Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Milton Pires
Quando publicou “As Origens do Totalitarismo”, em 1951, Hannah
Arendt deixou claro aos seus leitores que a característica básica daquilo que
em seu livro ela chamou de “ralé” era a experiência do “ressentimento”.
Ressentimento criado e amplificado pela percepção de isolamento,
de afastamento do processo político. Depois da Primeira Guerra Mundial a Europa
estava destruída, crescia a revolta contra a inflação, contra as pesadas
indenizações de guerra e contra o tratamento dispensado a veteranos, como o
próprio Adolf Hitler, que estiveram nas trincheiras do front ocidental.
Enquanto escrevo, enquanto transcorre, no Tribunal Regional da
Quarta Região (TRF-4) o julgamento de Luís Inácio Lula da Silva, uma multidão
de ressentidos, uma legião de integrantes da ralé que começou a chegar a Porto
Alegre desde o final da semana passada, ressente-se, ameaça, enfurece-se, vigia
aflita o resultado da contenda judicial que poderá afastá-la para sempre do
processo político e dar lugar aos verdadeiros cidadãos brasileiros.
A ralé que se encontra em Porto Alegre diferencia-se na natureza
temporal do seu ressentimento. Na Europa destruída a origem do ódio
encontrava-se no passado; em Porto Alegre é o futuro, é o resultado do
julgamento que dissemina o ódio na Esquerda Brasileira.
Ontem, dia 23 de janeiro, imagino que algo próximo a 20 ou 30
mil destes que se apresentam como membros de “movimentos sociais”, tomaram o
centro da Cidade de Porto Alegre, da Porto Alegre destruída por 16 anos de
governo petista – cidade onde agora escrevo estas linhas.
Lula estava lá: cercado, aplaudido, aclamado: um fantasma de si
mesmo que insiste em assombrar o mundo político e a sociedade que já não
acreditam mais em fantasmas nem os teme.
Ao seu lado, o homem que destruiu a Medicina no Brasil trazendo
falsos médicos cubanos, a presidente que saúda a mandioca, vê cães atrás de
crianças e compra refinarias podres nos Estados Unidos, a deputada do partido
maoísta que faz compras para “sua neném” em Nova York e a Senadora conhecida
como “Amante” pela Força Tarefa da Operação Lava Jato.
Todos eles, no seu discurso, utilizaram-se, alternadamente, da
ameaça da “volta” de Lula pelas urnas e da violência de rua politicamente
instrumentalizada.
A cidade neste momento está parada.
Integrantes do Grupo Terrorista que se apresenta como “Movimento
Sem Terra” não conseguem se aproximar do Tribunal. Há bloqueio terrestre, do
espaço aéreo e da orla do Rio Guaíba. Acantonados, isolados, enchiqueirados
(como se costuma dizer aqui no Rio Grande do Sul) numa grande área próxima ao
estádio do Internacional, a ralé tudo espreita, vigia, acompanha,
pressente...Sabe que seus dias estão contados, sabe que derruba-se hoje um
dogma, um mito fundador da Religião Civil no país – aquele que sempre sustentou
que pessoas que “vem da pobreza são honestas”
Lula e o PT destruíram Porto Alegre, o Rio Grande do Sul e o
Brasil. Ao pedir prescrição de pena, seu advogado reconhece que foram cometidos
os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não há mais o que se discutir em termos de provas, mas mesmo
assim a ralé, os pobres diabos enfiados em ônibus por todo Brasil e tocados
como gado por gente do nível de Gleisi Hoffmann, José Dirceu, Alexandre Padilha
e João Pedro Stédile, gemem pelas ruas da cidade como zumbis que “não há provas
contra Lula”. Nem mesmo a “prova” da rede hoteleira da cidade totalmente tomada
por jornalistas do Brasil e do Mundo, nem mesmo a evidência da elite petista
hospedada no Sheraton, enquanto a ralé se abriga em barracas de lona da chuva
que cai ou o pedido de “prescrição de pena”, são suficientes.
Centenas de policiais militares foram transferidos do interior
do Rio Grande do Sul para garantir a vida e o patrimônio dos porto-alegrenses.
Os números, as ações do Gabinete de Crise montado pelo Governo
do Estado são de conhecimento público mas lamentável é o tom dado pela imprensa
gaúcha (ela mesma rica em militantes do Partido) ao que acontece aqui – o
Julgamento do TRF-4 é tratado como se fosse um GRENAL ou um show de uma grande
banda de rock n’ roll – é o relativismo, a presunção de neutralidade, que
enojam o cidadão que tem um mínimo conhecimento da História do Brasil a partir
de 2003.
Ser “contra” ou a “favor” de Lula parece ser uma “questão de
gosto” para imprensa local.
São onze horas da manhã do dia 24 de janeiro de 2018 - até este
momento, os militantes petistas e da CUT não atacaram as forças que garantem a
segurança e a continuidade do Julgamento.
Tudo em Porto Alegre é espera, é expectativa.
O tempo aqui parece parado no dia D. Depois de hoje, a História
começa a andar outra vez no Brasil.
Milton Simon Pires, Médico, é
editor do Ataque Aberto.
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