Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Alberto Sardenberg
Imaginem o anúncio: Petrobras vende Lula/boa
oportunidade/preço atraente.
Brincadeira, claro, mas tem um pé na realidade. No seu
processo de limpeza e recuperação, a Petrobras vai “desinvestir” — ou seja, vai
vender partes, de poços de óleo a usinas de gás e postos de gasolina. E entre
esses ativos que podem ser liquidados está o poço de Lula, um dos melhores do
pré-sal, segundo reportagem do jornal “Valor Econômico”.
Os campos da Petrobras recebem sempre o nome de peixes e
frutos do mar. Daí o Lula — mas todo mundo sabe que foi uma escancarada
badalação ao ex-presidente. Na época, a diretoria da Petrobras entendia que
Lula, o homem, era o responsável pelo sucesso do pré-sal e pela dominância da
estatal na exploração daquela área.
Poucos anos se passaram e, além da corrupção, se verifica
que a Petrobras da era PT foi jogada numa trilha de má gestão e desperdício.
Espantosa má gestão: não é fácil, por exemplo, gastar R$ 2,7 bilhões em projetos
de duas refinarias para se concluir que, desculpa aí, eram inviáveis.
Toda essa gestão foi celebrada como a valorização e a
defesa da estatal contra a privatização. Pois o que estão fazendo agora?
Vendendo partes para fazer caixa, privatizando na bacia das almas, quando o
preço do óleo está lá embaixo, assim como a credibilidade da estatal.
Sim, é um tipo de privatização, pois os compradores serão
as grandes petrolíferas globais. A estatal ainda não oficializou nada, mas já
contratou bancos para prospectar a venda de ativos. Em tese, até a BR
Distribuidora pode ir no pacote.
Dependendo das circunstâncias, é claro, e que não são
favoráveis. Quanto vale uma companhia envolvida na Lava-Jato? Quanto se deve
descontar por futuros abatimentos por causa da corrupção?
Já Lula, o poço, tem um alto valor intrínseco — é puro
petróleo. Mas já não vale tanto quando o então presidente Lula e a então
ministra Dilma iniciaram a mudança das regras do jogo de modo a tornar
dominante o papel da estatal.
Levou tempo para se instalar um regime de exploração que
hoje a própria diretoria da Petrobras reconhece como inviável. A companhia não
tem o dinheiro nem a capacidade de exercer aquele papel.
Logo, tem que encolher e, quem sabe, vender Lula, o poço,
inclusive para tornar mais atraente o pacote. Daí a pergunta: depois da
Lava-Jato, do fracasso do modelo e da gestão, quanto vale Lula hoje?
E sabem quem vai decidir o preço?
O mercado.
VOLTA SETE CASAS
O Brasil fez tantas jogadas erradas no tabuleiro da
economia global que acabou punido: volta sete casas e fica uma rodada sem
jogar.
A rodada é esta de 2015. Tirante Rússia, Ucrânia,
Venezuela e Argentina, as nações mais desastradas do bloco emergente, o resto
está crescendo. A Índia avança várias casas, sua economia voa ao ritmo de mais
de 7% ao ano. A China está no mesmo passo, os 7%, mas para os chineses isso é
desaceleração. Na média, segundo dados do FMI, o grupo emergente cresce 4,3%,
um pouquinho menos do que no ano passado, com perspectiva de suave aceleração para
2016.
Em resumo, recuperação desigual, moderada, mas avança.
Entre os ricos, os Estados Unidos comandam o jogo, com crescimento esperado de
3,1%. A Europa também está em recuperação mais do que razoável — expansão do
PIB na faixa de 1,5% nestes dois anos, o que está bom para os padrões
históricos da região.
Sim, saiu da crise. Angela Merkel, chanceler alemã, líder
incontestável do bloco, parece ter acertado em não seguir as lições dadas por
Dilma Rousseff. Lembram-se? A presidente brasileira foi à Europa para
esculhambar a política de austeridade e fazer propaganda de sua “nova matriz”
econômica. Cada lado seguiu seu roteiro, e deu nisso aí.
O Brasil fica parado, tentando consertar os estragos
feitos nos últimos sete anos. E consertar como? Com uma política de austeridade
e ajustes que Merkel e o FMI consideram muito apropriada.
A economia brasileira, em obras de contenção, vai encolher
algo como 1% do PIB. É muito. Coloque 1% em cima de um PIB estimado em R$ 5,4
trilhões.
Voltando várias casas, o Brasil se encontra com problemas
do passado que pareciam resolvidos para sempre. Há sete anos, a economia
brasileira alcançava o grau de investimento, concedido pelo mercado e pelas
agências de classificação de risco. Hoje, o mercado internacional já cobra do
Brasil juros de devedor especulativo. E o ministro Joaquim Levy coloca como
objetivo central não perder o grau de investimento das agências — que lhe deram
um tempo, na confiança.
A expectativa delas é que Levy, não Dilma, comande um
processo de fazer tudo de novo: colocar a inflação na meta, voltar ao superávit
primário, recuperar o superávit comercial, sanear as estatais e fazer o que foi
esquecido — as reformas para abrir espaço ao investidor privado.
Tão difícil quanto vender Lula hoje.
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