Por Arthur Jorge Costa Pinto
As
críticas ao contexto da economia brasileira se ampliam com muita velocidade,
sendo elas procedentes de economistas, financistas e empresários, dirigidas à Presidente Dilma e ao seu fiel
escudeiro Guido Mantega.
As
contas públicas internas e externas demonstram evidentes deteriorações e
necessitam ser equacionadas; isso passa por aumento da carga tributária (36,5%
do PIB), se persistir o atual modelo de gestão. São referências incontestáveis
do descalabro que estamos contemplando, sentados na arquibancada da vida,
apreciando o exuberante picadeiro do circo petista.
Iniciamos
pelo letárgico combate à inflação, quando a preocupação do governo está mais
focada no índice do que nos efeitos inflacionários. A inflação continua
insistindo em forçar o teto da meta estabelecida, em virtude dos elevados
gastos fiscais, crescentes e expansionistas.
O
superávit primário mostra-se incapaz de refrear o crescimento da dívida;
provavelmente sem conseguir cumprir a meta anual, fortalecerá em conjunto com
outros indicadores relevantes o perigo de rebaixamento da nota brasileira pelas
agências de classificação de risco.
Um
programa de infraestrutura, ainda que atrasado, está finalmente caminhando
vagarosamente em função da demora em atrair capitais privados para os inúmeros
projetos que se encontram mofando nas prateleiras do Governo Federal.
O
desemprego desgarra-se com leniência das mínimas históricas e o saldo líquido
de geração de empregos formais de janeiro a novembro foi insignificante se
comparado aos últimos dez anos. O déficit nominal aproxima-se de 3,5% do PIB, o
pior resultado desde 2009.
As
vendas no varejo já ameaçam declinar com a queda do crédito e o endividamento
das famílias com o sistema financeiro atualmente é de 45,4%, o que, juntamente
com os juros praticados pelo BC, estão dando sinais de elástico crescimento.
O
Brasil acumulou, entre janeiro e novembro do corrente ano, um déficit de US$ 89
milhões na balança comercial, um péssimo saldo para esse período nos últimos
treze anos, segundo o relatório divulgado pelo Ministério de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
Apesar
de o país acumular déficit até novembro, tanto o Banco Central como os analistas
do mercado financeiro preveem que o Brasil terminará o ano com um superávit na
balança comercial em torno de US$ 1,3 bilhão. Se essa previsão se cumprir, a
nação registrará em 2013 um superávit muito inferior ao de 2012 (US$ 19,430
bilhões), que já tinha sido o pior resultado dos últimos dez anos; um exemplar
inchaço do déficit de conta corrente de 3,7% do PIB.
Nesse
ambiente pouco animador e com outros resultados que serão vistos adiante, o
empresário trava seus investimentos por aqui e começa a abandonar o Brasil.
Sem
falar da “contabilidade criativa”, uma maquiagem fashion, iniciada no ano
passado para esconder os indecorosos gastos do governo com a burocracia, os
cargos públicos e os ministérios, esquecendo-se de investir no que é
prioritário para que o país possa crescer de forma sustentável.
O
governo construiu uma perfeita simbiose falimentar entre o Tesouro e as
empresas públicas, tendo como exacerbação financeira os notáveis exemplos de
interferências em grandes empresas como Petrobras, Eletrobrás, bancos federais,
incluindo outras de menor porte, com respingos irresponsáveis em diversas
organizações privadas.
Além
do atributo da ineficiência que tende a desequilibrar suas finanças, as
empresas estatais constituíram focos de corrupção e de nepotismo que
realimentam muitos desempenhos negativos.
Faltam
alterações frequentes de marcos regulatórios e as “privatizações” (denominadas
concessões) estão alinhadas a empresas estatais ineficazes, o que impede um
maior interesse do setor privado.
Os
indícios dos obstáculos presentes na economia brasileira começaram a aflorar
silenciosamente desde o início do atual governo e já estamos recebendo há meses
suas consequências naturais, provenientes de um ultrapassado modelo econômico.
O
desempenho industrial não avança em função da ausência de investimentos do
setor privado nacional e dos potenciais investidores estrangeiros. Há queda nas
exportações e as empresas tornam-se menos competitivas para incursões no
ambiente externo.
O
jurássico economista e ex-ministro Antônio Delfim Netto, grande colaborador dos
governos militares, reconhecido nacionalmente como o ilustre “guru” dessa atual
gestão pública, converteu-se inesperadamente em um crítico áspero da atual
política econômica que segue com certa paridade a praticada nos anos milagrosos
da década de 1970. Ironicamente, profetizou que o Brasil corre o risco de
entrar numa “Tempestade Perfeita” – em Economia, dá-se esse nome à conjunção de
fatores internos e externos que podem abalar um país.
Esta
metamorfose, para o Prof. Delfim Netto, deverá ocorrer a partir do processo que
a economia global está aguardando com expectativa da reversão, com intensidade
variável, para mais ou para menos, da política monetária americana,
vigorosamente expansionista, praticada pelo FED – Federal Reserve (Banco
Central dos Estados Unidos) para fazer o país emergir da crise que eclodiu em
2008 e que provocou graves consequências em outras nações.
À
medida que menos dólares forem emitidos (a partir de janeiro de 2014, passará à
proporção de US$ 75 bilhões/mês) e que a oferta de moeda estrangeira escassear,
através do enxugamento dos estímulos monetários praticados, haverá
desequilíbrios nos principais ativos, especialmente no câmbio, juros e ações.
A
presidente Dilma necessita imediatamente dar um passo decisivo para a
recuperação da confiança, pois a desconfiança é fato repisado, mesmo que o
governo a todo instante tente desqualificá-la como iniciativa de profissionais
pessimistas.
As
sinalizações mais acentuadas dos notórios equívocos de política macroeconômica
e as experiências adotadas através de ações anticíclicas em nossa economia
estão sendo observadas e analisadas com muita percuciência pela vasta classe
empresarial reconhecidamente formadora de opinião pública.
O
fragoroso desempenho do PIB relativo ao terceiro trimestre divulgado há dias
atrás, apresentou uma contração de 0,50%, reflexo incontestável da nossa
fragilidade econômica.
O
raquítico crescimento da indústria em 0,1%, igualmente para o setor de
serviços, demonstra que ambos estiveram praticamente anestesiados. A
agricultura, que vinha se apresentando como a tábua de salvação do PIB
brasileiro nos trimestres passados, teve uma queda expressiva de 3,5% e a
composição bruta do capital fixo, que reflete a alavancagem futura, sofreu um
decréscimo de 2,2%.
A
taxa de poupança apresentada de 15% do PIB é irrisória para quem se compromete
a apresentar um robusto crescimento, apesar dos supostos juros excessivos
praticados pelo Banco Central. Da mesma forma, inclui-se também a taxa de
investimento que alcançou somente 19% do PIB.
Os
desempenhos pífios apresentados pelo PIB nos últimos trimestres referentes às
suas expansões e contrações, demonstram efetivamente a ineficiência
característica de um planejamento concebido para uma política econômica
direcionada estrategicamente para apresentar apenas desempenho no curto prazo.
Quando por acaso acontece o crescimento, este é de baixa consistência, o que
provavelmente deverá arrastar o país para o terceiro ano consecutivo sem
apresentar o êxito desejável.
É
imprescindível e inadiável harmonizar a política fiscal. O câmbio carece de um
fundamental equilíbrio e uma menor vigilância do Banco Central, buscando
aliviar a pressão inflacionária e, consequentemente, trazendo no curto prazo a
inflação ao centro da sua meta.
É
necessário, o quanto antes, um redirecionamento para um novo arquétipo
econômico, pois o atual se encontra exaurido. Este deve
ser bem menos intervencionista, trazendo no seu vácuo um amplo choque de
credibilidade patrocinado pelas autoridades brasileiras, denotando um sólido
comprometimento em realizar metas positivas e confiáveis, medidas eficazes que
corroborem o discurso da austeridade, levando assim, plena confiança aos
investidores privados e internacionais.
Estamos
entrando em um novo ano iminentemente eleitoral, com seu calendário impondo a
manutenção das políticas atuais, com boa parte das forças partidárias
convergindo para a reeleição da atual mandatária.
Quanto
mais o governo protelar os ajustes indispensáveis à nossa combalida economia,
mais profundas serão as necessidades de intervenções, o que ocasionará danos
implacáveis à sociedade brasileira e aumentará consideravelmente a
possibilidade de poder conciliar simultaneamente o famoso tripé – inflação,
gastos públicos e câmbio.
Seja
quem for o vencedor nas próximas eleições, teremos um 2015 caótico pela frente.
Que
Deus nos abençoe e proteja todos nós.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador,
com MBA em Finanças pela UNIFACS – Universidade Salvador.