Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja
O texto abaixo são as Considerações
Finais do livro “A Política Armada – Fundamentos da Guerra Revolucionária”, de
autoria de Hector Luis Saint-Pierre, editado em 1999 pela Editora UNESP. O
livro é, antes de tudo, um estudo minucioso, erudito e atualizado dos aspectos
estratégicos da guerra revolucionária. Atualmente, o autor é professor na
Universidade Estadual Paulista – UNESP -, Campus de Franco, onde coordena o
grupo de Estudos Estratégicos dos Movimentos Armados e dirige o Centro de
Estudos Latino-Americanos.
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Este trabalho concentra-se na parte
mais dura da luta revolucionária. Ou seja, no momento em que toda
violência social é organizada e canalizada estrategicamente para a guerra
revolucionária. O objetivo deste trabalho foi apenas o de refletir sobre o
significado político-estratégico dos meios utilizados pela luta armada, desde
os seus primórdios espontâneos até a mais sofisticada técnica da informática.
Talvez tenham razão Toffler &
Toffler (1944) quando dizem que não será lutando da maneira como o fizeram os
que ganharam a última guerra que a próxima será vencida, mas também é certo que
apenas estudando as formas como se lutou historicamente é que podemos conhecer
as novas alternativas tecnológicas e, fundamentalmente, compreender o
significado político das numerosas guerras atuais.
A Guerra do Golfo popularizou o
conceito equívoco de “guerra inteligente”. Com esse adjetivo especificamente
humano e com a transmissão televisiva em estilo hi-tech, a imprensa tentou passar a idéia de uma guerra “cirúrgica”, que se limitava a “extirpar” o estritamente necessário, evitado vítimas inocentes.
Mas, na realidade, essa “inteligência
aplicada à arte bélica não significou que a guerra tornou-se ‘mais humana” ou menos crue. Muito pelo contrário, parece que cada
passo no desenvolvimento tecnológico nos afunda mais na barbárie.
No contexto da guerra fria, Raymond
Aron dizia que a guerra era improvável, mas que a paz era impossível. Ainda
assim, para ele, a paz deveria ser perseguida como um princípio normativo. Se a
guerra parece inevitável, talvez devêssemos procurar os meios jurídicos para
que seja a menos cruel possível. Humanizar as guerras, procurando normatizá-las
juridicamente, embora difícil, deve ser um objetivo a ser perseguido. Mas não
devemos esquecer que não há forma incruenta de fazer a guerra, muito menos a
revolucionária, em que até a tortura é utilizada e justificada.
Só resta, então, premeditar a
política, a estratégia e os meios táticos que consigam evitar a guerra ou, pelo
menos, que levem rapidamente a seu término com o menor número de vítimas
humanas. Poder-ser-ia considerar essa postura como “belicista” ou ”militarista”,
e que teorizar sobre a luta armada significa aceitá-la u até mesmo propô-la. Só
podemos lembrar que o otimismo é compreensível e até desejável no líder, assim
como uma virtude naqueles – os condottieri - que devem inculcar o ânimo e o espírito de luta em seus
seguidores, mas esse mesmo otimismo no estrategista, constitui um pecado
mortal.
O político deve procurar, por todos
os meios, evitar a guerra, particularmente quando pertence ao campo popular –
quase sempre em inferioridade no poder de fogo em relação à disponibilidade de
meios das classes dominantes. Mas não pode desconsiderar a eventualidade de que
a luta, no seu processo de agudização e agravamento, possa tornar inevitável o
confronto armado.
Aqueles que tenham como valor
fundamental o princípio da igualdade social e que, coerentes com ele, decidam
colocar suas vidas a serviço da revolução, deverão estar cientes de que,
chegada a hora, talvez não possam eludir a responsabilidade de canalizar
estrategicamente o acúmulo de forças revolucionárias para a ruptura
institucional. Deverão saber que isso significa aceitar a possibilidade de ter
de matar ou morrer, ainda que muitas vezes isso resulte num sacrifício inútil.
Para tentar evitar que essa
canalização acabe em um fracasso militar certo e em um retrocesso político
incalculável, o projeto revolucionário deverá contar com uma concepção
estratégica adequada às relações de força que definam a situação. Mas uma
concepção estratégica não se improvisa da noite para o dia, muito menos uma
concepção estratégica revolucionária que deve equacionar um número muito grande
de variáveis, muitas delas levantadas com a imprecisão própria da
clandestinidade. Por isso, a questão da estratégia revolucionária deve ser
estudada, refletida e deliberada por todos aqueles que considerem entre os
futuros prováveis a revolução.
Tentamos mostrar, ao longo deste
texto, que não são os meios historicamente utilizados nas guerras
revolucionárias os que conferem a estas sua característica. Uma guerra não será
revolucionária por utilizar tais ou quais meios: a guerra é apenas um meio da
política e é esta que a caracteriza e define. Se a guerra revolucionária é “apenas” um meio da política revolucionária, não devemos esquecer
que é o mais drástico, e que se não é sabiamente deliberado quanto à sua
oportunidade, planificação e conseqüência, pode contribuir para eliminar
rapidamente toda uma geração de jovens revolucionários, como aconteceu em
vários países latino-americanos nas últimas décadas. Ante essa constatação
histórica, renova-se a advertência de Lenin: “A questão decisiva é sempre a de
saber se um determinado método de luta, numa dada situação, contribuirá com a
organização ou com a desorganização da força revolucionária, se contribuirá
para seu fortalecimento ou para seu debilitamento’.
Toda guerra, incluída a
revolucionária, é ua experiência marcante e trágica. Muitas vezes, seus efeitos
ficam extremamente longe dos desejados, quando não, seus resultados é
totalmente contrário às expectativas depositadas. Os riscos configurados diante
da eventualidade de um conflito bélico, seja este do tipo que for, exigem a
consideração de todas as variáveis intervenientes e, sobretudo, das
conseqüências que possam resultar dos acontecimentos desatados. Na guerra,
matar a ou morrer é inevitável, mas ante a derrota toda morte é estúpida. Um
quadro revolucionário é um elemento político sofisticado e raro da luta
revolucionária.
Sua formação leva muito tempo e seu
valor político-estratégico é incalculável para jogá-lo numa aposta incerta.
Diferentemente dos conflitos políticos-eleitorais ou políticos-parlamentares,
nos quais a derrota é apenas a passagem à oposição, mas ue em todos os casos
significa a permanência no “jogo” político,
no caso da guerra revolucionária a derrota pode significar a exclusão política
e, portanto, um retrocesso histórico da luta.
Se a a luta é provável, dever-se-ão
reavaliar e aperfeiçoar todos os meios para qualquer eventualidade que a
política proponha. A luta armada, pela sua periculosidade e complexidade, é um
meio que deve ser evitado, sem esquecer que não pode ser improvisado e, por
isso mesmo, não deve ser negligenciado. O caminho revolucionário muitas vezes
passa pela ruptura institucional, e não estar preparado política, estratégica e
taticamente para essa alternativa pode resultar em um suicídio coletivo.
Lançar-se à luta armada quando as
condições objetivas não estão suficientemente amadurecidas pode significar um “salto no escuro” ou uma “loucura coletiva”, mas não estar preparado para o momento em que as
trombetas de Marte anunciarem a chegada da hora, pode significar uma
irresponsabilidade histórica imperdoável e a tardia constatação de não haver
Estado à altura dos acontecimentos.
2 comentários:
A palavra "Estado" no trecho "não haver Estado à altura dos acontecimentos" é grafada em minúscula por se tratar do particípio do verbo "estar".
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acp
Escreva um seu artigo seu a desmentir o falso decalogo de lenin que desde que a internet existe engana tolos. Aquele, sobre greves, libertinagem, armas... Nem lenin nem nenhum comuna o escreveu.
Ou pesquise e publique artigo de outrem.
acp
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acp
Escreva um seu artigo seu a desmentir o falso decalogo de lenin que desde que a internet existe engana tolos. Aquele, sobre greves, libertinagem, armas... Nem lenin nem nenhum comuna o escreveu.
Ou pesquise e publique artigo de outrem.
acp
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