“Não temos a
mídia, mas temos o amigo para substituí-la.”
General
Torres Mello -Grupo Guararapes
Por Waldo
Luís Viana
Outro dia
zapeava, despreocupado, a TV a cabo, aqui em Teresópolis, quando me deparei com
o canal 21, universitário, se não me engano. Lá havia horário cedido ao
Instituto Militar de Engenharia – IME. Logo parei, esperando assistir alguma
coisa importante sobre as Forças Armadas ou sobre nossa política militar. Qual
não foi minha surpresa, mas se apresentava um conjunto de pagode, com mulher no
cavaquinho. Aliás muito afinada!
Desafinado
ou deslocado era o programa, em forma e fundo. Que estaria fazendo o bom samba
em horário do IME? E pensar que houve uma ditadura militar, com uma outra
ditadura da Rede Globo por dentro, e os militares não tiraram nem uma lasquinha
televisiva de tudo isso!
Terminou o
regime militar (1985) e Exército, Marinha e Aeronáutica não receberam para si
nenhum canal de comunicação privativo para externar as próprias idéias à
sociedade civil, sedenta de curiosidade para saber o que fazem.
Os militares
ficam hoje, por meios isolados, reclamando de que o atual governo quer cobrar a
fatura das torturas e continuar perseguindo os militares de direita,
anticomunistas de pijama e que ainda sobrevivem por aí, na reserva. E o povo
brasileiro, por sua vez, continua alienado de propósito sobre o que fazem as
nossas Forças Armadas. Não conhece os seus centros de excelência nem tem a
menor idéia do grande trabalho que realizam.
Durante a
minha juventude, que já vai longe, ouvia os empresários se reunirem preocupados
com a “proletarização” das Forças Armadas. Hoje, não há setor da vida
brasileira mais proletarizado que o militar, constituído de forma autêntica de
amostras legítimas da população, mas não da opinião pública nem da opinião
publicada.
Afinal de
contas, os militares praticaram um contragolpe vitorioso em 1964, contra a
comunidade protocomunista internacional, ficaram com a faca e o queijo na
mão, e não lhes sobrou nada do antigo poder, em termos de comunicação de massa.
Os poderes
executivo, legislativo e judiciário obtiveram canais de TV e rádio, alguns
sindicatos e universidades, também. Católicos e evangélicos mantêm o
proselitismo em vários canais abertos e a cabo, mas os militares, não. Pelo
visto as Forças Armadas, do ponto de vista da comunicação, não são consideradas
um poder! São censuradas por si mesmas e as tais políticas de defesa, que andam
circulando por aí, não fazem qualquer menção ao domínio e exploração de canais
de comunicação digital.
As Forças
Armadas, em qualquer país desenvolvido, são consideradas a vanguarda tecnológica
e de pesquisa das nações. Nos Estados Unidos, os militares disputam em feiras,
com estandes explicativos em concorrência com grandes empresas, a atenção dos
jovens para que entrem e façam carreira nas Forças Armadas.
Aqui, temos
centros de beneficiamento de urânio, controlados pela Marinha, um centro
aeroespacial no Maranhão, que, graças a Deus, não conseguiu ser privatizado
pelo governo anterior, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e várias escolas
superiores de Engenharia do Exército, que espalharam o melhor ensino de
excelência que temos no Brasil. No entanto, todo esse trabalho silencioso, que
nos faz respeitados até por outras forças armadas no exterior, não é
reconhecido por nenhum folião brasileiro, que sacode os peitos e as nádegas no
Carnaval, em fevereiro...
Até quando
os militares irão ficar pedindo desculpas por existirem, sendo perseguidos por
erros do passado? Houve torturados, sim; já embolsaram as indenizações devidas,
claro que sim; alguns dizem que não, mas entraram com processos e fizeram
associações e ONGs. Mas a indústria da tortura e da anistia irá até quando? Eu
tinha quinze anos quando começou o governo Médici, o que é que tenho a ver com
isso? E, se tenho 53 anos hoje, atrás de mim existe a maioria da população brasileira
que não teve nada a ver com as brigas dos atuais ex-guerrilheiros, que estão
mamando nas tetas do poder, e os velhos militares anticomunistas que sofrem,
com nostalgia do passado.
Deveríamos
todos dar um passo à frente e começar de novo, anistiando-nos mutuamente, e
fazer um país sem cotas ou divisões. São todos brasileiros, andando no mesmo
trem em alta velocidade para o futuro e a vida não comporta passar o tempo todo
olhando pelo retrovisor.
Houve mortos
dos dois lados, numa guerra que os ex-guerrilheiros querem retomar e vencer a
qualquer custo, indo à forra, quando não há mais guerra, quer dizer, quando “o
outro lado não mais existe”, é constituído por outra geração de funcionários
resignados, oferecidos, acovardados e amuados pelo próprio governo representado
pelos perdedores, ora vitoriosos. Essa irônica situação histórica só pode mesmo
ser contada em quadrinhos, jogos de armar ou programas de humorismo, samba
e pagode...
Enquanto
tivermos um poder militar, contido por um Ministério da Defesa civil, que não
interpreta os anseios e interesses reais dos militares brasileiros; enquanto
tal ministério for bifronte, com cada pé numa jangada, servindo a dois
senhores, jamais teremos doutrina de defesa, a não ser os arremedos que estão
aí, construídos como protocolos de intenção teórica de civis despreparados,
incompetentes e acovardados.
Nesse estado
de coisas, os contingentes de homens e mulheres, que deveriam prestar à Nação
as melhores aulas de cidadania e coragem, estão completamente preocupados em
bancar meros técnicos em suas funções, tecnocratas neutros e servis,
prisioneiros da covardia de quem se habituou a ficar em silêncio obsequioso,
somente quebrado pelas nobres esposas dos representantes da caserna, quando não
recebem um aumentozinho de salário. E submetidos a um poder civil que se
considera onipotente, como tal, como se fosse o último bastião da decência e da
moral públicas. O resultado todos vemos: é a entropia e confusão que aí está!
Para onde
vamos com essa situação não sei. Sei que ao ver um sambinha gostoso, em horário
militar, as questões profundas de defesa da Pátria continuarão sem ser tocadas.
Houve um filósofo que nos disse que o patriotismo é o último refúgio dos
canalhas. E a covardia, seria refúgio de quem?
Waldo Luís Viana
é escritor, economista, poeta e tem tanta coragem quanto mulher de militar.
Detalhe: Artigo originalmente escrito em 3 de junho de 2009 e que volta a
circular na internet...
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