Por
Marcos Bueno
Ao
longo dos últimos dois anos tenho publicado neste Alerta Total quatro artigos a
respeito dos problemas logísticos e falta de infraestrutura da capacidade
brasileira em sediar uma Copa do Mundo. As notícias de três acidentes recentes,
um deles de proporções gravíssimas, gerou mais preocupação a respeito desta
capacidade.
Começando
pelo mais grave de todos: o trágico incêndio da boate Kiss no município de
Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Uma sucessão de erros e omissões resultou em
233 mortos só na noite do show de uma banda que utilizava fogos de artifício em
um local fechado com capacidade para 691 pessoas, embora haja indícios de uma
lotação com mais de 1000 pessoas no local.
O
que o leitor pode estar se indagando é sobre o que este problema teria a ver
com a Copa do Mundo no Brasil. Em primeiro lugar, denuncia-se a incapacidade
das autoridades e empresários brasileiros em gerenciar adequadamente uma
instalação que, seja em Santa Maria ou em São Paulo ou Rio de Janeiro,
colocaria em perigo a vida ou a integridade física de qualquer cidadão,
estrangeiro torcedor de sua seleção ou do Brasil mesmo.
Como
o objetivo deste e dos demais artigos que publiquei está direcionado para os
problemas estruturais brasileiros para a Copa de 2014, aqui coloco em xeque o
que poderá acontecer em qualquer outro estabelecimento (seja durante ou não a
Copa) como bares, restaurantes, cinemas, shoppings ou casas de shows. Acredito
que o torcedor estrangeiro ou não, em uma copa do mundo não vai se limitar a
apenas assistir jogos. Ele vai ocupar seu tempo, por mínimo que for, com outros
atrativos nas cidades. Isto denuncia o descaso e omissão do empresariado
brasileiro com as condições de serviços oferecidos em seus estabelecimentos.
Como
se desgraça pouca fosse bobagem eis que dias depois outro acidente ocorreu no
recém-reformado estádio Olímpico em Porto Alegre. Uma grade de proteção, que
estava apenas parafusada no concreto e de forma evidentemente bastante frágil, rompeu-se
quando a torcida do Grêmio comemorou um gol em uma celebração conhecida como
“avalanche”. O resultado foram doze pessoas feridas, felizmente nenhuma em
estado grave.
O
que mais se discute na imprensa é a questão do controle da torcida em atos considerados
tradicionais como o da típica comemoração do gol pela torcida gremista. Oras,
se o tipo de comemoração já é conhecido, então há uma atitude de risco também
conhecida e que pode ser controlada ou simplesmente coibida, por pior que esta
proibição pareça.
Para
quem estuda ou já se formou em administração ou engenharia, sabe que há mais de
50 anos atrás os japoneses criaram o Poka Yoke, que é um dispositivo à prova de
erros. Este dispositivo poderia variar desde grades intermediárias que já são
implementadas em estádios na Argentina, como também a concretagem e chumbamento
das grades e não apenas fragilmente parafusadas. Mais uma vez que o leitor pode
estar se indagando é sobre o que este problema teria a ver com a Copa do Mundo
no Brasil. Lembro que este erro pode ocorrer em maior ou menor grau em qualquer
outro estádio em obras que está por finalizar e ser entregue em breve.
Agora
mudando o foco para dois estádios recém-entregues para a Copa do Mundo, os
problemas não são muito diferentes.
Após
dois anos de obras, o torcedor cearense pode enfim conhecer as novas
instalações do Castelão. Embora tecnicamente não fossem identificados problemas
no estádio, os tumultos no entorno, como pedradas contra um carro de uma
emissora de TV local e conflitos entre torcedores de Fortaleza e Ceará nas
proximidades foram algumas das ações de vandalismo que marcaram os jogos de
reabertura do estádio. Uma viatura da polícia sofreu um atentado com bomba.
Do
lado de fora do estádio muita coisa está por ser terminada e a mais gritante
delas são as obras de mobilidade que melhorarão as vias de acesso ao estádio. A
Avenida Alberto Craveiro, que serviu de acesso aos torcedores do Ceará, teve um
trecho interditado e parte da pista leste obstruída por causa das obras. Do
outro lado, o mesmo cenário: duas avenidas com trechos interditados por causa
da construção do túnel da rotatória em frente ao Castelão. Vale lembrar que
foram vendidos apenas 40000 ingressos de um total disponibilizado de 55000
ingressos, sendo que a capacidade do estádio projetada para a copa é de mais de
63000 lugares. Isto nos dá a dimensão do problema para um público esperado
durante a copa de 50% acima do que foi neste jogo.
Para
finalizar, vamos ao Mineirão. Lá a história não foi muito diferente. Trânsito
congestionado, bares fechados e falta de água e luz, entre outros problemas
operacionais. O estacionamento só foi aberto às 15h. Teve torcedor que desistiu
de assistir o jogo e saiu no intervalo, pois não aguentava ficar naquele calor
sem água. A alegação da gerência é de que os bares ficaram fechados por falta
de tickets para venda dos produtos.
Ricardo
Barra, gerente operacional do estádio, assumiu a culpa e identificou falhas na
preparação do estádio para sua reinauguração.
Pode-se
concluir que nos quatro casos citados há um misto de falta de planejamento,
omissão, falhas técnicas e descaso.
Temos
desde falhas primárias como a falta de planejamento para entregar simples
tickets oriundos de uma gráfica para os bares ou estruturais como o tipo de chumbamento a ser utilizado na grade de um estádio.
Mas
o problema maior é que todos estes erros observados não aconteceram somente
agora. Já há tempos estamos vendo o mesmo filme se desenrolar.
Marcos Bueno, formado em Economia e mestre em
Engenharia de Produção e especialista em Logística, é Professor universitário.
6 comentários:
Se não bastasse somente o descaso, a corrupção e etc, ainda temos a omissão da sociedade que assiste a tudo isso e omite-se a fazer algo para mudar este quadro.
Fora de dos casos (sedes) citadas no artigo, esta São Paulo que vai ter a responsabilidade de ser o lugar onda vai acontecer a apertura da Copa. O estadio esta sendo construído na zona leste e grande parte da infra-estrutura turística (hotéis, bares, restaurantes, etc.) esta na zona oeste.
A logística para o traslado do turista e do torcedor local é uma das grandes questões. Se a população da cidade em dias normais já coloca em xeque o transporte público, imaginemos durante a copa.
Fora de dos casos (sedes) citadas no artigo, esta São Paulo que vai ter a responsabilidade de ser o lugar onda vai acontecer a apertura da Copa. O estadio esta sendo construído na zona leste e grande parte da infra-estrutura turística (hotéis, bares, restaurantes, etc.) esta na zona oeste.
A logística para o traslado do turista e do torcedor local é uma das grandes questões. Se a população da cidade em dias normais já coloca em xeque o transporte público, imaginemos durante a copa.
Fora de dos casos (sedes) citadas no artigo, esta São Paulo que vai ter a responsabilidade de ser o lugar onda vai acontecer a apertura da Copa. O estadio esta sendo construído na zona leste e grande parte da infra-estrutura turística (hotéis, bares, restaurantes, etc.) esta na zona oeste.
A logística para o traslado do turista e do torcedor local é uma das grandes questões. Se a população da cidade em dias normais já coloca em xeque o transporte público, imaginemos durante a copa?
Infelizmente nosso país e nosso povo não aprende e não tem uma cultura de regulação, ou seja, de avaliar seriamente os ocorridos e o que está para ocorrer.
Infelizmente nosso pais e o povo brasileiro não tem o hábito de avaliar o que aconteceu e o que acontecerá, com isso os sucessivos erros e é claro que boa parte das coisas são feitas para dar tempo e não para se ter por muito tempo.
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