Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos
I. S. Azambuja
Não há
vida interior, não há justiça divina, não há história sem revolução, nem
revolução fora do proletariado armado pelo Partido. E não há Partido fora da
direção stalinista (O Ópio dos Intelectuais – Raymond Aron)
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Na filosofia stalinista, o “Estado privilegiado”, ou ‘total” não se dissolve em um ideal, ele se degrada em um acontecimento prosaico. Para o ortodoxo, assim que um Partido Comunista toma o Poder a ruptura está feita, e entra-se na via da sociedade sem classes. No entanto, nada se resolve assim, e as mesmas necessidades de acumulação, de remuneração desigual, de incentivos ao esforço e de disciplina de trabalho subsistem depois da Revolução. Mas, para o ortodoxo, todas essas servidões d civilização industrial mudaram de sentido, pois o proletariado reina e o socialismo está sendo edificado.
Ao confundir o ideal ou um episódio com um objetivo ao mesmo tempo próximo e sagrado, homens de igreja e homens de fé recusam, com indiferença ou desprezo, as regras da sabedoria que os homens de Estado elaboraram para tornar úteis à sociedade o egoísmo e as paixões dos indivíduos.
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Na filosofia stalinista, o “Estado privilegiado”, ou ‘total” não se dissolve em um ideal, ele se degrada em um acontecimento prosaico. Para o ortodoxo, assim que um Partido Comunista toma o Poder a ruptura está feita, e entra-se na via da sociedade sem classes. No entanto, nada se resolve assim, e as mesmas necessidades de acumulação, de remuneração desigual, de incentivos ao esforço e de disciplina de trabalho subsistem depois da Revolução. Mas, para o ortodoxo, todas essas servidões d civilização industrial mudaram de sentido, pois o proletariado reina e o socialismo está sendo edificado.
Ao confundir o ideal ou um episódio com um objetivo ao mesmo tempo próximo e sagrado, homens de igreja e homens de fé recusam, com indiferença ou desprezo, as regras da sabedoria que os homens de Estado elaboraram para tornar úteis à sociedade o egoísmo e as paixões dos indivíduos.
Limitação dos poderes, equilíbrio das
forças, garantias da justiça: com a serenidade dos sonâmbulos, eles abrem a
obra da civilização política, lentamente construída ao longo da eras e sempre
inacabada. Admitem um Estado absoluto, supostamente a sérvio da Revolução, e
desinteressam-se da pluralidade dos partidos e da autonomia das organizações operárias.
Não se sentem indignados quando advogados investem contra os seus próprios
clientes, nem quando acusados confessam crimes imaginários. Não está a justiça
revolucionária orientada para a “solução radical do problema da coexistência”,
enquanto a “justiça liberal” aplica leis injustas?
Quem se move na história sem
conhecimento da sua última palavra, às vezes hesita diante de uma iniciativa
desejável, mas cujo curso seria elevado demais. Homens de Igreja e homens de fé
ignoram tais escrúpulos.
O fim sublime desculpa meios
horríveis. Moralista contra o presente, o revolucionário é cínico na ação e se
indigna contra as brutalidades policiais, as cadências inumanas de produção, a
severidade dos tribunais burgueses, a execução de acusados cuja culpa não foi
demonstrada a ponto de eliminar todas as dúvidas.
Nada, além da “humanização” total
pode acalmar sua sede de justiça. Mas, quando esse mesmo revolucionário decide
aderir a um partido, tão implacável quanto ele, contra a desordem estabelecida,
eis que, em nome da Revolução, tudo o que, até então, era incansavelmente
denunciado, é perdoado. O mito revolucionário lança uma ponte entre a
intransigência moral e o terrorismo.
Nada mais banal do que esse jogo
duplo do rigor e da indulgencia. Em nossa época, o idólatra da história é a sua
encarnação, senão a sua origem intelectual. A pretexto de se atingir o sentido
da História, são deixadas de lado as servidões do pensamento e da ação.
A pluralidade dos sentidos que
atribuímos a um ato, revela não a incapacidade, mas os limites do nosso saber e
a complexidade do real. É explorando um mundo, por essência, equívoco, que se
pode atingir a verdade. O conhecimento não é inacabado por nos faltar
onisciência, mas por estar a riqueza de significações inscrita no objeto.
A pluralidade dos valores aos quais
devemos nos referir para julgar uma ordem social, não demanda uma escolha
radical. Os costumes são deixados à pura diversidade. Para os ideais
reivindica-se uma validade universal. Os sistemas econômicos e políticos se
situam entre estes e aqueles.
Não são indefinidamente variados como
os costumes, nem subtraídos ao devir como os princípios de um direito humano.
Eles impedem a aceitação do ceticismo anárquico – para o qual todas as sociedades
são igualmente detestáveis, e cada pessoa, afinal, decide como bem entende – e
condenam também a pretensão de ter a posse do segredo único da sociedade
humana.
Uma solução do “problema econômico” e
do “problema político” é concebível por ser possível precisar os dados
constantes de ambos. Mas essa constância não permite imaginar que possamos
saltar de repente da ordem da necessidade para a de liberdade.
O fim da História, segundo a religião
revelada, pode resultar de uma conversão das almas ou de um Decreto de Deus. A
abundância relativa ou absoluta, a pacificação das relações entre as
coletividades, a submissão voluntária dos governados aos governantes, não
escapam de uma definição.
Confrontamos as realidades que se
oferecem a nós com esse fim quando medimos a distancia entre o que é e o que
deveria ser, graças a esse confronto, podemos escolher, racionalmente, mas à
condição de nunca assimilar o objeto da nossa escolha histórica à idéia da
solução radical.
Essa idéia julga as ideologias,
cínicas ou naturalistas, que vêem o homem como um animal e ensinam a tratá-lo
como tal. Ela autoriza a condenação das instituições que, por si mesmas, negam
a humanidade dos homens. Ela nunca permite que se diga qual deve ser,
concretamente e em determinada época, a ordem social, e nem qual deve ser, em
um determinado momento, o nosso engajamento.
A historicidade essencial das
escolhas políticas não se baseia nem na rejeição do direito natural, nem na
oposição dos fatos e dos valores, nem no mútuo estranhamento das grandes
civilizações, nem na impossibilidade de diálogo com quem recusa a discussão.
Admitamos princípios de direito superiores no decorrer da História; afastemos
do diálogo o interlocutor que só quer Poder e pouco se importa em ser pego em
flagrante delito de contradição; ignoremos a alma singular das culturas
incapazes de comunicação.
A escolha política, mesmo assim,
seria inseparável das circunstâncias específicas, seria eventualmente razoável,
mas nunca poderia ser demonstrada, nunca seria da mesma natureza que as
verdades científicas ou os imperativos morais.
A impossibilidade de uma prova se
deve às leis ingratas da existência social e à pluralidade de valores. É
preciso incentivar o esforço para fazer crescer a produção e edificar um Poder
para levar à cooperação os indivíduos discordantes; essas necessidades
inelutáveis marcam a distância entre a história que vivemos e o fim da história
que concebemos.
Não que o trabalho e a obediência
sejam, como tais, contrários ao destino humano, mas assim se tornam quando
nascem da imposição. Ora, em sociedade nenhuma, em época nenhuma, a violência
deixou de ter o seu papel. Nesse sentido, a política sempre foi o mal menor, e
continuará sendo enquanto os homens continuarem a ser o que são.
O que passa como otimismo é, no mais
das vezes, o resultado de um erro intelectual. É lícito preferir racionalmente
a planificação ao mercado; quem espera da planificação a abundância se engana
quanto à eficácia dos funcionários públicos e aos recursos disponíveis. Não é
absurdo preferir a autoridade de um partido único à lentidão das deliberações
parlamentares: quem conta com a ditadura do proletariado para alcançar a
liberdade se engana quanto às reações dos homens e subestima as conseqüências inevitáveis
da concentração do Poder em poucas mãos.
É possível transformar os escritores
em engenheiros das almas e pôr os artistas a serviço da propaganda; quem se
espana que os filósofos prisioneiros do materialismo dialético ou os
romancistas sujeitados ao realismo socialista careçam de genialidade, se engana
quanto à essência da criação. Nunca o sentido específico das grandes obras foi
encomendado pelos chefes do Estado. Os idólatras da História multiplicam as
devastações, não por ser animados por bons ou maus sentimentos, mas por terem
idéias erradas.
A realidade humana em devir tem uma
estrutura, os atos se inserem nos conjuntos, os indivíduos são ligados a
regimes e as idéias se organizam como doutrinas. Não se pode pressupor no
comportamento ou no pensamento dos outros um significado arbitrariamente
deduzido da nossa leitura dos acontecimentos. Nunca se diz a última palavra, e
não se deve julgar os adversários como se a nossa causa representasse a verdade
última.
O conhecimento verdadeiro do passado
nos remete ao dever da tolerância. A falsa filosofia da História dissemina o
fanatismo.
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O texto acima é um dos capítulos do
livro “O Ópio dos Intelectuais, escrito por Raymond Aron, filósofo e sociólogo
francês, autor de “As Etapas do Pensamento Sociológico” e o “Marxismo de Marx”,
entre outros livros.
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
2 comentários:
E no futuro não muito distante:
- "Queria o livro de filosofia de Dilma Rousseff"
- "Procure na seção de humor".
Temos um grande dilema, odiamos comunismo e os seus, mas convenhamos que poucos sabem como anular esse demonio que tenta arrebatar o mundo desde que existiu politica. Vai ai uma dica para iniciar combate a comunistas, aprendam como eu que desde criança meus pais me alertavam contra esses vermes, evitem ouvir comunistas, todos eles aprendem táticas de persuazão, até deixam voce abrir a geladeira da casa deles, isso para te convencer que são humildes e companheiros, a coisa funciona assim na cabeça deles, tudo junto e misturado, outra dica nunca apoiem um comunista entrar para familia, faça como eu se descobrir que a mulher se cobre de vermelho dispense, mesmo que diga que te ama acima de tudo, logico que é uma estrategia dela na primeira chance seras enterrado de ponta cabeça no jardim. Entao e assim, alerta total em tudo, pois os comunas estao em todo lugar, e pior estao nas faculdades formando os proximos zumbis, cuidem de seus familiares não deixem essa raça nem frequentar sua casa, pois se deixar pode virar um QG dessa facçao maudita.
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