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Por Arthur Jorge Costa Pinto
O Índice da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) segue
correndo atrás do prejuízo, dentro de uma robusta tendência principal de alta,
quando os investidores tiveram a oportunidade de comemorar com maior segurança
a mudança nas perspectivas para o país a partir do início do ano passado. Na
última semana, o antigo topo histórico alcançado de 2008 foi enfim
ultrapassado, somente em valores nominais.
Naquela época, o Brasil esteve numa euforia contagiante - tinha
acabado de alcançar o seu “investment-grade” ou grau de investimento, uma nota
atribuída aos países por agências de classificação de risco e que indicam,
grosso modo, a capacidade que os países têm de pagar suas dívidas internas e
externas. Tudo era festa, havia autossuficiência em Petróleo, crédito farto e
um operário no poder.
Segundo a Economática, apesar da forte alta em termos nominais,
o mercado ainda está um pouco longe de seu pico, em termos reais. Se for
considerado em conta o valor em dólares do índice, o Ibovespa está hoje em
24.042 pontos, praticamente a metade dos 44.616 pontos do recorde histórico,
atingido em 19 de maio de 2008. Ou seja, mesmo com a alta atual, o Ibovespa
ainda se encontra na verdade 46% abaixo do seu pico.
Como em 2008 o dólar estava em torno de R$ 1,60, falta
justamente uma alta por volta de 85% para se chegar na máxima histórica, em
dólar. Isso quer dizer que, em dólar, a bolsa tem reais condições de subir
muito ainda, já que os investidores estrangeiros estão enxergando a máxima
histórica ainda muito distante, mas o dólar também pode cair e acelerar o
ajuste.
Se for considerada a variação da inflação medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o recorde do Ibovespa de maio de
2008 equivaleria naturalmente a 127.960 pontos, e o índice, hoje, estaria ainda
42% abaixo do recorde. Logo, em termos reais, o Ibovespa ainda teria muito
espaço para subir antes de atingir o pico histórico de 2008, o que não
significa que ele vai continuar subindo.
A ruptura da máxima histórica da Bolsa brasileira realmente não
surpreende muito se a analisarmos dentro de um amplo contexto a nível global.
Na realidade, é bem provável que estávamos atrasados (e ainda estamos).
Parece-me que o mercado brasileiro estava com uma dívida de “upside” (potencial
de valorização de uma ação em determinado período e sua cotação atual), tanto
na comparação com locais desenvolvidos quanto no confronto com as praças
emergentes.
Quem se movimenta guiado por sinais cartesianos nunca vai
entender o que embala o ânimo dos investidores na Bolsa de Valores. Mas a regra
é muito simples: estabilidade de indicadores macroeconômicos e governo com
credenciais para seguir em frente na sua gestão estão precipuamente ligados e
promovem lucratividade. Especialmente esse segundo fator, que pesa
consideravelmente.
A grande questão é que existem justificativas plausíveis que
influenciaram as altas verificadas ultimamente na Bovespa: a liquidez
internacional ainda se encontra intensa, especialmente em função das taxas
baixas de juros praticadas notadamente nos EUA. Isto é, o ambiente externo
segue oportuno para quem tem um maior apetite ao risco e para o fluxo de
capital internacional em países como o Brasil; há persistência na queda
contínua da Selic (taxa básica de juros), reduzindo de alguma forma a
atratividade por investimentos em renda fixa e aumentando a busca por ativos de
maior risco como o mercado acionário; há sinais de uma próspera recuperação em
nossa economia, restabelecendo a perspectiva em relação ao resultado das
empresas de capital aberto; há melhora no prêmio de risco do Brasil, refletindo
uma razoável perspectiva de votação de reformas indispensáveis pelo governo
Temer; o dólar está se enfraquecendo, reduzindo o custo de importação de
insumos, o que favorece uma margem melhor de lucros das empresas; “A esperança
é a última que morre” quanto ao avanço da agenda de reformas do governo no
Congresso e, por fim, a recuperação do preço de commodities como petróleo e
minério de ferro no mercado internacional, impulsionando sobretudo, as ações de
empresas como Petrobras e Vale.
A grande preocupação dos investidores nacionais e estrangeiros
está nas eleições presidências de 2018 que, sem dúvida, representam um ponto
crucial de risco, porém, logicamente, sem desprezar as nossas contas públicas
que permanecem como uma grande obsessão em virtude da indecorosa política
nacional.
Em especial, a probabilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, principal nome da esquerda brasileira, conseguir efetivar sua
candidatura, indo ao segundo turno e saindo vitorioso, tornar-se-á um risco
mais do que iminente aos olhos dos investidores, o que impõe, hoje, certo
limite aos preços das ações.
Se, não me engano, o prazo para registro das candidaturas às
eleições expira em agosto de 2018 e, até lá, ainda não se pode ter a certeza se
o Tribunal Regional Federal- TRF de Porto Alegre (4ª Região) vai conservar ou
reverter a primeira condenaçãode nove anos e meio anunciada para Lula pelo juiz
Sérgio Mouro, o que levaria o líder petista à condição de inelegível,
deixando-o literalmente alijado, pelo menos da próxima corrida presidencial.
Tenho a impressão de que qualquer notícia que venha a demonstrar
um eventual impedimento da sua candidatura no próximo ano aumentará
consideravelmente a sede dos investidores. Lembro-me de que na véspera do
último feriado (Independência do Brasil), o depoimento de Antônio Palocci,
ex-ministro de Lula e Dilma ao juiz Sérgio Moro, levou imediatamente o mercado
acionário próximo ao êxtase. Pallocci, naquele momento, referiu-se ao
famigerado “pacto de sangue” estabelecido entre a empreiteira Odebrecht e o PT,
ressaltando, dentre outras benesses recebidas, um “pacotaço” de propina”, no
qual estavam inclusos R$ 300 milhões para contemplar o ex-presidente Lula e a
sua seita criminosa.
Em 2014, vivenciamos a desesperada polarização entre o PT e PSDB
e na corrida eleitoral municipal de 2016 surgiu, então, a figura do “não
político”, uma tendência que vem se configurando no mundo e emergiu como um
contraponto, diante dos graves escândalos de corrupção que se seguem e deixam o
país totalmente abalado e repleto de incertezas. Agravada a situação crítica da trajetória da
dívida pública em meio à recessão, a reforma da Previdência virou assunto
cotidiano, patrocinado por um eleitorado bem mais propício a nomes de
centro-direita.
Ainda estamos praticamente a um ano do primeiro turno da eleição
ao Planalto, mas parece-me que economistas, financistas, juntamente com
empresários, já discutem dois candidatos que podem conduzir um governo mais “friendly”
(amigo do mercado): o atual prefeito de São Paulo, João Doria, e o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles. Qualquer notícia envolvendo essas possíveis
candidaturas pode afetar positivamente as principais cotações das ações na
Bolsa, embora se reconheça que as reformas estruturais propostas pela atual
gestão contemplam uma importante agenda de País, não isolada da figura do
presidente.
O noticiário econômico já começou a divulgar, após sucessivas
altas, as primeiras previsões dos analistas para o Ibovespa. Inicialmente,
fechando este ano com 82 mil pontos e, a princípio, 95 mil ao final de 2018. Na
certeza de que Lula, o PT e a denominada esquerda populista ficarão sem chances
de chegada, é possível que os 95 mil pontos possam ser atingidos ainda neste
exercício e no próximo ano, quando chegaríamos a 110 mil pontos.
É importante ressaltar que a Bolsa ainda não embute nos seus
preços a probabilidade de o candidato vitorioso do próximo pleito manter a
atual política econômica como imagina agora o mercado financeiro. Precifica tão
somente a equipe econômica de Temer, que aí está se empenhando muito na busca
de imediatas soluções e, certamente, ajudará bastante quando ele transferir a
faixa presidencial ao seu sucessor.
O desempenho do mercado poderá inclusive se estabilizar por um
período até que os candidatos sejam realmente definidos. A partir daí, a meu
ver, a intensidade da sua volatilidade com relação ao crescimento do Ibovespa
será regulada pelos boatos, fatos e resultados das pesquisas durante o período
pré-eleitoral até que o próximo mandatário em 2019 assuma efetivamente os
destinos da Nação e, mesmo antes de sua posse, comprove sua total disposição em
acelerar o processo reformista de ajuste fiscal e de privatizações iniciado por
este governo de transição.
Na realidade, ainda falta um pouco mais de um ano para as
eleições presidenciais e reviravoltas podem surgir inesperadamente, ainda mais
no país das cuecas e malas cheias de dinheiro público, carregadas pelos
políticos inescrupulosos, mas o relógio econômico passou a marcar o tempo que falta
a favor daqueles que repudiam o perigoso e ultrapassado modelo
“populista-desenvolvimentista” com que já tivemos a oportunidade de conviver na
extinta era petista, que não deixou os brasileiros nem um pouco saudosos.
De modo geral, no Brasil e no mundo, o descrédito com a política
pode ser plenamente vencido com a criação de mecanismos que venham a fomentar
um diálogo inteiramente sincero com a sociedade. A ampliação dos canais de
participação institucional deveria ser uma ação a ser perseguida por políticos
em conjunto com os partidos, buscando assim revigorar os reais instrumentos
institucionais democráticos.
Se não obtivermos uma profunda mudança nas atitudes dos
políticos, partidos e da comunidade como um todo, será inevitável um grande
distanciamento da verdadeira política, colocando-se em perigo não somente os
resultados que venhamos a ter do pleito em 2018, mas também para o sistema
político que passará à vigorar pós-2018.
Arthur Jorge Costa Pinto é
Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
Um comentário:
Todos os mais de 140 políticos formalmente suspeitos de corrupção que estão presentemente no legislativo e excecutivo, têm que ser interditados e se possível julgados antes das eleições de 2018, para que não tenhamos potenciais criminosos candidatos concorrendo para elas nesse pleito.
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