos quartéis e recolheram outros que estavam escondidos nas
residências de colegas. E, ainda, que para preencher lacunas, colheram entrevistas
e depoimentos formais, gravados ou por escrito, com 27 militares que
participaram dos combates, de cabo a general.
E, também, informa que “ISTO É” possui cópia das citadas gravações e de parte dos
relatos escritos.
A matéria pode ser julgada excelente e pauta, com
oportunidade, o momento adequado em que a mídia, junto com grupos de interesse
– nacionais e não - , políticos aproveitadores e pessoas do governo buscam
explorar o assunto, cada um tentando auferir suas próprias vantagens.
Porém, o mérito não pode
deixar de ser atribuído a quem o tem.
E, tal mérito, não é de um grupo de laboriosos, enquadrados e
descrentes militares – revoltados com não sei o quê ou arrependidos de não sei
o quê.
É, em várias etapas ao longo dos últimos quatro anos, unicamente, do jornalista Hugo Studart.
É, em várias etapas ao longo dos últimos quatro anos, unicamente, do jornalista Hugo Studart.
Porque o “longo dossiê” não existe nessa forma e nem foi preparado a partir de
cópias de documentos “que permanecem nos quartéis” ou “estavam escondidos nas residências dos colegas”.
MÉRITO – O jornalista recebeu, de um único militar,
um trabalho escrito, sob o título “Ultrapassando a Guerrilha (a
Guerrilha do Araguaia e outras guerrilhas)”, para que o utilizasse em sua tese do curso de Ciência Política da UNB
ou o publicasse em livro. Como os radicais integrantes da banca examinadora
exigiram a adaptação do trabalho a um enfoque político-ideológico e ao
enaltecimento único dos militantes do PCdoB que estiveram no Araguaia, o que
transformaria a tese em mais um panfleto similar a tantos já existentes, a
imposição não foi aceita.
MÉRITO – Ao longo de quatro anos e sozinho, Hugo Studart –
contratado pela “ISTOÉ” há pouco mais de um ano – pesquisou,
encontrou, entrevistou e convenceu 27 militares da reserva a falar sobre o
assunto, conseguindo gravar doze dos relatos que lhe foram feitos e obtendo
cópias de relatórios de informações daquela época.
MÉRITO – Esse jornalista, embora tenha em mãos um documento de
destacado valor para o que virá a ser mais uma página da nossa História
sócio-política, continua a batalhar – e sozinho – para publicá-lo na forma fidedigna original (muito diferente do conteúdo publicado
pela “ISTO É”) que,
pela primeira vez, apresentaria os episódios ocorridos no Araguaia sob o
enfoque descritivo e analítico dos atores oponentes e sob a visão estratégica
militar daquele conflito armado.
Quanto ao texto da matéria publicada, fazem-se necessários
alguns reparos a afirmações nele contidas e comentários sobre o que possam ter
sido “enriquecimentos” do autor ou da redação.
Dois militares “que participaram da guerrilha” são apontados como os redatores finais do “Dossiê” e identificados por “seus codinomes da repressão”. Ora, aquele que o jornalista trata como “professor” jamais esteve na região do Araguaia, nem para pescar, antes, durante ou depois do período da chamada guerrilha.
Não “coube a ele identificar a maior parte dos
mortos” já que, jamais tendo estado na
região, não viu cadáveres nem suas fotos.
Quanto à relação das vítimas, não foi produto de “um
trabalhão” e nem do “instigar
a memória dos companheiros que estiveram lá”. Ela é cópia da listagem oficial do Ministério da Justiça, da
Comissão de Desaparecidos Políticos, e do site da Internet - www.mortosedesaparecidospolíticos.org.br.
Além disso, Carlos Ilich Azambuja nunca foi “codinome da repressão”. Trata-se de pseudônimo - como o de tantos outros jornalistas ou historiadores -, lançado há pouco mais de 15 anos, de um escritor e historiador da atualidade.
Além disso, Carlos Ilich Azambuja nunca foi “codinome da repressão”. Trata-se de pseudônimo - como o de tantos outros jornalistas ou historiadores -, lançado há pouco mais de 15 anos, de um escritor e historiador da atualidade.
Em relação à citação do outro militar como “um
dos dois oficiais de maior patente acampados na área”, houve um chamado “cochilo”, pois, se era tenente-coronel à época, como afirmado,
certamente era muito moderno perante os generais e coronéis da ativa que lá
estiveram nas diferentes fases das operações.
O “professor” Carlos Ilich Azambuja, a partir do início de 2004, em vários artigos
publicados pelo sitemidiasemmascara.org, tem escrito sobre o que realmente aconteceu
naqueles dois anos de luta armada na selva. Essa publicação, composta por 22
artigos, foi denominada pelo autor de “Araguaia sem Máscara”, numa
evidente homenagem aos que aceitaram publicar os seus escritos. Não há
comparação entre a história relatada no “Araguaia sem Máscara” e a versão jornalística da matéria da “ISTO
É”. Pelo conteúdo dessa matéria
jornalística, pode-se deduzir que esse chamado “Dossiê” em nada se assemelha ao que consta no livro
virtual mencionado.
A morte de Dinalva Conceição de Oliveira Teixeira “Dina”, com apelo emocional muito bem colocado na matéria, não
se deu da forma nela descrita, embora tal “gancho” pudesse ser oferecido ao seu colega jornalista Ronaldo
Duque para melhorar o roteiro do filme sobre o tema.
A lenda sobre ”Osvaldão”, tanto no papo dos fins de tarde e das biroscas locais quanto nas novidades e boatos veiculados pela “rede cipó”, não era que “virava lobisomem e outros tipos de assombração”, mas sim que se camuflava em fumaça enquanto a “Dina” virava folha.
A lenda sobre ”Osvaldão”, tanto no papo dos fins de tarde e das biroscas locais quanto nas novidades e boatos veiculados pela “rede cipó”, não era que “virava lobisomem e outros tipos de assombração”, mas sim que se camuflava em fumaça enquanto a “Dina” virava folha.
Desejando que os comentários contribuam para a melhoria do
rendimento desse “livro
quase acabado”, o RESERVAER parabeniza o
jornalista Hugo Studart pela perspicácia, persistência e tenacidade com que vem
produzindo o trabalho, até o momento o único capaz de levar aos seus futuros
leitores um conjunto de dados realísticos sobre a crítica aos que, àquela
época, constitucionalmente, atuaram na pejorativamente denominada “repressão” dos órgãos governamentais à ideologia comunista e sobre
a autocrítica dos que hoje persistem em reescrever a História do Brasil, à luz
de um marxismo-leninismo tupiniquim já ultrapassado na história do mundo.
Finalmente, como escreveu Carlos Ilich Azambuja em
um desses seus artigos, “Deve ser assinalado que o cadáver do
comunismo permanece insepulto. Nesse sentido, devemos reconhecer que partidos
concebidos para derrubar um sistema político-social e implantar outro, seu
antípoda, forçosamente têm exigências distintas daquelas dos partidos
tradicionais. O abandono dessas exigências implicaria na renúncia à ditadura do
proletariado, ao partido único, à tutela do partido sobre o Estado, ao controle
das pessoas, ao planejamento centralizado e à posse dos meios de produção. Para
eles, os comunistas, no entanto, embora já passados mais de 10 anos do terremoto,
o momento é ainda de depressão e de uma grande ressaca, pois, afinal, eles não
abandonaram o comunismo. O comunismo foi quem os abandonou.”
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