Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Percival Puggina
Há poucos dias, em
Petrópolis/RJ, com a presença da ministra dos Direitos Humanos, realizou-se
evento para assinalar a desapropriação de um prédio identificado como centro de
tortura. No final da cerimônia, um coral cantou - adivinhe o quê? nosso Hino
Nacional? - não, o hino da Internacional Comunista, peça musical de fervor
revolucionário que chegou a ser hino oficial da URSS durante décadas. Cumprindo
a tradição, a performance foi acompanhada e aplaudida por uma plateia de punhos
cerrados e erguidos. Ninguém desafinou. Nem vaiou.
Dizer-se democrata e cantar o hino de uma
ditadura comunista é desinformar. A propósito, nenhum dos três livros que acabo
de importar chamou a atenção das editoras nacionais, apesar de sua cronométrica
e milimétrica aproximação à atualidade brasileira, inclusive com o ocorrido em
Petrópolis. São eles: Disinformation, que trata das técnicas para construir
imagens e versões, e solapar as liberdades; The Killing of History, a propósito
de como certas teorias sociais e críticas literárias estão matando os fatos; e
The Tyranny of Clichés, sobre como as esquerdas trapaceiam no conflito das
ideias.
Não seria fantasioso, de modo algum,
considerar que o mutismo a respeito dessas e de outras obras seja uma evidência
da realidade abordada nos três livros. Pergunto: não seria, também, por desejo
de desinformar, de matar a História e de vencer o debate trapaceando que não se
traduzem esses livros?
A hipótese explicaria muito bem, por
exemplo, a ocultação pela mídia nacional de "Camaradas", obra de
William Waack, escrita após minuciosa pesquisa nos Arquivos de Moscou, com foco
na estratégia e na influência da URSS sobre a atuação dos comunistas no Brasil
durante a primeira parte do século passado.
Tanto se desinforma, se vandaliza a
História e se trapaceia no debate de ideias que hoje ninguém duvida da
influência e da participação da CIA nos atos e fatos de 1964. Ao mesmo tempo,
sequer entra em cogitação a óbvia consequência disso: que tenha havido
simétrica influência e participação soviética na América e no Brasil.
Entre 1945 e 1991,
a Guerra Fria, sabemos todos, campeou solta no mundo inteiro. Luta estratégica,
de vida ou morte, que não poupou a Lua e o espaço sideral. Surpreendentemente,
segundo a história que nos é contada, só a CIA se interessava pelo Brasil.
A URSS, que estendia malhas, a ferro e
fogo, no leste europeu, na África, na Ásia, na América Central, no Caribe e na
América do Sul, mediante movimentos guerrilheiros e forças de ocupação,
ignoraria solenemente as terrinhas descobertas por Cabral! Se já ouvira falar
no Brasil, não prestara atenção. Aqui só xeretariam os gananciosos ianques,
difundindo a paranoia de um tal de comunismo que nos humilhava com seu
desprezo.
Nas primeiras páginas do The Tyranny of
Clichés, o autor Jonah Goldberg cita uma frase que cai como roupa de bom
alfaiate sobre o que está em curso no Brasil: "A História não tem lados,
mas os historiadores têm".
Foi esse ensinamento que não pude deixar de
associar ao fato narrado na abertura deste texto - a reunião da Comissão
Nacional da Verdade ocorrida em Petrópolis. Aí está o pecado original de uma
Comissão cujo símbolo deveria ser um Saci-Pererê maneta.
Com membros apenas do lado esquerdo, essa
Comissão não inspira confiança alguma em quem tenha apreço pela verdade.
Saberiam cantar o Hino Nacional, com igual fervor e sem desafinar?
Percival Puggina (69) é arquiteto,
empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e
sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
Um comentário:
Como petropolitano nascido e criado nessa bela cidade, de pessoas pacificas e ordeiras, FIQUEI ENVERGONHADO COM ESTA NOTICIA.
Acredito que o coral tenha sido forçado a cantar tal hino.
Gostaria de saber qual foi o PETROPOLITANO BABACA que teve essa ideia e envergonhou minha cidade.
Luiz
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