Ken Follet
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Renato Sant’Ana
O irlandês Ken Follet é um dos
maiores autores contemporâneos do que há de mais instigante em literatura, o
romance histórico. Mais instigante e mais interessante porque, podendo abranger
as características dos demais gêneros (inclusive a elaboração psicológica de
personagens), apresenta os fenômenos históricos da época retratada pelo autor.
E é o de elaboração mais trabalhosa, precisamente pela árdua pesquisa que o escritor
tem de fazer para que a conexão com a história seja fidedigna.
Muitos e grandes autores
incursionaram com sucesso no gênero: Victor Hugo, Tolstoi, Roger Martin du
Gard, Érico Veríssimo, Umberto Eco, José Luis Corral, entre outros.
Na trilogia "O século", Ken
Follet faz um impressionante retrato do complexo e desconcertante século XX -
que, como se verá, só termina em 2008, com a eleição de Barack Obama. A
narrativa acompanha cinco famílias (americana, alemã, russa, inglesa e galesa)
ao longo de três eventos centrais do século 20: as duas grandes guerras
mundiais e a Guerra Fria.
Diálogos entre personagens históricos
que precederam, articularam ou tentaram evitar as grandes guerras do século; a
conquista do sufrágio feminino; o segregacionismo racial e a luta pelos
direitos civis nos EUA; o mundo polarizado entre duas potências e a Guerra
Fria; a bomba atômica; o cinematográfico ataque japonês a Pearl Harbor. Os
grandes acontecimentos do século XX ali estão em uma narrativa fiel aos fatos, mas
com o timbre do romancista, o que torna viva a história e captura o leitor.
Rigor e disciplina
Para não esbarrar em incorreções
históricas e evitar contradições entre os fatos de um século inteiro condensado
em três grandes livros, Ken Follet utilizou ferramentas que não existiam nos
anos 1970, quando ele estreou como escritor - com especial destaque para o
Excel, programa para criar tabelas e calcular dados no computador. "Tenho
de ser mais cuidadoso. Se quisesse dizer que, Na Idade Média, um dia o rei foi
ao campo, eu poderia: ninguém sabe bem onde o rei estava na maior parte do tempo.
Agora, se quero dizer que o presidente Roosevelt foi a tal lugar tal dia, tenho
de ter certeza. Alguém em algum lugar sabe onde ele esteve em cada dia de sua
presidência", disse Follet à Folha de S. Paulo (coluna de Raquel Cozer,
10/01/2013).
Atos da maior grandeza, assim como as
piores vilanias: a humanidade cheia de contradições está retratada de corpo
inteiro em "O século". O que mais deveríamos esperar de uma obra de
arte? nada de concessões, nenhum engajamento senão no esforço de ser profundo e
o mais verdadeiro possível.
Aliás, por não demonstrar inclinação
panfletária e, principalmente, por ganhar dinheiro com seus livros, Ken Follet
conta com a antipatia de alguns "intelectuais" convencidos de serem
"progressistas". Pontos para ele!
Arte de presentear
Há uma unanimidade: todo mundo fala
em defesa da educação e, quase na mesma medida, da cultura. Mas, quantas
pessoas já deram livros de presente alguma vez? E quantas terão por hábito
fazê-lo? Talvez jamais se haja feito semelhante pesquisa.
Tudo bem. É natal. Distribuição de
presentes. Imaginem, ao menos, o jovem que vai fazer vestibular. Eis um
presente que lhe pode servir muito. Ao ler o retrato de uma época nas páginas
de Ken Follet, ele terá muito mais facilidade para estudar a história do século
XX, o que será exigido no exame. Com efeito, sem substituir o texto didático,
romances históricos ajudam a resolver o que costuma ser um problema: a
enfadonha tarefa de memorizar datas, nomes, fatos, circunstâncias. Ao natural,
a literatura estimula a imaginação, a empatia, o pensamento abstrato e a
memória - sem exigir esforço. Em suma, é, ao mesmo tempo, diversão e fonte de
conhecimento.
Resolvido. Livros na árvore de natal!
Presente para filhos, sobrinhos e afilhados, livro é investimento, não consumo.
A trilogia de Ken Follet, por sinal, custa menos do que uma roupa de marca...
Renato Sant'Ana é Psicólogo e
Bacharel em Direito.
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