Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja
Em Auschwitz, músicos judeus eram obrigados a tocar para
compassar a marcha dos prisioneiros rumo aos campos de trabalho forçado.
O Campo de Concentração de Aushwitz ficou conhecido por ser o local de extermínio dos judeus praticado
pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
O texto abaixo é da BBC.
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Mais de 70 anos após ter ouvido uma canção inventada por um jovem polonês pouco antes de ser exterminado em uma câmara de gás, o sobrevivente do campo de concentração nazista em Auschwitz e produtor de filmes americanos. Jack Garfein. finalmente encontrou com quem compartilhar e como homenagear à altura a cantiga que lhe havia ficado gravada na sua memória desde os 13 anos de idade.
Mais de 70 anos após ter ouvido uma canção inventada por um jovem polonês pouco antes de ser exterminado em uma câmara de gás, o sobrevivente do campo de concentração nazista em Auschwitz e produtor de filmes americanos. Jack Garfein. finalmente encontrou com quem compartilhar e como homenagear à altura a cantiga que lhe havia ficado gravada na sua memória desde os 13 anos de idade.
Em uma viagem à Itália no ano passado, Garfein conheceu o
pianista italiano Francesco Lotoro, que havia recuperado músicas compostas por
prisioneiros em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
"Foi um encontro emocionante, pois, até então, ele não
tinha tido coragem de cantá-la para ninguém. Na verdade, é uma singela canção
em yiddish, mas pela história que ela carrega, deveria ser ensinada como um
hino contra a barbárie racista", diz o maestro Francesco Lotoro à BBC
Brasil.
Há quase 30 anos, ele viaja o mundo em busca de sobreviventes do
Holocausto ou de seus familiares, decifrando notas musicais escritas em
milhares de manuscritos, em partituras e folhas despedaçadas e até rabiscos em
papel higiênico ou em sacos de carvão.
"Grande parte dessas composições foram criadas por judeus,
mas há também músicas feitas por presos políticos, comunistas, homossexuais,
ciganos, religiosos e alcoólatras", conta.
"Não sou um colecionador. Minha missão é fazer com que
essas obras voltem à vida, que sejam ensinadas, tocadas, cantadas e assobiadas
por todos. Assim, perpetuamos a vida onde havia morte", diz o professor de
música, que auto-financia as próprias pesquisas.
Ao longo de sua carreira, Lotoro catalogou cerca de 1,6 mil
compositores e transcreveu mais de 5 mil obras musicais, 500 das quais estão
completas. O acervo conservado em sua casa na pequena cidade de Barletta, no
sul da Itália, reúne óperas, operetas, música sinfônica, lírica, jazz, até
canções populares, cantigas e paródias.
Vida nos campos de extermínio
Em alguns campos de concentração nazistas, como em Auschwitz, a
música desempenhava um papel de exaltação do horror e de destruição da
dignidade humana.
Além de entreterem os oficiais do regime, as orquestras formadas
por judeus eram obrigadas a tocar continuamente, dando o ritmo à marcha dos
prisioneiros rumo aos campos de trabalho forçado.
"Mesmo diante da perspectiva da morte, a criatividade dos
artistas sobrevivia. Além de criarem novos arranjos para obras de compositores
famosos, muitos músicos compuseram melodias originais, e várias delas chegaram
até nós", diz.
A maioria das composições foram, porém, criadas
clandestinamente, como um ato de resistência, como no caso do compositor Rudolf
Karel, que, em 1943, foi detido na prisão de Pankràc, na antiga
Tchecoslováquia, onde criou várias óperas complexas.
Entre elas, estava um "noneto", uma sinfonia para nove
instrumentos, com notas musicais escritas com carvão em centenas de folhas de
papel higiênico. Karel morreu na prisão, mas suas composições foram salvas
graças à conivência de um soldado.
Também para o violinista polonês Josef Kropinski, compôr músicas
diante da situação de desespero tornara-se uma exigência vital. Kropinski foi
provavelmente o mais profícuo de todos os músicos presos durante o nazismo,
tendo composto mais de 440 obras durante sua permanência no campo de
concentração de Buchenwald, na Alemanha.
"Ele escrevia principalmente de noite, à luz de velas, na
sala onde eram dissecados os cadáveres dos prisioneiros mortos por
estrangulamento e onde ele sabia que os soldados não entrariam", conta o
maestro.
Kropinski compôs músicas para coro, piano, grandes orquestras,
ópera e opereta. Quando o campo de concentração foi abandonado pelos nazistas,
o compositor deixou para trás parte de sua obra e, durante a viagem de retorno
à sua cidade natal, queimou diversas partituras para se aquecer. Ainda assim,
111 obras do autor sobreviveram e estão catalogadas no arquivo de Lotoro.
Sobreviventes brasileiros
Além de realizar apresentações de música "de campos de
concentração" em diversas cidades pelo mundo como Roma, Estrasburgo,
Praga, Nova York, Atlanta, entre outras, Lotoro preparou um filme com o diretor
argentino Alexandre Valenti, que deverá ser lançado em abril deste ano.
As gravações foram feitas em 16 países, entre eles o Brasil,
onde, em agosto de 2015, Lotoro encontrou-se com Bela Lustman, uma polonesa de
85 anos sobrevivente do Holocausto e residente no Rio de Janeiro.
Aos 14 anos, quando era prisioneira do campo de trabalhos
forçados de Pachnik, na antiga Tchecoslováquia, ela e duas amigas compuseram
uma canção sobre as cruéis condições de vida às quais eram submetidas pelos
nazistas por serem judias.
Outro polonês naturalizado brasileiro a integrar a lista de
canções do maestro é Aleksander Laks, morto em julho do ano passado, aos 88
anos. Embora tenha falecido poucas semanas antes da visita do maestro italiano,
Laks já havia registrado suas memórias musicais com os produtores do
documentário.
Recentemente foi lançada uma campanha internacional para
recuperar mais de 10 mil músicas compostas em campos de concentração que,
segundo estimativas de estudiosos, continuam desconhecidas.
"Espero conseguir em breve uma sede adequada, onde qualquer
pessoa possa acessar, conhecer, reproduzir e manter vivo este rico tesouro
cultural", disse Lotoro.
Um comentário:
Ninguém, com um mínimo de consciência, pode defender o holocausto, nem minimizar a imensa crueldade praticada pelos nazistas. Contudo, é preciso uma análise um pouco mais profunda do que a simples vitimização, sem que razões importantes sejam consideradas. Acho que, com um pouco de senso crítico, há que se perceber que nada existe no reino humano, sem que uma razão lógica explique cada evento da gravidade do holocausto. Insistir que tal fato é uma ação gratuita de um povo inspirado na condução desequilibrada de um líder, é cair na superficialidade analítica sem contribuir para o aproveitar o legado precioso que a história nos propicia.
Analisando a ação de determinados povos, que migram para territórios alheios e lá se estabelecem de forma definitiva formando corporações estruturadas, é possível observar que o resultado sempre gera conflitos facilmente explicáveis pela ação da sinergia produzida pela corporação agindo contra a sociedade hospedeira.
Compor uma sociedade fechada, significa discriminar os elementos fora da corporação. Significa ainda usufruir da sinergia do hóspede gerando nova sinergia que discrimina os componentes da sinergia hospedeira. Tal efeito parece até pouco significativo para quem não tem consciência exata do poder da sinergia, mas seus resultados são poderosíssimos.
Aliás, um judeu há muitos séculos passados, certa vez caracterizou muito bem o conteúdo pernicioso do corporativismo quando disse: "minha mãe, quem é minha mãe? meus irmãos quem são meus irmãos?" como quem diz, nem o corporativismo consanguíneo é cabível num convívio verdadeiramente fraterno. O resultado disso tem se repetido frequentemente.
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