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Por H. James Kutscka
Trinta anos atrás mais ou menos, eu estava em San Juan de Puerto
Rico para tentar resolver um impasse surgido entre uma empresa fabricante de Rum local, o “Ron Granado” e a agência em
que eu trabalhava na época na área de criação.
Era minha primeira vez na ilha, e ao entardecer, fui
surpreendido por um fenômeno sonoro local.
Pela cidade inteira soavam milhares de pequenas, mas estridentes
vozes que repetiam incessantemente:
- Co qui, co qui, co qui!
Era como um grito de guerra, de um exército alienígena dominador,
que estivesse invadindo a ilha. O som
único, começara ao longe e agora se
aproximava, rapidamente do jardim frontal do El San Juan Resort Center,
onde eu estava hospedado.
O sol já não era mais que uma mancha avermelhada no horizonte. A
noite caía rapidamente e as luzes da cidade já estavam todas acesas. Fui até o
terraço de meu quarto no terceiro andar, que dava vista para a cidade e o
jardim frontal, que profusamente iluminado, apresentava um verde brilhante
devido à chuva rápida de todas as tardes.
Bastou abrir as grandes portas de vidro que me separavam da
noite porto-riquenha, para dar-me conta de duas coisas;primeira, o barulho era
ensurdecedor o que mostrava que o invasor já estava ali, segundo, era
invisível, mas ninguém parecia importar-se com isso.
Pouco depois, quando desci para jantar, perguntei na recepção de
que se tratava aquele barulho. Fui gentilmente informado de que durante toda
minha estada na ilha teria de aprender a conviver com aquele barulho que era
produzido por um sapinho que é o animal símbolo local, e esse era justamente o
período de acasalamento deles, o som era dos machos convidando as fêmeas para uma rapidinha “sem
compromisso”. Um dos atendentes, me
levou até uma loja de joias que existia no saguão do hotel e me mostrou um
esculpido em Jade.
A réplica não era maior que a unha de meu dedo indicador. Perguntei se era uma miniatura (até pela
potência de seu chamado) e fui informado que não, os pequeninos e inofensivos
Coquis como eram obviamente conhecidos,
eram verdadeiros barítonos.
Embora eu, como a maioria das pessoas não tenha especial
atração por essas criaturas, terminado
o jantar, fui dar um passeio pelo gramado para ver se via pelo menos um desses bichinhos. Bastou dar o
primeiro passo, para que um esquadrão deles saltasse a minha frente e conforme
eu andava maior era o número de fujões.
Para meu espanto, embora tivessem seguido com sua cantoria a
noite inteira, em nenhum momento me atrapalharam o sono.
Parece que existe um censor em nosso cérebro que identifica o
som como algo normal da natureza e o torna parte do ambiente.
Para finalizar com os Coquis, que pertencem a classe dos
Eleutherodactylus e existem em várias cores, se por qualquer motivo um dia
tiver de engolir um sapo e me derem o benefício da escolha, a vítima será
certamente um Coqui.
E aqui acaba a poesia.
Vamos falar dos batráquios brasileiros, que gritam lu la, lu la,
lu la e de tempos em tempos, assolam as
avenidas de nossas cidades, queimam pneus nas estradas, invadem terras e
institutos de pesquisas agrárias. Esse
não é um barulho natural e sabemos ao que se destina. Portanto incomoda. Sabemos quem são.
Batráquios das espécies sindicais, pseudo intelectuais,
políticos e baderneiros pura e simplesmente. Como espécie, poderiam
chamar-se lu las.
Seu canto também é de acasalamento. Acasalamento com a
organização criminosa que hoje dirige o país.
Esses batráquios brasileiros possuem algumas similaridades com
os de Porto Rico. Por exemplo: o tamanho do cérebro, o barulho que fazem e a
certeza de que como eu caminhando na gramado, quando o nosso exército puser
seus pés na estrada, eles também pularão
espavoridos para fugir do gigante que ousaram desafiar com seu canto
nefasto.
A diferença é que os nossos (como tudo nesse país) são sapos
grandes e feios, em sua maioria barbudos e gordos, mas acautelem-se batráquios
brasileiros, vocês gritam muito, mas eu e o resto do povo estamos com vontade
de passear no jardim, e não iremos sozinhos, iremos com nossas Forças
Armadas.
Existe um ditado em Porto Rico: Tão porto-riquenho quanto um Coqui.
Em breve aqui haverá um: Tão
batráquio e preso quanto um lu la.
H. James Kutscka é Escritor e
Publicitário.
2 comentários:
Aorei.
Excelente texto, revelando o talento de quem realmente sabe escrever!
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