Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Hélio Duque
É preciso dizer esta verdade: o Brasil está fiscalmente
quebrado. Os gastos do setor público são superiores ao que se arrecada, gerando
“déficit primário” de 2,2% do PIB (Produto Interno Bruto). A redução das
receitas, entre 2011 e 2015, oriundas da equivocada política econômica, anulou
o superávit primário médio que vinha sendo de 2,4%. A dívida bruta em relação
ao PIB, como decorrência da nova matriz econômica, produziu o desastre em que
estamos mergulhados.
Investimento em infraestrutura, saúde, segurança, educação e
afins foram as principais vítimas. Sem
reformas estruturais que limite os gastos públicos, disciplinar o poder do
corporativismo estatal, a situação fiscal será caótica. Em 2017, o déficit
primário previsto é de R$ 159 bilhões. Para 2018, o cenário não é diferente.
Ante essa realidade, quem acompanha o noticiário veiculado pela
mídia eletrônica, a ação dos parlamentares e dos analistas políticos, essas questões
são tangenciadas. A falta de rudimentares conhecimentos da economia da maioria
dos políticos e de muitos analistas na área jornalística, não enxergam a
gravidade do momento em que está mergulhada a economia brasileira.
No Congresso prevalece a falta de racionalidade no enfrentamento
realista, com propostas consistentes, seja à direita ou à esquerda, despidas de
ranços populistas. Em áreas do jornalismo político televisivo contenta-se em
relatar episódios isolados envolvendo os personagens públicos em tramas e
fofocas, atribuindo a fontes dos bastidores.
O jornalismo político, divorciado da realidade econômica, e a
grande maioria dos homens públicos não informam a sociedade com rigor da crise
fiscal gravíssima. O governo Michel Temer, enquanto vice-presidente, foi
partícipe juntamente com o seu partido, do desastre fiscal e econômico
construído ao longo do governo Dilma Rousseff. Ao chegar à presidência
despertou para a gravidade da crise, em autêntica “mea culpa”, mudou a política
econômica.
Desaprovado popularmente tem na sua equipe econômica a
sustentação no enfrentamento do incesto produzido, em anos recentes, pelo
contubérnio dos setores públicos e privado. Enfraquecendo o Estado,
privilegiando grupos privados delinquentes, retratados na corrupção ampla e
geral que a “Operação Lava Jato” vem, há três anos, demonstrando
documentalmente.
Reconstruir os pilares da economia brasileira é missão que
durará muitos anos. Infelizmente com o combate feroz dos porta vozes cínicos
dos autores e responsáveis, com presença no Congresso e em setores de um
jornalismo militante, buscando atribuir virtudes a um tempo passado de
governabilidade, onde a tragédia política, econômica e social foi construída
com aplauso, infelizmente, de amplas áreas da própria sociedade.
Felizmente o Brasil é maior do que o pessimismo que estamos
vivendo. A degeneração ética e moral, a tragédia econômica, a perda de
confiança nas instituições políticas, é reflexo da maior recessão econômica da
sua história. Pesquisa do Ibope, realizada recentemente, apontava que 15% dos
brasileiros não confiam em membros da própria família. Cerca de 33% não confia
no círculo de amizades e 45% dos pesquisados acreditam que quem nasce no Brasil
não merece confiança. Quando se trata das instituições, Congresso Nacional,
governo, partidos políticos a desaprovação fica acima dos 80%.
Ante um cenário dessa gravidade, é preciso buscar com
competência um novo caminho para o futuro, enfrentando a “velha política”,
restaurando com disciplina espartana as instituições do Estado, em todos os
níveis, buscando novas lideranças capazes de apontar um futuro para o Brasil.
Para isso a sociedade brasileira precisa despertar do torpor alienado Onde ela
(a sociedade) é a grande vítima.
Em 2018, ocorrerá uma oportunidade que não pode ser perdida, com
debates estéreis. Deve se buscar quem venha a formular um projeto nacional,
onde não prevaleça o “nós” e “eles”, mas os verdadeiros interesses da nação.
Consciente do fato de não existir salvadores da Pátria.
Hélio Duque é doutor em
Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi
Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia
brasileira.
Um comentário:
A Revolução Francesa aconteceu, porque a Coroa - leia-se Luiz XVI - não conseguiu consertar as finanças do Estado. E não conseguiu por que ? Porque o corporativismo não permitiu, corporativismo representado pelos funcionalismo público e pelos artesãos, principalmente aqueles que atendiam a nobreza. Isto lembra alguma coisa ?
E ainda tem quem defenda a Monarquia para consertar o Brasil.
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