Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Maurício Mantiqueira
A era moderna será A.I. (antes da internet) e D. I.
(depois da internet).
Comprar vem de comparar. Obtém-se a propriedade pela
aquisição.
A comparação era feita nos mercados, nas bancas dos
comerciantes, à vista de todos os circunstantes.
A notícia é de que o
comércio eletrônico cresceu cerca de 25% neste Natal da crise.
Triunfará o portal que melhor souber descrever e
apresentar com imagens as suas mercadorias.
Uma grande rede de supermercados tenta impor na marra os
produtos com sua própria marca, tirando da gôndola as marcas de pequenos
produtores.
Em breve os consumidores reagirão. Comprar pela internet o
que realmente quer e não se submeter ao abuso, será uma realidade.
No momento a restrição é a ineficiência dos correios. As
mercadorias não estão sujeitas ao monopólio postal e, assim, surgirão empresas
de entrega a domicílio.
As lojas físicas são insubstituíveis na venda de roupa
feminina. É preciso prová-las para ver se caem bem. Igualmente as de automóveis
novos. O futuro comprador quer sentar dentro do veículo que considera adquirir.
Papelarias resistirão pela praticidade de se comprar
vários itens num mesmo local físico. Talvez as farmácias também permaneçam.
As pequenas livrarias desaparecerão. As grandes redes
talvez sobrevivam com lugar de lazer para adultos e crianças.
O setor de serviços é o que ocupará locais em locação.
Cabelereiros, lavanderias, pet shops, etc. continuarão nas
ruas.
Os bancos se enforcarão na própria tripa. Hoje tentam
dificultar o acesso de seus clientes aos caixas presenciais. Obrigá-los a pagar
contas por internet ou em caixas eletrônicas é uma violência. Idosos têm que
enfrentar várias filas (conta de luz, só nas lotéricas) e operar aparelhos com
dificuldades de visão e/ou coordenação motora.
O objetivo dos bancos é obrigar os clientes a aderir ao
débito automático, fonte de obtenção de informações valiosas para o negócio do
BigData.
Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador.
6 comentários:
Como é Difícil Ser Natural
É curioso como é difícil ser natural. Como a gente está sempre pronta a vestir a casaca das ideias, sem a humildade de se mostrar em camisa, na intimidade simples e humana da estupidez ou mesmo da indiferença. Fiz agora um grande esforço para dizer coisas brilhantes da guerra futura, da harmonia dos povos, da próxima crise. E, afinal de contas, era em camisa que eu devia continuar quando a visita chegou. No fundo, não disse nada de novo, não fiquei mais do que sou, não mudei o curso da vida. Fui apenas ridículo. Se não aos olhos do interlocutor, que disse no fim que gostou muito de me ouvir, pelo menos aos meus, o que ainda é mais penoso e mais trágico.
"Miguel Torga, in "Diário (1947)"
Portugal 12 Ago 1907 // 17 Jan 1995
Escritor/Poeta
Captar a Essência
Para perceberes tudo o que existe para lá do óbvio, é necessário estares atento aos sinais e que te permitas sentir para lá do normal. E isso só é possível se te alienares da matemática da mente e da racionalidade do que vês e do que ouves.
Conheço perfeitamente a magia de saber ouvir a intuição. E sim, refiro-me a magia porque é necessário alienarmo-nos do visível para lhe termos acesso. Quem apenas se limita a acreditar no que vê, nunca lhe achará sentido. A interpretação do que acontece à nossa volta tem múltiplas faces, porém existe uma ou outra que nos transcende para outros patamares de entendimento. Na vida tudo acontece ao mesmo tempo e com as mais variadas pessoas, no entanto podemos captar a essência do que verdadeiramente acontece e que não é visível se estivermos despertos. E estar desperto é estar consciente, atento ao mais pequeno sinal que a vida ou os outros nos dão.
As maiores oportunidades, assim como as grandes tomadas de consciência, nascem dessa ligação ao invisível, dessa passagem para lá do óbvio. As peças encaixam-se quando transcendes a matriz do que te foi ensinado para o mundo daquilo que é sentido.
"Gustavo Santos, in 'O Caminho'
Portugal n. 27 Mai 1977
Life Coach
É Preciso Regressar ao Amigo Íntimo
Custa, mas o melhor é ver o problema a toda a luz. No conceito do homem abstracto é necessário afinal meter tanto estrume, que não há entusiasmo que resista. Feito de mil incoerências, movido por sentimentos ocasionais, preso a necessidades rudimentares, o bípede real, ao ser premido no molde da abstracção, rebenta a forma. E é preciso regressar ao amigo íntimo, ao compadre, para se calcar terra firme. Numa palavra: não há um homem-símbolo que se possa venerar: há simples indivíduos cujas virtudes e defeitos toleram um convívio social urbano.
"Miguel Torga, in "Diário (1948)"
Portugal 12 Ago 1907 // 17 Jan 1995
Escritor/Poeta
O Abraço
O abraço. O abraço que parece estar a acabar. O abraço raro, o abraço verdadeiro. Da mãe que recebe o filho, da mulher que recebe o marido, do amigo que recebe o amigo. O abraço que não se pensa, que não se imagina. O abraço que não é; o abraço que tem de ser. O abraço que serve para viver. O abraço que acontece – e que não se esquece. Um dia hei-de passar todo o dia a ensinar o abraço. A visitar as escolas e a explicar que abraçar não é dois corpos unidos e apertados pelos braços. Abraçar é dois instantes que se fundem por dentro do que une dois corpos. Abraçar é um orgasmo de vida, um clímax de partilha – uma orgia de gente. Abraçar é fechar os olhos e abrir a alma, apertar os músculos e libertar o sonho. Abraçar é fazer de conta que se é herói – e sê-lo mesmo. Porque nada é mais heróico do que um abraço que se deixa ser. Porque nada é mais heróico do que ter a coragem de abraçar, em frente do mundo, em frente da dor, em frente do fim, em frente da derrota. Abraçar é a vitória do homem sobre o homem, da pessoa sobre a pessoa. Abraçar é celebrar a humanidade. Abraçar vale mais do que amar. Abraçar é o amor que se ultrapassa. O amor que se transmuta. O amor que se apaixona por se ser amor. Abraçar é mais do que o amor, mais do que a paixão, mais do que o tesão, a excitação ou a pulsão. Abraçar é para além do que abraça, para além do que é abraçado, para além do que sente ou que é sentido. Abraçar não se sente nem se sente muito. Abraçar é. E pode ser tudo aquilo que não é – mas que não deixa de ser. Pode ser o abraço que é “vem, ama-me”, pode ser o abraço que é “adoro-te, meu filho”, pode ser o abraço que é “obrigado por estares aí, meu amigo”. O abraço pode ser todos os abraços do mundo. E cada abraço é todos os abraços do mundo. E cada abraço é todos os mundos num abraço, em dois pares de braços que se tocam, que se fundem, que se encontram e que se elevam. Para lá do que sentem, para lá do que entendem. Um abraço verdadeiro é mentira, alucinação – e não é isso que o inibe de ser a mais verosímil das verdades, a mais palpável das realidades. Um dia, hei-de passar todo o dia a ensinar o abraço. Nas escolas, nas estradas, nos becos de urina e de lágrimas. O abraço. A unir o menino traquina e o menino traquinado, a criança que humilha e o desgraçado humilhado. O abraço. A unir. A prostituta que se rende e o gestor que se vende. O empregado que resiste e o cabrão que insiste. Todos. Num abraço. O abraço resolveria todos os problemas do mundo. E no entanto não deixaria de não resolver problema algum. E é sempre assim, no mundo, na vida, no sonho, na dor. É sempre assim e nunca deixará de ser assim: é aquilo que nada resolve que tem de resolver tudo o que há para resolver. Não tem nada que saber apesar de ninguém o saber: é aquilo que não serve para nada que serve para tudo.
Pedro Chagas Freitas, in 'Eu Sou Deus'
Portugal n. 25 Set 1979
Escritor
O Trato
Era assim meu afecto
e assim é que o conservo;
maduro na lembrança
e secreto e severo.
Não o pus (minha boca
altiva) em gesto ou voz;
meu sol no entanto era
muito mais sol.
Não o soubeste, e agora
se sabes, não te dói.
Se sabes, não te move,
dizes, e em ti não passou.
Não importa; do trato
não fui eu quem faltou.
Meu caminho foi feito;
ai de quem não amou.
Renata Pallottini, in 'Noite Afora'
Brasil n. 20 Jan 1931
Dramaturga/Ensaísta/Poeta
4 reais, grandes merdas isto ele já custava a 14 anos atrás, e quem se fode com isto, é o contrabando e o turismo estrangeiro...
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