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Por Carlos
I. S. Azambuja
Rio de Janeiro, 16 de novembro de
1970
Excelentíssimo Senhor Marechal do Ar
Marcio Souza Mello
D.D. Ministro da Aeronáutica
D.D. Ministro da Aeronáutica
Douglas Saavedra Durão, Major R/1 do
Exército Brasileiro, ora no exercício da função de titular do 14 Ofício de
Notas da Justiça do Estado da Guanabara, vem, pela presente, trazer ao
conhecimento de Vossa Excelência o que pôde constatar sobre o tratamento
dispensado ao seu filho Jorge Eduardo Saavedra Durão, acusado de atividades
subversivas e preso à disposição da Terceira Zona Aérea, sob o comando do
excelentíssimo Senhor Brigadeiro do Ar João Paulo Moreira Burnier.
Inicialmente, esclareço a Vossa
Excelência que, tendo sido declarado Aspirante a Oficial em 1940, tive a honra
de, em 1942, ser nomeado Ajudante de Ordens do então Ministro da Guerra,
Excelentíssimo Senhor General Eurico Gaspar Dutra, um dos mais implacáveis
repressores do Comunismo Internacional, cujo partido pôs fora da lei, como
Presidente da República.
É evidente que, tendo exercido tal
cargo de confiança junto a esse insigne brasileiro, como coroamento de uma
amizade pessoal que cultivo desde os tempos de cadete do Realengo, até hoje,
não poderiam ser outras minhas convicções, senão aquelas da completa repulsa a
qualquer atividade anti-Pátria.
Embora ferido no mais fundo do meu
ser pelos fatos que culminaram na prisão do meu filho, vítima de uma
doutrinação precoce, numa época de desatinos e desmandos, em que o próprio
Presidente da República, João Belchior Goulart, seus familiares e apaniguados,
estimulavam a subversão da ordem, não me posso furtar a dar, de próprio punho,
o testemunho da orientação esclarecida e sadia adotada pela Terceira Zona Aérea
no tratamento de presos políticos sob sua guarda, sem distinção de classe e
origem.
Desde o dia 15 de julho do corrente
ano, data em que tomei conhecimento da prisão do meu filho, eu e o Cel Klecius
de Penafort Caldas, seu padrinho, não tivemos qualquer empecilho quanto a
visitas e entrega de objetos de uso pessoal.
Sentimos, desde logo, que nossa
presença era até desejada, dentro de um evidente esquema de recuperação
daqueles jovens intoxicados. Em tudo o que observei e pelas conversas que tive
com o meu filho, quero congratular-me com Vossa Excelência e com seus dignos
auxiliares pelo sentido humanitário que caracterizou os interrogatórios, a
eficiente assistência médica, excelente alimentação e o próprio confinamento,
de portas abertas à visitação de pais, parentes e amigos.
Cumpre-me, ainda, ressaltar as figuras
do Capitão Pinto e do Coronel Jayme Bastos Filho, aos quais foi entregue meu
filho, que havia sido preso quinze (15) dias antes em Porto Alegre, e estava
arrasado moral e fisicamente. Ditos oficiais transformaram meu filho num homem
que já pensa no futuro e em reintegração ao meio social.
Está claro que Vossa Excelência
poderá fazer uso desta carta, dentro do seu alto descortínio, como lhe
aprouver, inclusive publicando-a na íntegra, se assim lhe parecer acertado.
Com subido apreço e admiração.
Douglas Saavedra Durão
14 Ofício de Notas
Rua Sete de Setembro 63-A
Rio de Janeiro
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14 Ofício de Notas
Rua Sete de Setembro 63-A
Rio de Janeiro
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OBSERVAÇÃO
Quando foi preso, Jorge Eduardo
Saavedra Durão era membro do Comando Nacional do Movimento Revolucionário Oito
de Outubro (MR-8).
2 comentários:
O Cel. Klecius Penafort Kaldas citado na carta foi um dos maiores compositores do carnaval brasileiro.
A carta é bonita e sensibiliza. Mas, não houve jeito: o camarada preso,motivo da carta paterna, não tomou emenda. É só ler (quem suportar) uma entrevista dele em 2005:
http://www.lainsignia.org/2005/agosto/ibe_004.htm
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