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Por Renato
Sant’Ana
Quem escreve fala
ao leitor. Às vezes, de modo oblíquo, com o principal disfarçado de acessório
nas entrelinhas, driblando a crítica do leitor. Eis um "aviso" útil à
análise do que escreveu Juremir Machado no Correio do Povo (09/01/18) sobre o
julgamento de Lula.
Ele tem três
objetivos principais. O primeiro é acusar a Operação Lava Jato (no todo) e o
julgamento (em particular) de ser um golpe para impedir a candidatura de Lula.
Começa pela escolha do título: "Primeiro turno no TRF-4". E linhas
abaixo: "Se depender do presidente da casa, não precisa nem esperar o
julgamento. Pode mandar prender Lula agora mesmo." Quer dizer, comandados
pelo presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, conspiradores
atropelam a lei para realizar um artificial primeiro turno de 2018 e derrotar
Lula.
O segundo é
reduzir a instituição a figura fundo e pôr as pessoas como figura centro:
"João Pedro, Leandro e Victor, que um dia foram nomes de meninos numa
chamada escolar, são agora Gebran Neto, Paulsen e Laus", ou seja, três
pessoas comuns agora "empoderadas" (na infame expressão
criada pelo
politicamente correto), as quais poderão "impor" sua opinião
privada contra a
vontade de uma (FALSA!) maioria que quer Lula de volta.
Para os três, diz
Machado, este janeiro do julgamento será o "mês mais importante das suas
vidas". E o processo "vai ligá-los para sempre à figura do
petista" (hipótese de agirem regidos pela vaidade). Ele afasta a noção de
que desembargadores podem (e devem) transcender o autointeresse e incorporar a
função institucional (o sistema é maior que o agente); e fortalece a fantasia
de que magistrados são potestades com o destino do vivente nas mãos. Talvez ele
não pense desse modo. Mas é o que diz, reforçando a percepção do leitor
desinformado que enxerga os juízes como atores (ninguém dirá que nunca é assim)
distanciados da lei e guiados pelos próprios sentimentos.
Fulanizar o
processo judicial alimenta a equívoca crença em que pessoas agem exclusivamente
por si, a despeito das instituições: "Fico pensando no que pensam esses
homens de meia idade enquanto examinam os documentos que lhes permitirão
decidir o futuro do Brasil. Sim, esses três senhores que andam por nossas ruas,
comem em nossos restaurantes, enfrentam nossos calores de verões tórridos e
contemplam as águas do nosso Guaíba, vão decidir o primeiro turno das eleições
de 2018", escreveu.
O terceiro
objetivo é manter a versão criada pelos profetas do lulopetismo, isto é, a de
que não há provas contra Lula. "Sou também fanático pelo conceito de
prova", diz ele. E relembra Agripa, o cético, "que perguntava o que
prova que uma prova é uma boa prova?" E a essa inteligente indagação, ele
responde com malícia de advogado: boa prova são "as malas de dinheiro com
as impressões digitais de Geddel Vieira Lima." Certo. Se não há impressões
digitais de Lula ou recibo das propinas que recebeu, então prova boa não há.
Mas alguém passará recibo de coisa ilícita? O argumento equivale ao do rábula
cuja esperança é que o juiz julgue com a testa, não com a lei; e que essa testa
seja mole - princípio do "se pegar, pegou".
Juremir Machado é
inteligente e simpático. Ao lê-lo, ouve-se a ironia sorridente e debochada com
que fala de manhã na Rádio Guaíba. Mas, como negar? Sua coluna é um panfleto.
Evitando expressões categóricas e camuflando afirmações em perguntas, ele joga
com imagens mentais do leitor e dissemina a falácia do golpe, incrementando a
"paranóia induzida" segundo a qual não existe um sistema jurídico
vigendo, só um golpe que justifica outro golpe, o bolivariano. É para o leitor
esquecer que há um réu condenado a nove anos e meio de cadeia por corrupção e lavagem
de dinheiro.
Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.
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