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Por Arthur Jorge Costa Pinto
O BC (Banco Central do Brasil)
reduziu na semana passada a Selic (juros básicos da economia) de 11,25% para
10,25 ao ano (1 ponto porcentual), sendo que esta foi a sexta queda consecutiva
mas a segunda neste patamar, por unanimidade do colegiado e, sem viés,
tornando-se dessa forma, a menor taxa desde novembro de 2013, apesar do
ceticismo que os brasileiros estão depositando no futuro do governo Temer. Com
isso, o Brasil assumiu a vice-liderança mundial dos juros reais de 4,30%, atrás
da Rússia com 4,57% e seguido pela Turquia com 3,63%.
Na realidade, o mercado financeiro já
vinha enxergando pouco espaço para uma redução mais acentuada, em função da
incontrolável crise política aprofundada pela delação dos irmãos Batista. Só
que, além de se mostrar cauteloso agora, no atual cenário político, o BC já
sinalizou que é bem provável que venha a promover um corte menor de juros na
próxima reunião agendada do Copom (Comitê de Política Monetária) para 26 de
julho, quando o ambiente político poderá ter mudado dramaticamente.
Grandes dúvidas levantadas foram
estrategicamente discutidas neste último encontro sendo que, a maioria delas
está relacionada aos principais fatores de risco com o aumento considerável das
incertezas, ocupando todos os espaços das camadas sociais, a velocidade das
reformas estruturais e os ajustes importantes na economia. Destaques para as
reformas da Previdência e a trabalhista que já se encontram tramitando no
Congresso em vários estágios, devido à importância que o equilíbrio
macroeconômico exige a partir dos perigos inerentes a uma total desarticulação
da base aliada no Congresso e da efetiva permanência de Temer no comando da
Nação. Estas foram essencialmente as premissas básicas que nortearam a decisão,
talvez uma das mais conservadoras já adotadas pelo BC.
Parece-me que a hegemonia dentro
desse conservadorismo não se encontra bem apoiada nos dados conjunturais
econômicos que conhecemos, a começar pelo nítido declínio inflacionário que
mantém a inflação sem ameaças, muito bem situada abaixo do centro da sua meta;
a atividade econômica que não sinaliza uma sólida recuperação mesmo com o
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1% no primeiro trimestre deste
ano, após oito trimestres seguidos de retração, puxado basicamente pelo setor
agrícola e não garantindo, dessa forma, nossa saída da recessão; o desemprego
em nível recorde, próximo a 14% com 14 milhões de desocupados e uma esteira de
dramas pessoais; o alto endividamento das pessoas e das empresas mergulhadas em
dívidas; uma capacidade ociosa generalizada; a abundante liquidez internacional
e o cenário externo razoavelmente favorável ao Brasil que deveriam
conceitualmente proporcionar uma maior aceleração no corte dos juros básicos da
economia brasileira.
Na verdade, a expectativa maior para
o mercado financeiro não era o resultado da reunião, mas o comunicado que foi
divulgado logo em seguida. Economistas, empresários e analistas econômicos
aguardaram ansiosamente a avaliação feita para a crise política em busca de um
rumo nos negócios a partir desse mês.
O BC foi extremamente transparente
quanto às incertezas no andamento das reformas, alimentando dúvidas,
particularmente, com relação a até quando o Copom pode se estender na sua
flexibilização monetária mesmo porque, se não forem realizados os ajustes
indispensáveis, a “taxa estrutural” também denominada de “taxa neutra” da
economia (ponto de equilíbrio quando a inflação não sofre estímulos nem tão
pouco acelera) poderá deixar de ser também uma estratégia da atual equipe
econômica. Deverá ser dada uma especial atenção aos efeitos da crise na
retomada do crescimento e suas conseqüências na inflação. Tudo porque ela
invalidou as projeções realizadas pela autarquia.
Isso aconteceu em função de existir
probabilidades de termos cenários que venham a travar esse processo, pela
complexidade existente na avaliação dos efeitos provenientes deles sobre os
determinantes da inflação.
O efeito da crise estabelece dois
aspectos interessantes que são completamente antagônicos: pode elevar a
recessão econômica e consequentemente favorecer o corte mais vigoroso dos juros
ou aumentar a inflação, inviabilizando uma significativa retração nos juros e também
a grande dúvida que passou a persistir - se as reformas continuarão a caminhar
no Congresso Nacional, o que dificulta uma avaliação mais percuciente.
Vemos que são dois efeitos que seguem
em direções distintas e dois fatores que também se opõem. Uma nova análise
deverá ser feita no final deste mês, quando o BC publicar o relatório
trimestral de inflação, assim como outras disposições poderão surgir quando o
CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelecer para 2019 sua meta para a alta
dos preços.
Os analistas começam a apostar que o
próximo corte em julho será no máximo de 0,75% ponto porcentual, embora ainda
mantendo a projeção de que a Selic venha a atingir 8% no final de 2017. À luz
dos elementos de hoje, acho muito difícil que seja repetido o corte de 1 ponto
porcentual na próxima reunião.
Vejo com naturalidade quando o Copom
começar a apresentar mais parcimônia, pois à medida que a taxa básica de juros
alcance um dígito, o BC, com certeza, tenderá a fazer cortes bem menores. Ainda
mais considerando a amplitude do cenário de incertezas que estamos vivendo,
sobretudo no âmbito político, o que, provavelmente, poderá impactar
negativamente no câmbio, sendo que uma alta mais saliente do dólar turbinará
nossos preços.
Se, por acaso, não se descuidarem com
o câmbio, o que julgo um pouco difícil em função do BC hoje contar com uma
equipe altamente qualificada, a tendência natural é continuar “podando” os
juros, dentro do possível. Infelizmente não sabemos o dia de amanhã, mas até o
presente instante, pelo menos, no curto prazo, o cenário não pressupõe inflação
em alta. Os números atuais traduzem tranquilamente a conveniência do corte dos
juros. A inflação brasileira situa-se em 3,77% nos últimos doze meses, sem nos
esquecermos de que nossa meta anual é de 4,5%.
Acontece que o BC admite que seus
modelos indicam uma inflação futura um pouquinho mais alta que no passado.
Partindo dos exercícios que fazem com as apostas divulgadas pelo mercado, a
projeção do Copom situa-se em 4% neste exercício e 4,6% no próximo ano,
sutilmente acima da meta estipulada. Dentro desse panorama, todavia
pressupõe-se que os juros básicos alcancem 8,5% no final de 2017 e, talvez
próximo, em 2018. É importante que se faça uma pequena ressalva: o BC não
assumiu, até então, qualquer compromisso em levá-la até esse patamar.
Segundo o BC, a conduta da inflação
conserva-se adequada, apresentando uma desinflação disseminada nos componentes
solidários aos juros, mas ressalta que é imprescindível estarem sempre atentos
aos prováveis impactos na extensão da incerteza sobre a trajetória prospectiva
da inflação.
Pelo menos, quanto ao cenário
externo, o Copom reconhece que, até o presente momento, ele tem se revelado
favorável diante da atividade econômica global mais saudável, suavizando os
possíveis efeitos nas mudanças de política econômica nos países centrais.
Evidentemente que a Selic é de
extrema importância na retomada mais forte da atividade econômica brasileira.
Não quero dizer com isso que reduzir a taxa de juros livrará o país dessa inesquecível
recessão, porém a manutenção da política monetária atual, aliada ao
arrefecimento da inflação, deverá ser um dos principais vetores para o nosso
potencial crescimento econômico.
O ideal para o País atualmente seria
uma solução rápida para a crise política, o que viria a facilitar a reforma da
Previdência (a essa altura parece que são mínimas as chances de ser aprovada),
reforma essa considerada fundamental para que o vertiginoso avanço nos gastos
com funcionários públicos de Estados e municípios desacelere nos próximos três
a cinco anos.
O macro contexto é que nos massacra,
trazendo mais risco para a atividade econômica, compromete igualmente o
processo de corte de juros. Além disso, lamentavelmente, a “desesperança”
começa a nascer no horizonte dos brasileiros e, da maneira como as coisas vêm
se configurando, dificilmente a sociedade brasileira, tão cedo, poderá celebrar
o crepúsculo de um ciclo inegavelmente inconseqüente.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela
UNIFACS (Universidade Salvador).
4 comentários:
Cada vez mais aparecerão novas propostas legislativas de todos os partidos, para criarem dificuldades às investigações e aumentarem a imunidade da classe política.
Cada vez mais aparecerão novas propostas legislativas de todos os partidos, para criarem dificuldades às investigações e aumentarem a imunidade da classe política.
Toda e qualquer lei legislada sob o atual Legislativo e Executivo é ilegítima e imoral.
Toda e qualquer lei legislada sob o atual Legislativo e Executivo cheio suspeitos de corrupção confirmada pelas delações, é ilegítima e imoral, pois os políticos que lá estão são potencialmente criminosos pois estão a ser investigados por atividades criminosos e já não nos representam.
O que estamos a necessitar é de uma profunda reforma profunda/renovação da Constituição, sem a envolvência dos atuais estadistas e juízes do STF e TSE.
Pequenos remendos na lei, só vem beneficiar o atual regime composto por um Executivo e um legislativo cheio de suspeitos de corrupção, além de privilegiar todos os políticos suspeitos de corrupção espalhados por este brasil.
Tem trinta anos que escuto essa ladainha. Não dá prá mudar?
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