Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Fernando Trevisan
O futebol
brasileiro nunca gerou tanto dinheiro para os clubes. A receita aumentou num
ritmo bastante acelerado nos últimos dez anos, devendo alcançar cerca de R$ 3 bilhões
em 2012, segundo estudo do consultor Amir Somoggi. Esse avanço, no entanto, não
impediu que o nível de endividamento desses mesmos clubes crescesse quase
quatro vezes no período, chegando a incríveis R$ 4,7 bilhões.
O que esses dados
mostram claramente é que os avanços obtidos na captação de maiores e novas
receitas não foram acompanhados por um processo de profissionalização das
estruturas de gestão que permitisse uma situação financeira mais confortável e
sustentável. Além disso, o faturamento ainda está distante do patamar da
Europa, o que indica haver um potencial grande de expansão, principalmente
utilizando melhor o poder de consumo do torcedor.
O
salto das receitas no Brasil deu-se basicamente por conta dos valores das cotas
de patrocínio e das vendas dos direitos de transmissão. Esses dois itens juntos
representavam em média um terço da arrecadação total dos clubes cinco anos
atrás; hoje já significam mais da metade. Com exceção do que é obtido com as
transferências de atletas, todos os demais recursos advêm diretamente dos
aficionados: bilheteria, programas de sócio-torcedor e produtos licenciados.
São exatamente essas fontes vinculadas ao que há de mais valioso para um clube
— a fidelidade de seu torcedor — que não se desenvolveram como poderiam nos
últimos anos.
Em
primeiro lugar, é importante ressaltar que ainda estamos muito distante do
patamar de receita da Europa. Os dez maiores clubes daquele continente
arrecadaram na temporada 2011/2012 quase cinco vezes mais do que os dez
principais do Brasil, segundo o estudo Deloitte Football Money League 2013.
Dados ainda não oficiais de 2012 indicam que o maior clube brasileiro em termos
de faturamento deve aproximar-se apenas do 19º do ranking europeu, a Roma da
Itália. E isso mesmo levando em conta o forte aumento dos valores dos direitos
de transmissão ocorrido em nosso país, cuja renegociação recente propiciou ao
Corinthians, por exemplo, um crescimento de 100% nessa fonte de receita de um
ano para o outro.
Por
outro lado, a taxa de crescimento das receitas no Brasil tem sido muito mais
alta do que na Europa. Os top 10 clubes nacionais aumentaram em 23%
suas receitas no último ano; na Europa esse índice foi de apenas 12%, e dois
dos dez maiores do continente tiveram inclusive queda, o que não aconteceu com
nenhum dos brasileiros.
Porém, se os
valores de patrocínio e de direitos de transmissão parecem estar próximos de um
teto por aqui, o trabalho para aumentar a arrecadação diretamente com os
próprios torcedores ainda engatinha. Enquanto os europeus geram 22% da sua
receita total com o que seus torcedores gastam em dias de jogos, por exemplo,
no Brasil esse número é de 8%.
Dois
movimentos recentes sinalizam uma possibilidade concreta de reversão desse
quadro. Primeiramente, a possibilidade real de atrair mais torcedores para os
estádios a partir de instalações esportivas mais modernas, adequadas, seguras e
confortáveis. O maior produto atual do cenário futebolístico brasileiro, o
Campeonato Brasileiro, atraiu menos de 15 mil pessoas por jogo em 2012,
deixando vazia mais da metade do estádio.
E o pior é que nos
últimos dez anos esse número nunca passou de 18 mil, enquanto na Inglaterra o
público médio é de 34 mil, o que significa 92% de ocupação. Os 14 estádios que
estão sendo reformados ou construídos no momento a partir de padrões
internacionais de qualidade tornarão estes espaços muito mais atraentes para o
torcedor, o que pode indicar, finalmente, um aumento na presença de público. Se
obviamente esse não é o único fator de atração, pelo menos é uma variável
relevante e capaz de produzir impacto positivo.
Em
segundo lugar, parece haver no mercado um processo de fortalecimento dos
programas de sócio-torcedor. Além de vários clubes terem lançado e impulsionado
os seus programas nos últimos tempos, foi criado este ano o projeto “Movimento
por um Futebol Melhor”, por um grupo de empresas varejistas, que visa conceder
descontos nos seus produtos para os participantes dos programas de
sócio-torcedores de pelo menos 22 clubes. O objetivo do movimento é
audacioso: aumentar o número de sócios-torcedores dos atuais 350 mil para 3,5
milhões até 2015, injetando um adicional de R$ 1 bilhão por ano nos cofres dos
clubes. E, é claro, tornando estes consumidores fiéis a suas marcas e produtos.
Se
incluirmos nesse cenário o desenvolvimento do mercado de produtos licenciados,
que também parece finalmente entrar em marcha no País, teremos certamente um
aumento da arrecadação dos clubes com o seu torcedor. Por consequência, haveria
uma distribuição mais equilibrada entre as diferentes fontes de receita,
diminuindo a dependência em relação a patrocinadores e detentoras dos direitos
de transmissão e aumentando a importância do valor do torcedor dentro das
finanças dos clubes. Naturalmente, os clubes passarão a dar mais atenção
exatamente para aquele que é de fato o seu maior patrimônio - o torcedor, e
contribuindo para um panorama mais virtuoso para a indústria do futebol
brasileira.
Fernando
Trevisan é pesquisador e consultor da Trevisan Gestão do Esporte.
2 comentários:
O futebol brasileiro hoje é um produto feito para a TV. Os times se acostumaram (acomodaram) com a verba da TV e hoje são praticamente escravos deste modelo.
Os clubes atualmente se tornaram refém da verba da TV. Hoje o futebol brasileiro é um produto feito para a TV. E os clubes se acomodaram recebendo essa verba. Com jogos às 22:00 hrs, o público só tende a diminuir.
Postar um comentário