Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Arthur Jorge Costa Pinto
Em seu discurso de posse, o novo
presidente do Banco Central foi incisivo ao garantir mudança na execução da
política monetária. Deixou nítido que o tripé macroeconômico (regime de metas
de inflação, fiscais e câmbio flutuante) retorna integralmente com seus
fundamentos já conhecidos da comunidade econômica brasileira, inclusive
destacando que a taxa de câmbio será verdadeiramente flutuante, com o objetivo
de cumprir essencialmente a meta de inflação, mirando, inicialmente, o ponto
central do intervalo da meta.
Esta iniciativa demonstra ser
completamente diferente do que os economistas do mercado financeiro imaginavam
quanto à missão do seu predecessor Tombini, que, na realidade, teve como uma
equivocada estratégia, acomodar sua luta contra a inflação às compressões
determinadas pela política fiscal, procurando atingir não o centro, mas o teto
superior da meta de inflação.
Diante de adversidades encontradas no
ambiente econômico internacional e nas circunstâncias degenerativas em que se
encontra nossa economia, vai ser extremamente gratificante e plenamente
educador acompanhar o cumprimento desta inevitável promessa.
Goldfajn terá que demonstrar ser um
notável “equilibrista”, já que deverá manusear a política monetária com
inusitada maestria para que seja possível conseguir dois propósitos que na
teoria são eminentemente antagônicos - a redução dos juros para favorecer os
investimentos e, paralelamente, estimular o crescimento da economia sem excitar
prematuramente a demanda de consumo e, consequentemente, sem alimentar a
inflação.
Pelo visto, não será uma tarefa
fácil, uma vez que vivenciamos uma situação que nos dá uma sensação de estarmos
envolvidos numa “dominância fiscal”, quando as indispensáveis medidas de ajuste
fiscal ainda se encontram tramitando no âmbito das intenções.
Quando se analisa o atual ambiente
econômico em que é inevitável o reequilíbrio das contas públicas, que deverá
ser resolvido rapidamente, fica bem mais fácil entender a sutileza do desafio
que aguarda o novo presidente do BC. Todos esses cortes e limites de gastos
públicos que estão sendo apresentados na mídia econômica pretendem, com muita
objetividade, frear a trajetória explosiva da dívida pública. Mas, nisso tudo,
temos que levar em consideração também, que nesta situação em que nos
encontramos, com ausência de um vigoroso crescimento econômico, nem se supõe,
amparando-se numa visão otimista, se o Congresso aceitará inteiramente o
acentuado corte previsto por este governo e se a conta irá fechar.
Alguns cálculos elaborados por
analistas econômicos deixam patente que nem aceitando toda a contenção de
despesas firmadas, inclusive a criação de um limite de gastos sem reajuste real
ao longo do tempo, haveria possibilidade de se consolidar a dívida pública em
prazo e níveis compatíveis.
Portanto, sem elevar a carga
tributária, como ambiciona o empresariado e grande parte da base aliada de
sustentação do governo Temer, dentro e fora do Congresso, mesmo apresentando um
crescimento médio em torno de 2% ao ano, provavelmente, se tudo correr bem,
somente a partir de 2017 a dívida pública, que hoje se situa um pouco inferior
a 70% do PIB (Produto Interno Bruto) estagnaria. E ainda assim, seguramente,
num patamar superior a 90% do PIB.
A grande questão a ser observada é
que a solução para nossa retomada do crescimento, passando por um cruel ajuste
fiscal, se não se apoiar também em aumento de tributos, dependerá
exclusivamente dos aspectos que foram produzidos para se obter um crescimento
mais significativo. Se verificarmos na nossa história econômica, a demonstração
empírica mostra que, sem fortalecer os investimentos, oriundos essencialmente
do aumento da oferta em infraestrutura com destaque para o segmento industrial,
a economia não progredirá de forma mais duradoura nem sequer sustentável.
É uma condição indiscutível que os
custos de financiamentos e as taxas de retorno são pontos fundamentais para
formar uma decisão antes de se investir. Portanto, os níveis das taxas de juros
praticadas terão um papel decisivo em conjunto com as taxas de câmbio
exercidas. Sobre esses dois fatores, conjuntamente, dentro da profunda essência
de um regime de câmbio flutuante limpo, é importante saber que eles são
inteiramente conectivos e atuam em direções contrárias.
Desejo, pessoalmente, pleno sucesso
ao Prof. Dr. Ilan Goldfajn neste seu novo desafio. Que ele possa através dos
seus vastos conhecimentos acadêmicos aliados a uma consistente experiência
profissional, encontrar o desejável BEP - “Break-even Point “(ponto de
equilíbrio) em que a taxa de juros seja bastante atrativa para ressuscitar os
investimentos e, no vácuo traga a economia, sem que a taxa de câmbio seja
impelida a uma desvalorização que venha a pressionar a devastadora inflação.
Arthur Jorge Costa Pinto é
Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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