Por Milton Pires
Meus amigos, imaginem um sujeito..qualquer sujeito..alguém que não
chamaria à atenção de mulher alguma pela sua beleza ou de homem pela sua
força... alguém que merece mais do que qualquer outro o título de “sujeito
comum”.Imaginaram?
Pois bem, o que vocês diriam se eu afirmasse que esse cara é capaz de
entrar dentro de sua casa, colocar dois dedos dentro da vagina de sua mulher, e
afirmar que seu filho está nascendo? Que impressão ficar de uma criatura cujas
funções incluem dizer se um juiz deve ou não ficar afastado do trabalho?
Que tamanho tem o poder de alguém que introduz um dedo dentro do seu
ânus e conclui se você tem ou não possibilidade de ter câncer de próstata? O
que dizer, depois de tudo isso que escrevi, que o tal sujeito ainda quer lhe
cobrar por fazer esse tipo de coisa?
Comecei esse artigo dessa maneira mais grosseira para dizer que nós,
médicos e nossos “poderes”, habitamos o inconsciente das pessoas. Isso é assim
desde que o mundo é mundo! Brincadeiras sexuais de criança levam o nome da
nossa profissão...ditados como “de médico e de louco” atravessam o tempo sem
saber quem inventou e por aí vai, né?
“Pois é, Milton..grande coisa..e daí?” Daí o seguinte, meus colegas:
apesar de parecer conversa do tipo “chover no molhado” esse meu tipo de
discurso tocou só naquilo que é senso comum, né? E a outra parte? E o custo de
tudo isso? E o preço de sustentar na sociedade esse tipo de visão?
Sabem o que acontece? Vou dizer a vocês! Acontece que o tal “sujeito” lá
do primeiro parágrafo deve ser alguém “acima do bem e do mal”, né? Como pode,
no imaginário universal, um médico ter contas a pagar? Como pode um de nós se
deprimir? Como pode um médico beber demais, ficar com tesão, ou precisar
dormir, hein??
Se tudo isso que pergunto aqui faz parte da nossa condição humana e não
é reconhecido, como esperar dos brasileiros o entendimento sobre falta de
hospitais, de medicação, exames, plano de carreira..enfim, dessa nossa conversa
toda que vocês conhecem muito melhor do que eu?
Vejam bem, escrevo esse artigo com um propósito muito simples – provar
de maneira irrefutável ao “movimento médico” que “contar com o apoio da
população” para nos ajudar contra os petralhas é um absurdo sem nome!
Meus colegas, no início dos tempos, nós sequer tínhamos salários... Nós
começamos nossa história vivendo dentro de palácios e hoje acabamos no Facebook
(já escrevi sobre isso uma vez). Não há, eu repito, não HÁ chance alguma de
pessoas comuns nos entenderem. Estou escrevendo isso em Porto Alegre com uma
temperatura de 6 graus positivos...
Em Manaus, essa hora da manhã, o calor já é um verdadeiro inferno...nem
mesmo nosso português é parecido... Mas vocês sabem o que nos torna iguais? Eu
explico – em alguma emergência imunda, tanto aqui quanto no Amazonas, algum de
nós está quase duas noites sem dormir e envolvido com alguém numa maca velha
que deveria estar dentro de uma UTI e provavelmente em ventilação mecânica!
Os malditos petralhas, alguns nossos colegas, sabem disso mas a família
dessas pessoas não. Para eles esse papo de transferência, de cuidados
intensivos, de falta de leitos ou de material não importa coisa alguma! Eles
jamais vão entender o que sentimos ao vermos uma pessoa morrer por
responsabilidade de um Estado criminoso. Para 90% da população brasileira, tudo
é uma questão de “boa vontade dos médicos”!
Apelo a vocês aqui – ajudem a acabar com isso! Mostrem aos brasileiros o
tamanho dessa fraude chamada SUS...desse sistema imundo de saúde criado para
atender “brasileiros de segunda categoria” com uma “medicina de terceira”. Não
ataquem somente os petralhas mas mostrem aos pacientes que o próprio SUS nasceu
com eles... Com gente do Partido Comunista que esteve em Alma Ata em 1979 e
trouxe esse delírio aqui pra nós. Insistam que enquanto uma pessoa de bem, que
trabalhou a vida toda pagando seus impostos agora agoniza numa emergência
imunda, assassinos e traficantes tem leitos disponíveis de graça em qualquer
UTI do nosso país!
Meus amigos, chegou a hora de dizermos claramente as pessoas que saúde
não é uma questão médica! Que saúde não é uma questão de higiene! Que saúde não
é uma questão de educação nem de saneamento! SAÚDE NO BRASIL É UMA QUESTÃO DE
JUSTIÇA! Ou terminamos com mentiras que colocam esse elefante sobre nossos
ombros, ou vamos continuar sendo atacados para sempre.
Nós mesmos ajudamos a inventar esse monstro chamado SUS... Essa
aberração defendida por quem afirma que “qualquer atendimento é melhor do que
nenhum” (desde que para si e sua família
seja o melhor de todos, né?) Agora estamos sendo esmagados! Um bando de
“profissionais da saúde” (certamente a minoria deles mas politicamente muito
ativos) recalcados por não terem sido médicos está nos estraçalhando “em tempo
real”.
Um governo de mensaleiros e assassinos de prefeitos está usando disso
para dar força ao “Mais Médicos” e a população está caindo no jogo deles..Apelo
desesperadamente mais uma vez – não se trata aqui de salário, plano de carreira
ou condição de trabalho. É a própria profissão que está em jogo! É conosco que
esses bandidos querem acabar..Eles sustentam que somos uma raça de mercenários,
acima da vida e da morte que não dá “a mínima para os seus
pacientes”..Conseguiram o que queriam – nossa Medicina está doente!
Porto Alegre, 25 de julho de 2013
AVC (antes da vinda dos cubanos)
Milton Simon Pires é Médico.
2 comentários:
Como é possível que pessoas tão imorais pretendam moralizar alguma coisa? Pobre e infeliz povo brasileiro, explorado por todos os lados!!!
Doutor Milton,
O pior de tudo é imaginar uma pessoa "enfiando os dedos" em nossos orifícios, diagnosticando se temos alguma doença ou se nosso filho está para nascer, e, ao final, descobrirmos que, por conta dos vetos da presidANTA à Lei dos Atos Médicos, aquela pessoa é um enfermeiro ou um farmacêutico, que não possui formação para essa atividade.
Aí, sim, estaremos sendo VIOLENTADOS (sem beijinho nem vaselina, garanto)!!
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