Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Daniel Aarão Reis
Desde começos do ano apareceu na cena política espanhola uma alternativa, um novo ator coletivo, o partido Podemos.
Lançado em 16 de janeiro, num teatro
de Madri, formado por educadores, professores e artistas, alguns com presença
na mídia nacional, quase todos entre 30 e 40 anos, instituiu-se numa assembleia
aberta, convocada pela internet, com o objetivo de disputar as eleições
europeias, previstas para maio.
Os resultados surpreenderam os mais
otimistas: numa campanha barata, com grande participação de militantes
anônimos, sem contar com doações de empresas e sem prestar “consultorias”
rentáveis, o Podemos registrou quase 8% dos votos, elegendo cinco deputados
para o Parlamento Europeu, virando a quarta força política do país. Em algumas
cidades e regiões, ultrapassou o patamar de 10% dos votos, tomando o terceiro
lugar.
O programa político apresentado pelos
candidatos do Podemos tentou captar e canalizar demandas fortes na sociedade
espanhola, desde que explodiu a crise econômica de 2008: revigoramento dos
sistemas públicos de saúde e de educação; políticas de reindustrialização;
incentivos à construção civil para as pessoas de baixa renda; reajustes
salariais, revertendo a curva declinante das remunerações dos trabalhadores.
A preocupação em defender a sociedade
exprimiu-se na fórmula: “Toda a riqueza do país, nas suas diferentes formas, e
seja qual for a sua titularidade, está subordinada ao interesse geral.” Trata-se,
a rigor, de um princípio inserido na Constituição espanhola e foi curioso
observar como um princípio constitucional podia transformar-se numa proposta
com ares de subversiva. Ou subversivos estariam sendo os governantes, mais
preocupados em cuidar dos bancos e das grandes empresas do que do bem-estar e
da felicidade das pessoas?
Havia, em outros aspectos, ousadas
ideias: impedir restrições à lei sobre a interrupção voluntária da gravidez;
retirar a Espanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); revogar
a Lei sobre os Estrangeiros; respeitar a liberdade da Catalunha — ou outras
regiões do país — de decidir o próprio destino.
O sucesso tornou populares os líderes
e as propostas do Podemos. Entre maio e julho, o partido multiplicou por seis
seus apoios nas redes sociais, de cem mil para 600 mil. Neste último mês,
pesquisas do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) apontavam o Podemos como
segunda força política, superando o tradicional representante da social
democracia, o Partido Socialista Espanhol (PSOE), e a apenas um ponto do
Partido Popular (PP), de direita, que preside o atual governo.
As inscrições abertas pela internet
explodiram, passando, em três meses, de julho a outubro, de 32 mil para mais de
200 mil filiados. Ao mesmo tempo, entrevistas de lideranças do Podemos em
programas de televisão registravam recordes de audiência.
Outras pesquisas, publicadas no
início de novembro, situaram o novo partido como principal força política
eleitoral, à frente do PP e do PSOE. Entretanto, considerando-se as próximas
eleições gerais, de novembro do próximo ano, observaram-se ainda oscilações,
mas por diferenças mínimas, entre os principais partidos.
Em virtude da importância política
adquirida, o Podemos transformou-se rapidamente em alvo de restrições, agravos
e denúncias.
Os mais indulgentes chamam seus
líderes de “ingênuos”, e suas propostas, de “irrealistas.” Num registro mais
severo, são acusados de “irresponsáveis” e de “populistas”, destacando-se a
“perigosa” aproximação com a experiência em curso na Venezuela e na Bolívia, e
as “inaceitáveis” evocações de V. Lênin nas intervenções de Pablo Iglesias
Turrión, um dos recém-eleitos eurodeputados e principal liderança política e
midiática do partido.
O Podemos experimenta um momento de
euforia, comum em experiências inovadoras, que surgem com alto índice de
entusiasmo. Com uma organização democrática, embora sujeita a questionamentos,
acionando as redes sociais e se beneficiando de seu potencial
“horizontalizador”, terá pela frente desafios que já fizeram naufragar
aventuras semelhantes: combinar demandas sociais com o jogo político-partidário
institucional. As disputas eleitorais com a mudança social.
As repetidas manifestações de rua (os
“indignados”), mesmo muito amplas, mas sem participação no jogo institucional,
propondo o voto nulo ou a abstenção, contribuíram, involuntariamente, para
ascenso da direita ao poder político. Já a concentração exclusiva nas disputas
institucionais — o cretinismo parlamentar — levou ao abandono da perspectiva de
mudança. Foi o caso do PSOE, que se tornou um mero gestor da crise sistêmica do
capitalismo em detrimento dos interesses das maiorias.
Trata-se de “converter a indignação
social em mudança política”. O Podemos terá êxito? “Claro
que sí, podemos”, responde Iglesias. Coragem e
esperança, um belo presente de Natal para os espanhóis.
Daniel Aarão Reis é professor de História Contemporânea da UFF - daniel.aaraoreis@gmail.com. Originalmente
publicado em O Globo em 30 de dezembro de 2014.
5 comentários:
Não é um partido político. É um movimento político. Não tem donos. O povo escolhe em quem votar.
http://capitalismo-social.blogspot.com.br
Correção ao meu comentário anterior: infelizmente criaram um partido político - Podemos - e também já tem dono(s).
"PODEMOS", é um grupo Nazis. O Diabo disfarçado em anjo de luz para enganar.
Estas classes políticas que se classificam como extrema-esquerda e ou extrema-direita, em realidade os seus propositos são os mesmos.
Eles jogam com a sensibilidade das pessoas para ganhar em notoriedade, se apresentam como alternativa a tradicional esquerda ou alternativa a direita tradicional, mas, na verdade estes são anjos do Diabo. São grandes mentirosos, manipuladores de opinião, e são estes mesmos que vão destruir Europa daqui a pouco tempo.
"Um homem não se pode montar nas suas costas a não ser que elas se inclinem.
(Martin Luther King)
A preocupação em defender a sociedade exprimiu-se na fórmula: “Toda a riqueza do país, nas suas diferentes formas, E SEJA QUAL FOR A SUA TITULARIDADE, ESTÁ SUBORDINADA AO INTERESSE GERAL." Isso fede ao mais puro e insano socialismo. ELES NÃO DESISTEM!
São comunistas muito mal disfarçados. O líder do "Podemos" recebeu milhões de dólares do tirano Nicolás Maduro. Pode vir coisa boa daí? Nunca!
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