Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Miriam Leitão
Presidente Dilma tem que assumir a condução da crise. Não
existe meia solução para a Petrobras. Só uma atitude firme, e da presidente
Dilma, pode começar a resgatar a empresa do poço ultraprofundo em que ela está.
A diretoria inteira precisa sair, não por suspeição sobre todos os seus
integrantes, mas porque a companhia vive uma crise de confiança gravíssima e
esta gestão não soube dar respostas convincentes. Não há como a presidente
Dilma possa se esconder desta crise.
Ela é a chefe de Estado de um país cuja maior empresa
afunda num mar de dúvidas e corrupção. A Polícia Federal, o Ministério Público
e a Justiça estão fazendo seu papel de forma exemplar. Mas o poder executivo
faz de conta que não tem nada a ver com esta crise. É como se a presidente
Dilma considerasse que não deve prestar contas sobre o que está se passando na
maior empresa de nossa economia, a mais querida, a que tem entre seus
acionistas desde grandes empresários até assalariados que colocaram lá o seu
FGTS.
A pequena recuperação na bolsa ontem não resolve o
problema. É desses movimentos naturais, após queda acentuada. A Petrobras
enfrenta uma fuga de investidores institucionais, que são os mais desejados por
qualquer empresa de capital aberto, porque permanecem no longo prazo com o
papel em carteira. Eles estão saindo, mesmo com o baixo preço da ação.
Isso significa que estão realizando o prejuízo, e não
voltarão tão cedo a comprar o papel. Pudera. Neste exato momento a empresa não
consegue sequer divulgar um balanço auditado. E se não houver balanço, no
último prazo que ela terá, parte dos bônus e da dívida vencerá e terá que ser
paga imediatamente. Neste cenário, o que o governo pretende fazer?
O país precisa de sinais urgentes de que a presidente
Dilma entendeu o tamanho da crise e que está no comando. Ela tem que trocar a
direção e declarar de forma enérgica e convincente que seus cargos não serão
mais objeto de partilha política. A receita que a empresa precisa é de
profissionalização da gestão, o fim do uso político, um diagnóstico profundo da
crise, prestação de contas à sociedade e boa governança. Nada disso pode ser
oferecido por quem não viu os desmandos aos quais ela estava entregue. O
próprio conselho de administração que nada viu, nada soube, tudo avalizou,
precisa ser trocado.
A Petrobras tem 60 anos, é parte da história do Brasil, da
construção da confiança do país em si mesmo. Ela é símbolo, ícone. O importante
não é o valor que ela tem na bolsa, que, por sua natureza, é volátil. O
fundamental é o valor intangível que a empresa tem para o país. É isso que está
se estiolando.
Dilma acha mesmo que se não falar do assunto publicamente
e mandar beijinhos para os jornalistas o problema sumirá do horizonte? Um
governante se elege para governar e não para se esconder de uma crise dessa
gravidade atrás de uma suposta blindagem dada pelo silêncio.
A simbiose é tão forte entre o Brasil e a Petrobras que se
a empresa permanecer em crise a economia não se recupera tão cedo. Se o país não
reconquistar a confiança na política econômica e nas decisões governamentais,
será mais difícil a recuperação da empresa. Se a Petrobras, sem capacidade de
captação, tem que cortar investimentos, a retomada do crescimento será mais
lenta. É disso que se trata. Não é uma empresa qualquer; é a Petrobras.
É absurdo que tenha acontecido o que aconteceu, mas disso
as instituições brasileiras estão tratando, o que dá ao país esperança de que
culpados serão punidos. Mas o governo tem que dar o sinal de que a empresa não
é uma plataforma à deriva e sem comandante.
Miriam Leitão é Jornalista. originalmente publicado em O
Globo em 17 de Dezembro de 2014.
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