Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Pontes
Essa
medida do Temer – intervenção na segurança do Rio de Janeiro – é, grosso modo,
uma reedição do Plano Cruzado, na área de segurança pública (o Cruzado foi o
plano econômico de José Sarney).
O
Presidente Temer sabe que não vai dar certo, que não se sustenta, mas o
objetivo é manter a popularidade em níveis aceitáveis até as eleições. Está jogando
o jogo do Sarney (são da mesma escola).
Esse
plano não é sustentável pois não estão sendo projetadas medidas para médio e
longo prazo, de mudança de paradigmas e do arcabouço legal. Mas a população
vive disso, de ter esperança.
Não culpo
o Exército pois é uma instituição hierarquizada e cumpridora de missão. Tenho
certeza de que os militares farão o melhor pois são extremamente profissionais.
Mas
sem mudança na Lei, que autorize os policiais e soldados abaterem – sem risco
de reprimendas para si próprios – os criminosos que portam fuzis, o plano não
poderá prosperar. Sem ampliar as medidas para além da repressão cairemos no
mesmo problema das UPP’s.
Temos
também que enfrentar com mais coragem a discussão da descriminalização das
drogas.
Outro
objetivo do plano é o esvaziamento da popularidade do deputado Bolsonaro – que
só sabe falar de segurança. Ao intervir no Rio com as Forças Armadas, Temer
deixa Bolsonaro sem discurso – pelo menos até às eleições.
O
pior de tudo é que temos um cenário anacrônico, em que o CRIME
INSTITUCIONALIZADO – cometido pelo andar de cima da política brasileira – se
mostra disposto a combater o CRIME ORGANIZADO das favelas e das ruas, em suma,
os bandidos mequetrefes cuja ação inferniza a vida do cidadão e que recrudesceu
exatamente por conta da omissão criminosa dos chefes da DELINQUÊNCIA
INSTITUCIONALIZADA.
Os
políticos aproveitam muito a existência desse crime de rua, que cria uma
urgência em ser combatido, pois isso distrai a atenção da sociedade, desfocando
do que há de mais importante: eles próprios, os criminosos políticos que são
responsáveis por absolutamente TUDO que está aí.
Não
tenho dúvidas de que a omissão foi sempre proposital. Eles deixam que se crie e
que se fortaleça a figura do inimigo público número um (a bandidagem dos
morros), para que a sua boiada de corrupção passe incólume por outro lado,
despercebida pela sociedade – desatenta diante de tantas ameaças.
Para
terminar, o pior: o Presidente da República não tem credibilidade nem
envergadura moral para liderar qualquer plano dessa natureza. Em ano eleitoral
essa intervenção pode ser um engodo, uma forma de se salvar nas urnas em
outubro. Vamos torcer para que produza resultado e que não seja mais um voo de
galinha promovido por esses políticos enganadores.
Jorge
Pontes é Delegado de Polícia Federal e foi Diretor da Interpol no Brasil.
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