25 segundos com
Renan
Artigo no Alerta
Total – www.alertatotal.net
Por Renato
Sant’Ana
Na relação imprensa versus políticos, é imprescindível que
governos sejam criticados e que governantes saibam responder às críticas com
boas ações. Mas não se pode confundir "crítica" com "guerra
ideológica". Nem exigir passividade a quem é atacado com truculência.
O que grande parte da mídia vem fazendo nos primeiros dias do
novo governo beira a infâmia, revelando um notado propósito de produzir crises
e atingir a pessoa do presidente da República. A título de exemplo, faça-se a
análise de um caso apenas.
Antes, porém, convém explicitar duas premissas. Uma é que o
governo Bolsonaro tem, sim, pontos a serem criticados e, embora qualquer avaliação
definitiva em tão curto tempo seja indevida, não é razoável pretender
blindá-lo. Outra é que cidadãos com clara noção de democracia não fazem
apologia de governo algum, mas contribuem sempre que possível, inclusive com
críticas, para que o governo realize o melhor, tenham ou não votado nele.
Posto isso, é abjeta a forma com que Igor Gielow, colunista da
Folha de S. Paulo, se empenha em deslegitimar o governo Bolsonaro. Recorrendo à
tática do "sem dizer, dizendo", ele é só mais um a fazer um terceiro turno
de 2018. Pretenderá deseleger o presidente?
Em 23/01/19, sua coluna começa pela desonestidade do título:
"Marielle surge no caso Queiroz para assombrar começo do governo
Bolsonaro". Ora, uma afirmação categórica, usada como título, tende a
fixar uma "verdade" para o leitor médio, que não se caracteriza pelo
salutar cepticismo nem pelo hábito de pesquisar. É na cabeça desse leitor que
Gielow se empenha em meter uma suposta ligação entre Bolsonaro e o "caso
Marielle".
E vai em frente: "É portanto irônico que a maior dor de
cabeça dessa alvorada de governo (...) esteja se aproximando lentamente de um
outro cadáver famoso [o de Marielle]". Ah, mas ele depois até admite
"total desconexão entre o papel dos protagonistas e o enredo", isto
é, entre quem matou Marielle e o entorno do presidente. Mas a ressalva vem só depois
de instilar alta dose de veneno!
Ele cuida de teatralizar certa isenção, aludindo a que o
espectro de Celso Daniel (morte até hoje não esclarecida) esteve presente
durante o governo do PT (os 13 anos "com fracassos e sucessos", faz
ele questão de salientar). E logo diz (sem dizer) que o envolvimento do PT no assassinato
de Daniel é "teoria conspiratória". Será que ele, sobre esse caso,
não leu o minucioso relato de José Nêumanne Pinto nem a análise do experiente policial
Romeu Tuma Junior?
"Do ponto de vista de imagem", prossegue Gielow,
"a coisa fica particularmente complicada porque Marielle virou um símbolo,
dentro e fora do Brasil, de vítima de um país truculento e autoritário que não
dá certo, que não protege suas minorias."
Gielow explora um panorama que a mídia, em vez de alimentar,
deveria questionar e transformar, no qual a maior distinção de uma pessoa não é
ter alta eficiência, não é a retidão de caráter, mas, isto sim, a qualidade de
vítima. O esquerdismo investe nesse quadro, fomentando o vitimismo, dividindo a
sociedade e atribuindo um estatuto e um discurso reivindicatório a cada nova
categoria de vítima ou "minoria" credenciada (racial, etária, sexual,
etc.).
A Marielle Franco que a mídia badala é um símbolo criado para
esse fim ideológico e destoa da pessoa real. Marielle não é heroína. Mártir não
é. Ela é só mais uma, entre milhares de vítimas. Merece compaixão e, sim,
respeito. Só isso. Tudo mais é mistificação. Ao contrário do que a mídia
insinua (sem dizer, dizendo), ela não serve de exemplo a ninguém. A Marielle
Franco da mídia é ficção ideológica!
Ela é um ícone, um módulo imagético criado para substituir a explicitação
de conceitos, driblar o discernimento dos simples e propagar preconceitos. Ao
usar seu nome, Igor Gielow apresenta o ícone que, no computador mental dos
desavisados, carrega o aplicativo da indignação e ativa sentimentos de
injustiça, o que ele pretende colar na imagem do novo governo. Isso é crítica
ou guerra ideológica?
Nenhum comentário:
Postar um comentário