Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Paulo César de Castro
Em uma manhã de três de dezembro de
dois mil e dezesseis, na catarinense Chapecó, centenas de pessoas estiveram
unidas por emoções, dores e lágrimas. Flores, faixas, cartazes, fotografias de
jogadores e camisas da Associação Chapecoense de Futebol foram vistas mundo
afora. O povo simples, sincero e ordeiro demonstrou seus sentimentos ao longo
do itinerário percorrido pelo cortejo fúnebre do aeroporto até a Arena Condá.
Esse modesto estádio abrira seus portões para o velório coletivo de atletas,
dirigentes e jornalistas, vítimas fatais de trágico acidente aéreo na Colômbia.
Através da televisão, milhões de brasileiros solidarizavam-se com os
chapecoenses naqueles momentos de luto. Compartilhavam a mesma dor dos que
choravam por entes queridos, amigos e heróis do esporte.
Eis que um verdadeiro dilúvio se
abateu sobre a cidade. Chovia torrencialmente, mas um doloroso cerimonial
deveria ser cumprido, malgrado o alagamento do pátio de estacionamento de
aeronaves e do gramado do estádio.
Nesse cenário, desponta o Exército
Brasileiro.
Nossa Força recebeu respeitosamente
os caixões com os restos mortais transportados até Chapecó nas asas da Força
Aérea Brasileira. A família verde-oliva orgulhou-se do desempenho de sua tropa
que, sob aquelas condições de tempestade inclemente, trazia das aeronaves,
ritual e impecavelmente, os ataúdes lacrados. Graduados, com braço forte,
uniformes encharcados e corações feridos, desfilavam até a guarda de lanceiros.
Estes boinas pretas, com garbo e porte marcial, apresentavam armas à passagem
pelo tapete vermelho daqueles que tanto fizeram por merecer.
Aqueles guerreiros do Exército eram
cavalarianos do velho Corpo da Guarnição da Província de Goiás (1842), atual 14⁰ Regimento de Cavalaria Mecanizado, “Lanceiros do Ponche Verde”,
aquartelado em São Miguel do Oeste (Santa Catarina). Evidenciaram rusticidade,
responsabilidade e dedicação no cumprimento do dever, sob condições climáticas
e afetivas assaz adversas. Podia-se ver a chuva escorrendo pelos rostos e
uniformes dos soldados de Caxias e de Osório. As imagens eram transmitidas ao
vivo para inúmeros países. Falavam por si mesmas e expressavam, em verdadeira
grandeza, o valor da mão amiga de nossos irmãos de armas.
Não hesitaram. Não tremeram. Contudo
é certo que sentiram no fundo da alma e no arrepio da pele ‒ e de muito perto
‒as perdas irreparáveis daquelas vidas inesperadamente ceifadas. Afinal, a “a
farda não abafa o cidadão no peito do soldado”, afirmou o Marquês do Herval.
Legaram exemplos de abnegação, disciplina, persistência, equilíbrio emocional e
sobriedade.
Um observador atento salientará que
houve exame de situação profissional, meticuloso planejamento, detalhado
reconhecimento e árduo treinamento. O mesmo observador afirmará, sem errar, que
aquela tropa executou a manobra sob firme liderança militar em diferentes
escalões de comando. Nossa gente demonstrara porque o Exército ‒ e as Forças
coirmãs ‒ ostentam, junto ao povo brasileiro, índices de credibilidade
invejáveis.
O cerimonial não foi apenas
integralmente cumprido, foi exemplarmente cumprido por tropa de elevado moral.
Orgulhemo-nos dos nossos cavalarianos do 14⁰ RCMec. Eles ultrapassaram o objetivo de cumprir a missão com
êxito, foram mais do que o Regimento, transformaram-se e revelaram ao mundo o
Exército do Ponche Verde, o Exército Brasileiro.
Paulo Cesar de Castro é General de
Exército na reserva.
Um comentário:
Sou reservista de primeira. Agradeço ao Exército boa parcela da minha formação moral. Essa é uma instituição de estado sempre respeitei e espero continuar respeitando até o fim da minha vida, apesar de seus dilapidadores traidores.
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