Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Hélio Duque
É um cenário ficcional, mas realista
nos atuais tempos brasileiros de corrupção generalizada. Imaginem nos
inquéritos instaurados nas várias operações que acontecem combatendo a
corrupção sistêmica. Seria o depoimento de dois réus. Ao chegarem ao Tribunal,
instala-se o tumulto, com acusações mutuas;
- Você é um ladrão – diz o corrupto.
- E você é um corrupto – retruca o
corruptor.
Serenado os ânimos, o juiz diz:
- Bem.... Agora que as partes se identificaram
corretamente, podemos iniciar o julgamento?
Em verdade, corrupto e corruptor são
faces de uma mesma moeda. A corrupção é um dos crimes que mais se faz em
segredo, acobertando-se na proteção mútua. Não é fácil a obtenção de provas das
ilicitudes. O desembargador Fausto De Sanctis, do Tribunal Federal da 3ª
Região, ensina: “É perfeitamente possível que provas indiretas formem a certeza
material ou a convicção sobre a existência de autoria de um determinado fato
criminoso. O uso de laranjas e empresas de fachada para titularizar bens
obtidos com o crime é prática reiterada.”
Se o corruptor é o agente deflagrador
onde o dinheiro público é o alvo, o corrupto é o agente público buscando o enriquecimento
ilícito. Atuam com espírito de corpo, certos da impunidade que nocauteia a
ética e a moralidade pública. Na formação histórica brasileira o julgamento da
legalidade processual, envolvendo corruptor e corruptores poderosos, sempre se
marcou pela seletividade. Felizmente, esse passado, de triste memória, vem
sendo sepultado pela “Operação Lava Jato”.
Com competência e segurança
jurídica vem radiografando a realidade da
corrupção e os seus tentáculos no executivo e no legislativo. O Ministério
Público Federal, a Polícia Federal, a Receita Federal e a Justiça Federal, nas
suas várias instâncias, vêm escrevendo um novo tempo no Brasil. Essa força
tarefa vem desmontando o maior assalto de corrupção da vida nacional. Os
corruptores e corruptos estão conhecendo, de maneira inédita, a força da lei,
sendo identificados corretamente. Os réus não detentores de foro privilegiado
estão sendo punidos, muitos deles em prisão fechada e outros em detenção
domiciliar.
Já os políticos que vem sendo apontados
como beneficiários nos vários depoimentos pelos empresários corruptores, veem
os seus processos tramitando diretamente no Supremo Tribunal Federal. O
fatiamento da “Lava Jato” é determinado pela existência do foro privilegiado
para os delinquentes políticos. E é aí que mora o perigo quando medidas
protelatórias, claramente retardatárias, patrocinadas pelos “advogados porta de
mansão”, altamente estipendiados, recorrerão com as chicanas conhecidas.
A advertência do professor Oscar
Vilhena, de direito constitucional do FGV (Fundação Getúlio Vargas) é oportuna:
“A Lava Jato ou qualquer processo judicial no Brasil, não está livre de acabar
em prescrição”. A prescrição ocorre quando se encerra o prazo legal para o
Estado executar a sua capacidade punitiva. Levando a opinião pública acreditar que
o sistema jurídico favorece a impunidade.
No Congresso Nacional, quando o seu
presidente Renan Calheiros (envolvido em várias denuncias) acusa o Ministério
Público de “exibicionismo e espetaculosidade” e ameaça com aprovação de
legislação anti Lava Jato, não é fato isolado. O ocorrido na Câmara dos
Deputados, na semana passada, na surdina, tentou-se a votação de projeto anistiando o caixa 2 de
campanha até a data da aprovação da lei. A um só tempo anulava a contabilidade
paralela e derrubava o item 8 do pacote anticorrupção do Ministério Público que
criminaliza o caixa 2.
Seria votado, em regime de urgência,
com a conivência dos grandes partidos. Foi quando o experiente parlamentar Miro
Teixeira denunciou a farsa: “Nós estamos aqui para permitir que o País ande,
não estamos para avançar num poço de suspeitas”. Foi um tiro certeiro,
secundado por outros parlamentares sérios, obrigando a retirada do projeto
imoral. E o mais anedótico: até agora não apareceu as digitais do autor da
trama farsesca que anistiaria a corrupção. A falcatrua e bandidagem explícita
não teria autor. Felizmente o assalto deu errado.
Os brasileiros devem se mobilizar
para impedir que o Congresso Nacional seja o grande obstáculo à “Operação Lava
Jato”, Os sinais emitidos até agora são preocupantes, demonstrando que a
aliança de corruptor e corruptores no Legislativo não é ficção. Hoje o
Congresso é diferente de outros tempos, relembrado pelo médico mineiro e
deputado federal por quatro mandatos, Sérgio Miranda: “Até a Constituinte a
política era comandada por idéias, gerando disputas que dividiam e apaixonavam.
Fazia-se luta política, não luta pelo poder como hoje. As grandes questões
daquele tempo produziam grandes debates. A partir do governo FHC começou a
suspeição do Congresso e o declínio da política que com Lula chegou à
decadência”.
Helio Duque é doutor em Ciências,
área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado
Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Um comentário:
O HÉLIO Duque deveria escrever um pouquinho sobre as mérdas que fizeram em seus mandatos e todos se calaram sem se quer serem investigados. Que nos governos Lula e FHC teve muita mérda disso já sabemos, agora porque os FDP que os antecederam largaram essa porra ainda pior e ainda pagam de santos não foram nem se quer mencionados ninguém sabe...
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