Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Arthur Jorge Costa Pinto
Parece uma ficção, mas é uma realidade que está
acontecendo com os bancos europeus -passaram a remunerar os clientes que
queiram tomar um empréstimo. Explica-se este fato pela gravidade da situação econômica
que atravessam,enfrentando grandes obstáculos para realizar seus empréstimos.
Por incrível que pareça, o Banco Central Europeu (BCE) atualmente está cobrando
dos bancos que queiram confiar seus recursos a ele.
Neste ambiente de baixas taxas de juros que o continente
europeu vem experimentando,com uma inflação situando-se bem abaixo da meta
prevista e tendo em vista uma possível deflação como um dos riscos em potencial
para o bloco econômico, sem dúvida,um contexto muito delicado, a saúde das
instituições financeiras que ali operam fica ainda mais comprometida.
Na Europa, a vida não está fácil para alguns bancos no
momento em que vão emprestar dinheiro. A taxa básica de juros exercida pelo BCE
encontra-se estagnada em zero e até mesmo abaixo de zero (negativa), desde que
ele lançou as medidas na tentativa de impulsionar a economia na Zona do Euro,
incluindo um corte em sua própria taxa de juros sobre os depósitos.
Avaliamos que os clientes não são remunerados
adequadamente,chegando ao ponto em que têm até que pagar para deixar suas
reservas aplicadas nos bancos. Além disso, as instituições bancárias enfrentam
constantemente um sério impasse, entre não realizar empréstimos ou fazê-lo,
assumindo um elevadíssimo risco de perder dinheiro.
Em todo o continente europeu, os bancos estão sendo levados
a redesenhar seus programas informatizados, atualizar documentos legais e
reorganizar planilhas que possam contabilizar as oscilações das taxas
negativas.
Com a ausência de tomadores, os bancos se vêm forçados a
repassar uns aos outros os recursos no mercado interbancário,em diferentes
prazos que variam de um dia até um ano.Definem as taxas de juros pelo que
cobram em muitos empréstimos, através de um pequeno percentual acima ou abaixo
de um valor de referência denominado Euribor (Euro Interbank Offered Rate),
adotado a partir de 1999 com a introdução do Euro.
Em algumas ocasiões, a Euribor tem se apresentada negativa.
Uma vez nesta situação, milhares de contratos de empréstimos serão impactados e
poderão ocasionar uma robusta perda aos bancos credores. Atualmente, está sendo
negociada a 0,078% para o prazo de seis meses.
Inicialmente,as instituições bancárias procuraram seus
bancos centrais para receber orientações e até mesmo para suavizar seus
prejuízos.O Banco Central de Portugal recentemente determinou que os bancos terão
que pagar sobre os empréstimos existentes caso a Euriborsitue-se no território negativo,
ou melhor, inferior a zero.
Para que se tenha uma pequena ideia, em Portugal existem
aproximadamente 2,3 milhões de contratos hipotecários, sendo que mais de 90%
estão vinculados à Euribor com juros variáveis. O BCE divulgou que os bancos têm
plena liberdade para adotar “medidas de precaução” em contratos futuros.
A situação se agrava ainda mais em países como Grécia,
Espanha e Portugal,em função dos seus títulos públicos que se encontram
desvalorizados e, consequentemente, sem demanda no mercado. As economias na
região do euro encontram-se literalmente enfraquecidas, próximas a uma recessão
ou também a uma indesejável deflação, tornando-se ainda mais desfavorável as
operações com empréstimos, em função de não se saber para onde direcioná-los, o
que deixa os bancos numa situação paradoxal, infelizmente sem ter a quem
emprestar.
Segundo alguns analistas, ao menos um banco espanhol, o
Bankinter S.A., o sétimo maior do país em valor de mercado, vem remunerando com
juros alguns de seus clientes em seus títulos de hipotecas que são descontados
do montante principal do devedor.
Para finalizar, uma relevante consideração a ser feita: os
bancos europeus devem um valor significativo de suas dívidas soberanas, valores
tão elevados que preocupações relativas à solvência do sistema bancário e dos
governos estão reforçando negativamente a percepção sobre a possibilidade de
não estar próxima, uma solução para a crise que se alastra há algum tempo.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em
Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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