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Por José Maurício de Barcellos
A chamada sétima arte, que no presente vem sendo tão aviltada
pela falta de talento e pela mediocridade, já brindou o mundo no passado com
produções grandiosas que trouxeram cenas magníficas. Dou o exemplo de duas
extraordinariamente marcantes em face da força dos momentos que revelam. Outras
tantas o caro leitor lembrará melhor.
A primeira se assiste no filme “O Poderoso Chefão”, dirigido por
Francis Coppola, que conta a saga de uma família de mafiosos na América das
décadas de 1920 e 1930, e que marca o ápice da carreira de Marlon Brando que se
consagrou como ator interpretando o poderoso e, na época, o “glamoroso capo de
tutti capi”, Dom Corleone, em sua longa trajetória de vida, para no final se
transfigurar magistralmente na pele de um velho, doente e cansado siciliano da
província já retirado dos negócios, distraindo o neto no fundo do pomar de sua
fortaleza quando, por mal súbito, é colhido pela morte e cai por terra. Ao ver
o avô caído em meio à plantação de tomates o pequenino se afasta inocentemente.
A câmera de Coppola amplia um grande plano aberto (long shot) e registra o
enorme silêncio do fim de uma controvertida figura e o de uma era fantástica.
Silêncio de morte. Quem viu não esquece, quem não viu não sabe o que perdeu.
A segunda, mais curta e sutil, mas não menos marcante surge no
filme de Sidney Lumet, dirigindo verdadeiros monstros do cinema como Albert
Finney, Ingrid Bergman, Lauren Bacall, Sean Connery e um extraordinário desfile
de astros encenando, em “O Assassinato no Orient Express” as peripécias do
lendário inspetor Hercule Poirot, herói da grande romancista inglesa Agatha
Christie. Logo na primeira parte do filme e da viajem de Istambul para Europa,
Poirot já recolhido para dormir ouve vozes e barulhos característicos vindos de
bem próximo. Levanta-se apressado do leito, abre a porta da Cabine 9 e é
confrontado pelo surpreendente silêncio no longo corredor do “Vagão Pulman para
Calais, na França”. Observa atento com seu faro de velho perdigueiro e
sussurrando diz para si mesmo, entre dentes: “Sinto um enorme silêncio. Um
silêncio de morte.”. A cena seguinte revela, ao amanhecer, o assassinato de um
passageiro milionário, doze vezes esfaqueado. Além do impressionante luxo e do
requinte do trem “Expresso Para O Oriente”, tudo o mais é inesquecível.
As lembranças daquelas encenações me chamam a atenção para os
tempos de agora. No meio político nacional há um estranho silêncio. Silêncio de
morte. Morte da democracia brasileira.
Não estou vendo as velhas quadrilhas de Sarney, Collor, Lula,
Dilma, Temer com os descarados do PMDB, FHC com os sorrateiros tucanos e outras
de menor tamanho, mas igualmente nocivas e perigosas rotuladas também de
agremiações políticas, se confrontando abertamente ou se estranhando entre si.
Estão todos quietos. Ouço barulhos nas folhas, mas não vejo os bichos no mato.
São experientes e matreiros predadores à espreita da caça. A presa somos nós de
quem querem roubar a oportunidade de uma vida melhor. Daí o silêncio. “Un
silence de mort”, como diria Poirot.
Percebam como se esconderam os movimentos sindicais e sociais.
Vejam como estão calados, tais quais pássaros na muda, os oligarcas da
impostura. Registrem como os corruptos da coisa pública desapareceram como a
fumaça no vento. Notem como os calhordas mirados pela Lava Jato mergulharam e
nem para respirar vêm à tona. Pobre dos cidadãos de bem que não enxergam por
debaixo da mansidão dos lagos de Brasília.
Estão todos mudos, de cabeça baixa, porém é certo que não estão
inertes. Ao que tudo indica e diz a experiência no trato com esses patifes, que
por de trás deste marasmo um grande acordo está se construindo, isto é, um
enorme pacto entre o populismo e o negocismo está sendo avaliado e costurado,
com objetivo de manter íntegra essa classe política desprezível, tanto quanto
bem protegidos todos os corruptos com seus corruptores e a máquina pública
burra, ineficiente, caríssima e desonesta funcionando e livre de qualquer
medida ou ação contra os desmandos e a exploração da coisa pública, com as
quais um dia voltamos a sonhar.
A propósito. Parece que os acordos regionais, entre as facções
das quadrilhas do PT e do PMDB, já começaram.
Por onde andam a esquerda corrupta e os chupins do erário? Cadê
a direita voraz e aproveitadora e essa gente toda que não se acusam mais,
disputando espaços? Contudo, não se iludam, quando as eleições do final do ano
chegarem já terão repartido os cofres públicos entre eles e tudo
silenciosamente.
“Diz muito o silêncio, diz mais que as falas”, porque depois das
palavras a segunda força do mundo é o silêncio, um dia disse o escritor e dramaturgo
português Visconde de Almeida Garrett.
Há um silêncio. Um silêncio de morte. Resta saber se nós os
cidadãos de bem vamos nos quedar também silentes esperando o enterro da chance
de mais justiça e plena igualdade nesta “Terra Brasillis”.
Jose Mauricio de Barcellos -
ex Consultor Jurídico da CPRM-MME é advogado. Email: bppconsultores@uol.com.br
Um comentário:
Um dos mais brilhantes textos que li recentemente sobre a presente situação nacional. Meus parabéns ao autor e sugiro que sua matéria seja mais ampla e profundamente divulgada por várias mídias. Mais um vez PARABÉNS!!!
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