Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Adriano Benayon
O ano termina sob o espectro de perspectivas preocupantes
no âmbito nacional e no do poder mundial.
Isso recomenda que os povos assumam atitude engajada e
participativa, livre das falsas lideranças que iludem tanta gente, e, assim, se
libertem de um sistema que os despoja e aliena.
No País persiste o assédio para que se desnacionalizem as
poucas grandes empresas públicas e privadas sob controle nacional que ainda lhe
restam.
Historicamente, os agentes das campanhas nesse sentido
valeram-se sempre, como ocorre atualmente, da retórica moralista para atingir
seu real objetivo.
Vivemos sob um sistema político em que os aspirantes aos
cargos eletivos dependem de exposição na TV – um espaço fechado aos não
comprometidos com os reais donos e beneficiários desse sistema. Dependem também
de dinheiro grosso para as campanhas eleitorais, num país em que a economia é
concentradíssima e desnacionalizada.
Nessas condições, ainda que o Executivo estivesse
nas mãos de titular solidamente apoiado pela maioria da sociedade, ele não
teria como colocar os interesses dela acima dos grupos que concentram o poder
real.
Estes elegem a grande maioria do Congresso e,
sustentando-se na grande mídia, exercem ascendência ideológica
sobre o Judiciário, o Ministério Público, a Polícia, os quadros técnicos e
administrativos da Fazenda, Banco Central etc.
Além disso, a autonomia dada pela Constituição a esses
órgãos e a instituição das agências independentes permitem ações e iniciativas
descoordenadas, em que preferências pessoais substituem políticas
coerentes orientadas pelo interesse público.
Ademais, cargos na Administração, nas agências do Estado e
nas grandes empresas e bancos estatais são usados pelos chefes do Executivo,
inclusive os do PT - pois lhes falta maioria no Congresso, onde
prevalece o toma-lá-dá-cá - como moeda de barganha com partidos políticos, em
nome da “governabilidade”.
Isso não significa que a corrupção tenha aumentado em
relação a Collor e FHC, mais claramente engajados com a oligarquia financeira
mundial - e cujas eleições foram por ela patrocinadas.
Os casos de corrupção nos entes públicos e nas estatais
servem como instrumentos de chantagem operados por revistas de opinião -
tradicionalmente amparadas por serviços secretos estrangeiros – e como munição
para alvejar as estatais e fazer que a União as entregue a troco de nada.
De qualquer forma, os petistas no Executivo
são, de há muito, acuados para cederem mais espaço aos quadros da
confiança da oligarquia, e, quanto mais fazem concessões, mais ficam
vulneráveis, e mais são alvo de ataques desestabilizadores.
Desde antes da eleição presidencial, o epicentro da crise
tem sido os escândalos nas encomendas da Petrobrás, com ou sem licitações.
A presidente ficou na defensiva, pois a Administração não
se antecipou nas investigações à Polícia Federal e ao Ministério
Público. Enfraqueceu-se, assim, em face das pressões que têm
por obter mais concessões em favor das grandes transnacionais do
petróleo: mais leilões e abertura ao óleo do pré-sal, mais ampla e
favorecida que a que já lhes tem sido proporcionada pela ANP.
No mesmo impulso de tornar a Petrobrás um botim da onda
privatizante, as transnacionais aproveitam para colocar em cheque as
empreiteiras, conglomerados de capital nacional, atuantes em numerosas
indústrias e serviços tecnológicos.
Seja sob o atual governo, manipulado para ceder
mais, seja sob políticos mais intimamente vinculados ao império angloamericano,
como os do PSDB, trama-se a culminação do processo de desnacionalização da
economia e de destruição completa da soberania nacional.
Na economia, a desnacionalização e demais defeitos
estruturais geraram mais uma crise, tendo - mesmo com baixo crescimento
do PIB - o déficit de transações correntes com o exterior aumentado em
mais de 12% em 2014, após crescer de US$ 28,2 bilhões em 2008 para U$ 81
bilhões em 2013.
Enquanto a sociedade não forma um movimento para construir
modelo econômico e social viável, é importante entender que só isso a poderá
salvar. Golpe parlamentar, judicial, ou do tipo que for, para trocar de
presidente e de partido no governo, apenas agravaria a situação.
O futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy - não
nestes termos - declarou-se favorável a medidas macroeconômicas ao gosto
do “mercado financeiro”, i.e., dos grandes bancos mundiais e locais. É, pois,
desse modo que a presidente espera enfrentar mais uma crise recorrente causada
pelas estruturas políticas e econômicas do modelo dependente.
Essas estruturas são: a primarização e perda de qualidade
relativa do que sobrou da indústria; a concentração; a desnacionalização da
economia. Elas implicam que o Brasil está mal posicionado diante
das dificuldades, sem falar no desastre estrutural derivado, que é a dívida
pública.
Essa já cresceu demais, devido aos juros compostos a taxas
absurdas, e crescerá mais, mesmo com a volta do superávit primário para pagar
juros, uma vez que os feiticeiros incumbidos de sanar a crise não pretendem
baixar as taxas. Muito pelo contrário...
Completando o conjunto de fatores - incuráveis sem
mudança de sistema político e econômico - estão aí as infra-estruturas
deterioradas, desde há decênios, como as da energia e dos transportes.
Vejamos algumas das ideias de Levy externadas em
entrevista ao “Valor”, na qual defendeu o consenso dos banqueiros e economistas
“liberais”, em versão moderada, i.e., sem o radicalismo das propostas dos
candidatos que se opuseram à presidente.
Levy não tem como escapar às contradições e aos impasses a
que conduzem seus planos. Ele pretende, por exemplo, aumentar a abertura
no comércio exterior.
No quadro de retração econômica em quase todo o Mundo, não
é provável obter concessões significativas em troca de maior abertura do Brasil
às importações. Ademais, o objetivo de conter a inflação dos preços
importando mais bens e serviços, sem conseguir exportar mais, implica
fazer crescer o crítico déficit nas transações correntes.
Levy fala também de corrigir preços relativos. Mas o que
quer dizer com isso? Se os subsídios que deseja suprimir são os do crédito dos
bancos públicos, as empresas mais prejudicadas serão as de capital
nacional, já que as transnacionais dispõem de crédito baratíssimo no exterior.
Certamente, Levy não visa cortar os privilégios fiscais do
sistema financeiro, nem os dos carteis industriais transnacionais, como as
montadoras, nem intervir em seus mercados através do fomento a concorrentes
independentes. E, sem isso, os preços relativos que mais se precisa corrigir
não serão alterados.
Ou o preço que, na visão dos macroeconomistas oficiais,
estaria precisando ser reduzido seriam os salários?
O futuro comandante da economia propugna, em especial, por
acabar com a dualidade das taxas de juros, aproximando as taxas dos bancos
públicos e as dos bancos privados.
O liberalismo é, sobre tudo, um rótulo, pois os
concentradores usam a palavra mágica “mercado” como álibi para ocultar a
identidade de quem exatamente manipula o mercado.
Então os que se filiam aos interesses dos carteis,
proclamam que não cabe ao governo intervir no mercado, que deve ser
competitivo, i.e., governado pela concorrência, embora ele o faça para elevar,
por exemplo, as taxas de juros.
Não se informa que os preços nos mercados cartelizados não
são dirigidos pela concorrência, mas, sim, pelo consenso dos
concentradores. Os bancos são favorecidos pela Constituição, cujo artigo
164 veda ao Banco Central financiar o Tesouro, e este é proibido de
emitir moeda. Além disso, só um número limitado de bancos é autorizado a
comprar e vender títulos do Tesouro.
Está claro, portanto, que a equalização das taxas recomendada
por Levy só pode ser feita determinando aos bancos públicos elevar suas taxas.
Passando ao contexto mundial, no império angloamericano,
satélites europeus e outros, têm prevalecido a degeneração estrutural:
financeirização e retração da economia real.
O centro do poder mundial fez meia pausa na escalada de
intervenções armadas, planejadas desde 2001, visando, pelo menos, até ao Irã,
depois de ter arrasado, entre outros, Líbia e Iraque, e se ter apossado de suas
imensas reservas de petróleo e de seu ouro.
Isso decorreu de ter sido a ocupação da Síria
contida pela Rússia, que se tornou o alvo primordial da agressão econômica e do
cerco militar imperiais, intensificado com o golpe de Estado na Ucrânia e a
ocupação do governo desta por prepostos dos EUA.
China, principalmente, e Índia são as maiores exceções ao
panorama de retração econômica, no momento em que a Rússia busca sobreviver à
pressão imperial intensificando suas relações com seus parceiros asiáticos.
Há que seguir de perto a evolução do jogo de poder
mundial, cujo equilíbrio constitui condição fundamental, embora não
suficiente, para que o Brasil construa estruturas essenciais a seu progresso.
Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de
Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
3 comentários:
Senhor Benayon, o que se supoe que é isto aqui que você escreveu?
Isto não tem nem cabeça nem cauda. Falou muito para não dizer nada.
Vraiment du n'importe quoi.
Não me preocupo mais com Benayon. Mais ainda este texto do que em qualquer outro, dá a absoluta certeza de que ele não é um democrata, e muito menos um conservador. Mais que tudo, parece um desinformador, daqueles que invertem as notícias, sem contudo mostrar o que realmente são.
O articulista é claramente de esquerda, apoiador do petismo e, apesar de ser um intelectual, parece, bem formado sofre do complexo de coitadismo latino-americano. Se o Brasil não tem dinheiro para tocar seus projetos é porque não tem poupança. Sempre esbanjou o que recebeu pela venda do que produziu desde o açúcar, o cacau, passando pelo café depois a soja, a carne, minério e por aí vai. Agora mesmo temos um povo endividado por iniciativa do governo petista que, para manter-se no poder, incitou o povo a se sentir falsamente rico comprando de carrões importados a bugigangas chinesas que se desmancham em dias. Mostrar ao povo (meios e astúcia marqueteira é o que não lhes falta) que para ser cidadão e dono de um país independente só com muita dedicação aos estudos, ao trabalho duro e ao hábito de poupar e investir e dessa forma se tornar igual aos que estão no topo do mundo e falar de igual para igual sem as lamentações do explorado, isso não. Cada vez trabalhamos menos, estudamos menos e pior, cada vez nos degradamos mais tanto do ponto de vista moral quanto educacional, de conhecimento, não sabemos fazer nada do que gostamos de consumir e não queremos ficar dependentes dos que sabem? Faça-me o favor!
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