Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Arthur Jorge Costa Pinto
Após um longo e tenebroso inverno de expectativas
negativas representou certamente um pouco de alívio para o mercado financeiro a
publicação do balanço da Petrobras e os planos destinados para este exercício
que,a meu ver, trouxeram aos investidores mais dúvidas do que respostas sobre o
futuro da petroleira.
Inicialmente, durante uma conferência, seu Presidente não explicou
dois pontos fundamentais:como diminuir sua expressiva dívida bruta (R$ 351
bilhões, um aumento de 31% em relação a 2013), que só tende a aumentar com a
desvalorização do real, já que em boa parte do seu passivo predomina a moeda
estrangeira e, sobretudo,como restabelecer sua credibilidade completamente aniquilada
a partir do inconsequente primeiro desgoverno da economista Dilma.
Resgatar a confiança perdida demanda um tempo razoável e
envolve ações concretas. A Petrobras no passado se comprometeu com decisões
políticas que hoje impedem a sua confiabilidade, como no ano passado, ao
retardar o repasse na alta dos custos do petróleo para atender ao compromisso
eleitoreiro da seita petista, visando exclusivamente não prejudicar a reeleição
de Dilma e impedir a ultrapassagem da inflação do limite superior da sua meta,
hoje plenamente evidenciada e ascendente.
Há alguns meses, o preço do petróleo oscila em um patamar de
valor baixo e a empresa não pode transferir essa redução, porque se encontra
acorrentada a um compromisso para recuperar, o mais rápido possível, a
incontestável decomposição do seu caixa. O prejuízo bilionário apurado pela
empresa foi bem superior ao que os investidores esperavam, fortalecendo ainda
mais a insegurança em torno deles.
A sensação deixada pelas entrevistas direcionadas ao
mercado após a divulgação do balanço está parcialmente associada às novas diretrizes
da estatal que não surpreenderam,por evidenciar poucos fatos definidos que possam
vir a abrandar os problemas e apresentarem pouco tempo uma consistente
estratégia na regressão da sua alavancagem em consonância com outras métricas
do plano.
Insinua sutilmente não ser ela uma das prioridades neste
momento, mesmo diante da forte turbulência que estamos atravessando com a
estagnação em nossa economia. As atuais orientações da companhia não foram
muito diferentes dos discursos enganosos praticados nos últimos quatro anos.
Alguns pontos são relevantes e devem ser percebidos: a
Petrobras deixou nas entrelinhas que não divulgará uma nova política de
reajuste de preços dos combustíveis que seria imprescindível para compatibilizara
similaridade entre os preços do mercado interno com o externo. A desaceleração
no crescimento da produção está projetada em 4,5% para 2015 e 2,8% no próximo
ano.Situação preocupante.
Com relação aos investimentos, os atuais gestores da
empresa julgam ser difícil a sua redução, mantendo-os em US$ 29 bilhões para
este exercício e US$ 25 bilhões para 2016. A amortização das dívidas através da
venda de ativos ficou aparentemente escamoteada como uma das possíveis alternativas.
Da meta estabelecida em US$ 14 bilhões somente US$ 3 bilhões deverão ocorrer
ainda este ano e o restante, após uma avaliação,quando projetará o montante a
ser perseguido para o ano subsequente.
Outra questão para destacar, que já está praticamente
confirmada,é que não serão pagos os dividendos referentes ao exercício de 2014,
mesmo que a empresa fique coagida pelos riscos legais implicados através de uma
determinação judicial caso os acionistas procurem este legítimo caminho.
Pretende-se remunerar os acionistas através de dividendos e juros sobre o
capital próprio referente a 2015, se houver resultados positivos ao final deste
ano, como sempre fez.
A Fitch Ratings (agência de classificação de risco)
imediatamentese pronunciou na semana passada após a divulgação do balanço,mantendo
a nota para os títulos de dívida da Petrobras em “BBB-“, o nível mais baixo de
investimentos que podem ser considerados seguros.
Embora conservando sua nota, a agência ainda retirou da
nota daestatal brasileira uma observação que advertia sobre a possível queda da
qualificação pelos problemas financeiros que a companhia petrolífera enfrenta,
por já não considerá-lo iminente. Entretanto, manteve como negativa sua
perspectiva relacionada às notas de crédito da Petrobras, o que significa que a
qualificação poderá ser rebaixada em um período entre 12 e 24 meses.
Após cinco meses de vários adiamentos na publicação dos
últimos demonstrativos contábeis referentes aos últimos trimestres e o anual do
exercício 2014,em virtude da necessidade de encontrar uma metodologia crível
recomendada pela PwC-PricewaterhouseCoopers,empresa
contratada que auditou demonstrações financeiras da estatal,foi encontrada uma
solução para proceder uma baixa contábil proveniente da corrupção comprovada
nos últimos anos através de frequentes assaltos aos cofres da petrolífera.
A empresa terminou apresentando o seu maior prejuízo desde
1991,quando a estatal registrou perda de R$ 1,2 bilhão, segundo dados ajustados
pela inflação. Foi considerado também pela consultoria Economática o pior
resultado desde 1986 entre todas as empresas com ações negociadas na Bolsa.
Surpreendem algumas inconsistências apresentadas, a
começar pela incompatibilidade entre o nível elevado dos investimentos para
2015 (US$ 29 bilhões) e a desprezível meta de desinvestimento da companhia.
Outro equívoco está relacionado com a produção declinante, que torna o processo
de desalavancagem uma incógnita a ser comentada pelos analistas econômicos.
Alguns deles defendem para este momento, uma oferta
pública de ações como o único caminho definitivo para fortalecer a estrutura de
capital, com a troca parcial de recursos de terceiros por dinheiro de
acionistas, que já foram amplamente lesados na última subscrição anunciada pela
petroleira em agosto de 2009, visando especialmente, à exploração do pré-sal.
Infelizmente o que se viu foi a situação ser corroída
rapidamente pelas mãos enlameadas de corrupção dos que manuseiam os recursos
públicos da nossa Nação.
É compreensível a iniciativa, mas não sei se este é o
momento adequado para sugerir tal procedimento, principalmente em função dos
ajustes fiscais, uma prioridade em andamento que se torna indispensável para o
nosso equilíbrio econômico.
A imagem da organização encontra-se completamente deteriorada
entre os investidores de dentro e fora do Brasil e ainda pairam grandes dúvidas
sobre a capacidade de gestão desta nova diretoria em demonstrar a comprovada
competência que impõe uma gestão exemplar para geração de caixa. Neste ambiente,
ainda circula com desenvoltura o danoso Lava Jato que até então, não teve o seu
efeito devastador completamente clarificado.
Como vimos, temos pontos suficientes para delimitar a
fraqueza da Petrobras no curto e médio prazo, embora a divulgação do balanço
tenha sido uma iniciativa atrasada, porém positiva, mas isso jamais afastará as
eventuais e possíveis adversidades.
Portanto, fica aqui uma humilde sugestão aos que investem
em ações, relembrando o inesquecível cronista social carioca Ibrahim Sued com
uma de suas frases de impacto que sempre utilizava nas suas crônicas mundanas -
“olho vivo, cavalo não desce escada”.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em
Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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