Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Hélio Duque
“Não existe dinheiro bom ou dinheiro ruim. Existe apenas
dinheiro”.
- gangster Lucky Luciano
A máfia é um grupo inescrupuloso, atua de forma oculta e o
objetivo é infiltrar nas instituições civis e públicas. A organização criminosa
busca riqueza e poder lastreada na corrupção. Um dos personagens do filme “O
Poderoso Chefão” diz: “Neste País a primeira coisa é ter dinheiro. Quando você
tem dinheiro você tem poder”.
No Brasil, o ensinamento dos mafiosos, nos últimos anos,
expandiu nos poderes executivo e legislativo. Acreditavam na “omertá”, o código
de silêncio mafioso. Grupos econômicos e empresários expropriadores de dinheiro
público aliaram-se à elite política em projeto criminoso. Capturaram o Estado,
em todos os níveis, fortalecendo a aliança de corruptores e corruptos, tendo na
“propina” o gerador do enriquecimento ilícito de empresários, políticos,
servidores públicos e afins.
Felizmente, o código de silêncio da “omertá”, não funcionou
graças à “Operação Lava Jato”. O que levou os ladravazes a buscar as
“colaborações premiadas”. A corrupção sistêmica revelaria fatos inacreditáveis.
Na última semana tornou-se pública a delação do JBS, feita pelos irmãos Joesley
e Wesley Batista. O “capo” Joesley, de posse de gravador escondido, registrou
em áudio diálogos imorais e constrangedores. Foi à residência presidencial e
atingiu o Presidente da República, Michel Temer, de maneira mortal.
A liturgia foi atropelada pelo contubérnio público-privado.
Ampliando para a área de vídeos gravou o candidato presidencial do PSDB,
senador Aécio Neves, marcando-o como arrecadador de propinas. Felizmente o
saudoso Tancredo Neves morreu há 32 anos. Dele, o neto Aécio herdou unicamente
o sobrenome.
“Toda sociedade tem o criminoso que merece”, dizia Robert
Kennedy, ocupante da pasta da Justiça, no governo dos EUA. Antevia o que
ocorreria no Brasil. Anestesiada pela euforia populista do “nunca antes da
história desse País”, majoritariamente, a sociedade brasileira não enxergou o
projeto nefasto de poder que se desenvolvia. Os criminosos, nas áreas políticas
e empresariais fizeram da corrupção institucionalizada prática comum.
O grupo JBS de Joesley Batista foi gerado e expandido nesse
cenário entristecedor. Do quase nada, transformou-se na maior empresa mundial
de proteína animal. Sustentada no dinheiro público e nas incestuosas relações
com os poderes executivo e legislativo. Corrompeu, pagou propinas a roldo,
multiplicando o “festejado” empreendedorismo” em várias áreas da economia
brasileira.
Nos textos publicados neste Alerta Total, “JBS e Capitalismo de
Estado”, I e II, didaticamente sistematizamos as relações espúrias e o
portfólio empresarial do grupo. Malandramente Joesley Batista, sabedor das
adiantadas investigações do Ministério Público e da Política Federal, sobre a
sua empresa, preparou a tocaia traiçoeira.
Clandestinamente o presidente Temer e o senador Aécio foram
gravados em conversas antirrepublicanas. Com o material gravado buscou a PGR
(Procuradoria Geral da República), oferecendo-se para fazer “colaboração premiada”. Além dos políticos,
no poder judiciário afirmava ter comprado juiz, juiz-substituto e um procurador
da República.
Nos depoimentos da JBS, a corrupção e a sem vergonhice de homens públicos é estarrecedora.
Lamentavelmente, sem maiores apurações dos crimes e ilícitos econômicos e
financeiros dos empresários, o STF (Supremo Tribunal Federal), monocraticamente pela ação do ministro Edson Fachin,
homologou a delação de Joesley Batista e diretores. Estabelecendo multa de R$
225 milhões no acordo de leniência. Comprovando que o crime compensa no Brasil.
E mais: receberam imunidade total, além de garantia jurídica de
proibição de abertura de processo sobre os crimes em que foram ativos
participantes. Saíram livres, leves e soltos. O “capo” Joesley, vitorioso,
embarcou no jato particular para o exterior, onde disse textualmente “estar
escandalizado com a corrupção brasileira”. Em ato de cinismo, demonstrou seu
caráter deformado e marginal.
Na semana anterior em que a delação se tornaria pública, o JBS
invadiu o mercado de câmbio comprando dólares e no mercado de capitais vendendo
as suas ações, sabia que se desvalorizariam. Calcula-se que na operação ficaram
mais ricos, com ganhos que se aproximam de R$ 1 bilhão. No dia seguinte às
delações publicadas as ações sofreram forte desvalorização e o dólar elevada
valorização.
A multa arbitrada será paga com os ganhos da compra de dólares,
adquiridos a R$ 3,13 e vendidos a R$ 3,40. Caracterizando nas duas operações
crimes financeiros definidos como “Insite information” e “Inside trading”. A
CVM (Comissão de Valores Imobiliários) não pode se omitir e deve investigar o
delito.
Ante essa realidade surrealista, o Ministério Público Federal,
incomodado com a homologação pelo STF e com o valor da multa leniente, reagiu,
lutando para que o total da multa seja de R$ 11,169 bilhões.
A suave e amiga punição ao grupo corruptor indicou o caminho
livre para prosseguimento na jornada empresarial vitoriosa do JBS, onde não
existe ética nem valores morais, e o seu “capo” Joesley Batista, com imunidade
garantida pelo STF, acreditando que dinheiro não corrompe, é apenas dinheiro”.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É
autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Um comentário:
Não há comparação entre JBS e ODEBRECHT
1)Ambos as situações tratam de propina paga a políticos.
2) No caso da ODEBRECHT a propina serviu para obter contratos nos quais ganhava nas duas pontas: no sobrepreço e no baixo custo da qualidade da obra entregue.
3) No caso da JBS a propina serviu para conseguir empréstimos do BNDES que não seriam obtidos de outra forma.
4) No caso da ODEBRECHT a propina trouxe graves prejuízos ao país com a quebra da Petrobrás, a recessão e o desemprego de 14 milhões de trabalhadores.
5) No caso da JBS não há prejuízo a lamentar. O empréstimo, que transformou um açougue do interior de Goiás na maior multinacional de alimentos do mundo, já foi ou está sendo pago e o BNDES, que adquiriu 21% do capital da JBS a R$7,04, viu a cotação atingir R$17,00 em set/2015.
6)Sobre a punição, não há como falar em igualdade entre as duas empresas. São dois casos de propina com diferença abissal entre eles. Para o país, a propina paga pela JBS teve o mesmo efeito da propina para a um guarda de trânsito pelo motorista com a carteira vencida. Já a da Odebrecht...
7) Pior do que o prejuízo causado pela Odebrecht só a omissão dos órgãos de controle que ganham para ver e nada viram durante 14 anos. Qual o total da folha de pagamento desses órgãos durante esse período? Para essa omissão não há punição?
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