Por Dora Silvia
Cunha Bueno
O Brasil está
vivendo um momento importante e ao mesmo tempo inquietante de mobilização
popular. Simultaneamente ao justo clamor suprapartidário e ordeiro por
melhorias na saúde, ensino, transportes e outros serviços públicos, bem como
pela redução da criminalidade e corrupção, verificam-se radicalismos
anacrônicos em relação à nossa estrutura institucional. Não se aceitam mais os
saques, depredações, violência, interrupção de vias e invasões de propriedades
privadas ou do Estado como forma de expressão de um povo livre.
Esse tipo de ação
não cabe no contexto civilizatório e é desnecessário, pois a grande virtude da
democracia é o dever dos governantes de ouvir as revindicações da sociedade e
as atender na medida do possível e da gestão responsável. Percebemos que, de
modo rápido, os poderes Executivo e Legislativo, nos municípios, estados e
União, prontificaram-se a receber lideranças dos movimentos, dialogar e adotar
providências, como a anulação do reajuste das tarifas de transportes em São Paulo,
a aprovação do projeto que destina os royalties futuros do petróleo à saúde e
educação e a reforma política.
É importante
traduzir à opinião pública que essas medidas respondem às principais
reivindicações das ruas: os royalties do petróleo garantirão, paulatinamente,
recursos para saúde e educação em patamares que talvez jamais tenhamos
alcançado. E a reforma política, sem bem conduzida, poderá mitigar algumas das
principais causas da corrupção, em especial as ligadas ao financiamento das campanhas
eleitorais, às votações no Parlamento e ao fisiologismo às vezes presente nas
brechas da infidelidade partidária.
Esses exemplos
demonstram o quanto estão sendo exitosas as manifestações populares e, ao mesmo
tempo, o quanto é inaceitável e desnecessária a baderna como forma
de expressão do povo. Evidenciam, também, ser preciso ampliar a interlocução da
sociedade com o governo, de modo que fique mais clara a importante relação de
causa-efeito entre o clamor popular e a ação dos poderes constituídos.
Nesse processo
interativo, configura-se um espaço a ser cada vez mais ocupado pelas fundações
e entidade do Terceiro Setor em geral. Conhecedoras profundas das demandas
sociais, educacionais, de saúde, culturais e de assistência em múltiplos
segmentos mais carentes do País, essas instituições também desfrutam de canais
fluidos e capacidade de diálogo com o governo. Assim, sua atuação torna-se
ainda mais importante, neste momento em que é fundamental ordenar de modo mais
claro e organizado o clamor das ruas perante as instâncias municipais,
estaduais e federal dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Estamos diante de
um momento muito rico de avanço de nossas instituições. Não devemos
desperdiçá-lo, como se fosse uma ruptura da democracia nascida na campanha das
“Diretas Já”, em 1984, e sacramentada na Constituição de 1988. Nesse processo,
o Terceiro Setor tem missão crucial, o que torna ainda mais relevantes os seus
colóquios e oportunidades de diálogo e análise, como o 8º Encontro Paulista de
Fundações (13 de setembro, no Espaço Sociocultural CIEE, na cidade de São
Paulo), em cuja pauta as manifestações em curso no País terão ênfase.
Sem dúvida, às
fundações e entidades do Terceiro Setor, cujo papel já tem sido expressivo na
busca de soluções para o progresso socioeconômico, cabe especial missão neste
momento de ebulição popular, efervescência democrática e múltiplas
reivindicações da população: agirem como captadoras dos anseios dos segmentos
em que atuam e mediarem sua interação com o poder público.
Dora
Silvia Cunha Bueno é a presidente da Associação Paulista de Fundações (APF).
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