Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I.S. Azambuja
Quem são os verdadeiros oligarcas, os cardeais cinzentos e
os gerentes das sombras no mundo dos negócios russos e na vida política da
Rússia?
“As organizações que sucederam ao KGB conseguiram sobreviver depois de desvinculadas do comunismo. Ao retomar antigos métodos de terrorismo e guerra, elas conseguiram impor um ‘estilo russo’ de governo” (livro A Explosão da Rússia, de Alexander Litvinenko e Yuri Felshtinsky, editora Record, 2007).
A árvore genealógica do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB-FR) dispensa comentários. Desde os primeiros anos do poder soviético os atos dos indivíduos que trabalharam nesses departamentos mostraram-se implacáveis e impiedosos. A partir da Revolução de 1917, a polícia política da Rússia soviética (mais tarde União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) funcionou como um mecanismo inexorável de aniquilamento de milhões de pessoas. Essas estruturas jamais tiveram outras funções, pois o governo e o partido nunca lhes atribuíram quaisquer outras atividades práticas ou políticas.
“As organizações que sucederam ao KGB conseguiram sobreviver depois de desvinculadas do comunismo. Ao retomar antigos métodos de terrorismo e guerra, elas conseguiram impor um ‘estilo russo’ de governo” (livro A Explosão da Rússia, de Alexander Litvinenko e Yuri Felshtinsky, editora Record, 2007).
A árvore genealógica do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB-FR) dispensa comentários. Desde os primeiros anos do poder soviético os atos dos indivíduos que trabalharam nesses departamentos mostraram-se implacáveis e impiedosos. A partir da Revolução de 1917, a polícia política da Rússia soviética (mais tarde União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) funcionou como um mecanismo inexorável de aniquilamento de milhões de pessoas. Essas estruturas jamais tiveram outras funções, pois o governo e o partido nunca lhes atribuíram quaisquer outras atividades práticas ou políticas.
Nenhum outro país civilizado jamais teve algo comparável
com as agências de segurança de Estado da URSS. Exceto no caso da Gestapo, na
Alemanha nazista, nunca houve qualquer outra polícia que dispusesse de suas
próprias divisões operacionais e investigativas ou seus centros de detenção,
como por exemplo a Lubianka e a prisão do FSB em Lefortovo.
Os acontecimentos de agosto de 1991, na tentativa de golpe
contra Gorbachev, quando um grupo de comunistas da linha dura manteve-o preso
na Criméia por três dias e tentou afastá-lo do Poder, levaram a mudanças
radicais na vida dos russos, por conta de Boris Yeltsin, o primeiro presidente
da Rússia eleito diretamente, que liderou, de cima de um tanque, em frente ao
Parlamento, a resistência aos golpistas. Devido a esse fato, contudo, Gorbachev
perdeu poder, prestígio e popularidade por conta da ascensão de Yeltsin. Quatro
meses depois, em dezembro, a União Soviética se desintegrou e Yeltsin tornou-se
a principal autoridade na Rússia.
A conseqüente liberalização das estruturas políticas da
Rússia demonstrou claramente que levariam ao enfraquecimento e talvez até ao
fechamento do KGB, cujo chefe, Vladimir Kryuchov participara da tentativa de
golpe contra Gorbachev. Já no dia 6 de maio de 1991 foi criado o Comitê de
Segurança de Estado da República da Rússia, paralelamente ao KGB de toda a
Federação. Em 25 de novembro, o KGB da Rússia foi transformado em Agência de
Segurança Federal (AFB). Uma semana depois, em 3 de dezembro, o presidente da
URSS, Mikhail Gorbachev, assinou um decreto de “Reorganização das Agências
de Segurança do Estado”. Com base nesse decreto, seria criado um novo
serviço Interdepartamental de Segurança da URSS (MSB), a partir da estrutura do
KGB, que era abolido.
Simultaneamente, o velho KGB, como uma hidra de múltiplas
cabeças, subdividia-se em quatro novas estruturas. O Primeiro Departamento, que
cuidava da Inteligência Externa, foi reconstituído separadamente como Serviço
de Inteligência Central, mais tarde batizado de Serviço de Inteligência Externa
(SVR). O Oitavo e o Décimo Sexto Departamento (encarregados das comunicações
governamentais, codificações e reconhecimento eletrônico) foram transformados
no Comitê de Comunicações Governamentais (futura Agência Federal de Informações
e Comunicações Governamentais). O serviço de Guarda de Fronteiras
transformou-se no Serviço Federal de Fronteiras. O antigo Nono Departamento do
KGB transformou-se em Departamento da Guarda Pessoal do Gabinete do Presidente
da RSFSR (República Socialista Federativa Soviética da Rússia, nome oficial da
Rússia na era soviética).
O antigo Décimo Quinto Departamento passou a ser o Serviço
de Segurança Governamental e Guarda Pessoal da RSFSR. Estas duas últimas
estruturas foram posteriormente transformadas no Serviço de Segurança do
Presidente e no Serviço Federal de Guarda Pessoal. Outro serviço especial super
secreto também foi separado do antigo Décimo Quinto Departamento do KGB: o
Departamento Presidencial Central de Programas Especiais (GUSP).
No dia 24 de janeiro de 1992, Boris Yeltsin assinou um
decreto criando o Ministério da Segurança (MB), a partir das estruturas da AFB
e do MSB. Ao mesmo tempo, era constituído um Ministério da Segurança e do
Interior que, no entanto, logo seria dissolvido. Em dezembro de 1993, o MB era,
por sua vez, rebatizado de Serviço Federal de Contra-Inteligência (FSK) e em 3
de abril de 1995, Yeltsin assinou o decreto da “Formação de um Serviço
Federal de Segurança da Federação Russa”, pelo qual o FSK era transformado
no FSB.
Essa longa seqüência de atos de reestruturação e mudanças
de nomes destinava-se a proteger a estrutura organizacional das agências de
segurança do Estado, ainda que de forma descentralizada, frente aos ataques dos
democratas, juntamente com a estrutura para preservar o pessoal, os arquivos e
os agentes secretos.
O KGB estivera anteriormente sob o controle político do
Partido Comunista que de certa maneira funcionava como um freio às atividades
das agências especiais, pois nenhuma operação importante era possível sem a
autorização do Politburo. Depois de 1991, o MB-FSK-FSB começou a
operar na Rússia de forma absolutamente independente e sem controle, à parte o
controle exercido pelo FSB sobre seus próprios agentes. Sua disseminada
estrutura predatória já não era mais contida nos limites da ideologia ou da lei.
Depois do período de confusão resultante dos
acontecimentos de agosto de 1991 e da equivocada expectativa de que os agentes
do antigo KGB cairiam no mesmo ostracismo que o Partido Comunista, os serviços
secretos deram-se conta de que a nova era, livre da ideologia comunista e do
controle do partido, oferecia certas vantagens. O antigo KGB pôde lançar mão de
seus amplos recursos de pessoal (tanto oficiais como extra-oficiais) para
posicionar seus agentes em praticamente todas as esferas de atividade no vasto
território do Estado russo.
A forma como todo esse esquema foi montado veio a ser
detalhadamente descrita pelo diretor do Instituo Italiano de Política e
Economia Internacional, Marco Giaconi, professor em Zurique: “As
tentativas do KGB de assumir o controle das atividades financeiras de várias
empresas seguem sempre o mesmo padrão. A primeira etapa tem início quando
gângsteres tentam vender proteção ou usurpar direitos. Em seguida, agentes
especiais dirigem-se a essas empresas para oferecer ajuda na solução. A partir
desse momento, a empresa perde a independência para sempre. Inicialmente, uma
empresa que cai na armadilha do KGB encontra dificuldades para conseguir
crédito, podendo inclusive sofrer graves reveses financeiros. Posteriormente,
pode receber concessões para comercializar em setores como alumínio, alimentos,
celulose e madeira, recebendo um forte estímulo para seu próprio
desenvolvimento. É nesse estágio que vem a ser infiltrada por antigos agentes
do KGB, tornando-se também uma nova fonte de renda para a organização”.
A vitória de Yeltsin nas eleições de 1996 foi seguida pelo
surgimento, à primeira vista inexplicável, de campanhas de propaganda para
denegrir a reputação dos principais empresários russos. Na vanguarda dessas
campanhas estavam alguns rostos bem conhecidos das agências de segurança.
A língua russa incorporou uma nova palavra, “oligarca”,
embora fosse evidente que nem mesmo o mais rico indivíduo do país poderia ser
considerado um oligarca no sentido literal, pois carecia do componente básico
da oligarquia: Poder. Tal como anteriormente, o verdadeiro poder continuava nas
mãos dos serviços secretos.
Gradualmente, com a ajuda de jornalistas que também eram
agentes do FSB e do SBP e de todo um exército de escribas inescrupulosos
sedentos de sensacionalismo, os poucos “oligarcas” do mundo dos negócios
da Rússia passaram a ser chamados de ladrões, escroques e até assassinos.
Enquanto isso, os criminosos realmente perigosos,
assenhoreando-se de um verdadeiro poder oligárquico e embolsando bilhões em
dinheiro jamais registrado em contabilidade regular, estavam aboletados em suas
mesas de diretores nas agências coercitivas do Estado russo: o FSB, o SBP, o
FSO, o SVR, o Departamento Central de Inteligência (GRU), a Promotoria Geral, o
Ministério da Defesa (MO), o Ministério do Interior (MVD), a Alfândega, a
Polícia Fiscal, e assim por diante.
Estes sim, eram os verdadeiros oligarcas, os cardeais
cinzentos e os gerentes das sombras no mundo dos negócios russos e na vida
política do país. Detinham o verdadeiro poder, ilimitado e sem controles,
protegidos pelo fato de pertencerem aos serviços de segurança, eram
verdadeiramente intocáveis. Abusavam rotineiramente das prerrogativas de seus
cargos, levando propinas e roubando, acumulando capital e envolvendo os
subordinados em atividades criminosas.
A matéria acima é um resumo da Introdução do livro A
Explosão da Rússia, de Alexander Litvitnenko - ex-Tenente Coronel do FSB -
e Yuri Felshtinsky – historiador, especialista em serviços secretos russos -,Editora
Record, 2007.
2 comentários:
É bom lembrar que até 1991 não existiam empresários na Rússia, pois o Estado Soviético era o único empreendedor/empregador, e oque havia nas empresas estatais eram burocratas e tecnocratas, capatazes do regime. Em 1996 os empresários da Rússia eram bem ou mal os oportunistas que se apropriaram das empresas públicas soviéticas, principalmente aquelas de exploração dos recursos minerais, petróleo e gás. Os agentes da KGB ativos nos anos 80 não foram os revolucionários de 1917 a 1921, mas sim pessoas que nasceram sob o jugo soviético, ou seja, que pegaram o bonde andando, e nada mais natural que num contexto desse que aqueles que trabalhavam para a segurança interna e externa da Rússia visse a se tornar uma casta dirigente e privilegiada numa Rússia pós-soviética.
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