Artigo no Alerta
Total – www.alertatotal.net
Por
Gaudêncio Torquato
Discutir pesquisas – se estão certas ou não – é catar pelo em ovo. Não
leva a nada. Por isso, tentar desfazer resultados da recente pesquisa do Ibope
sobre o governo Bolsonaro sob o argumento de que este e outros institutos
escancararam erros durante a campanha eleitoral, é chover no molhado.
É bem verdade que paradigmas do marketing foram jogados na cesta do lixo
na campanha que elegeu Jair Bolsonaro presidente, incluindo as organizações que
fazem pesquisas, mas é visível o arrefecimento da imagem presidencial. Não
houve, até o momento, fato de relevância que possa sustentar a onda otimista
que se formou em torno do capitão reformado do Exército, antes e logo após sua
vitória.
O que está acontecendo? O presidente tem dado impulso ao tom da
campanha, fustigando adversários e puxando o cordão de fiéis apoiadores; formou
uma equipe com nomes que disparam polêmicas; critica-se a falta de uma campanha
de expressão popular para explicar a reforma da Previdência; a parceria com
bancadas temáticas fechando portas da administração federal para indicações
políticas; o ruído provocado por três polos de comunicação – o familiar, o do
general porta-voz Rêgo Barros e o da Secretaria de Comunicação, subordinada ao
general Santos Cruz - constituem, entre outros, fatores de dissonância, com
corrosão à imagem do presidente.
É sabido que a lua de mel de uma nova administração dura entre quatro a
seis meses. A população tende a esperar que o governo decole. Temos, ainda, bom
tempo para que se possa fazer uma análise mais apurada e completa do ciclo
governamental. Mas a tendência de declínio é sensível por algumas razões.
A primeira é a falta de uma ação capaz de alavancar o entusiasmo dos
eleitores. O governo dispõe de amplo e denso pacote de programas que passarão
pelo corredor congressual. O presidente, por sua vez, reacende ânimos com suas
mensagens nas redes. Dá a entender que vai continuar em palanque. O núcleo
familiar causa barulho, com destaque para a suspeição envolvendo Fabrício
Queiroz, ex-assessor do então deputado Flávio no RJ; Carlos é afeito à guerra
continuada. E o deputado Eduardo se credencia como um “co-chanceler”,
despertando ciúmes do titular do Itamaraty, Ernesto Araújo.
Na frente política, a articulação é precária. Não há lideranças de
qualidade. Os canais com o Congresso são estreitados em função da estratégia de
Bolsonaro de evitar governar com os braços presos ao presidencialismo de
coalizão. Deixa espaços curtos para as indicações de cunho político. Paulo
Guedes se mexe de um lado para outro. Luta para aprovar uma reforma que expande
polêmica. Tem até gosto para ver o pacotão da Previdência aprovado no
Congresso.
Depois de agosto, as dificuldades aumentarão. Com força bem menor, o
governo enfrentará barreiras não apenas nas oposições como nos próprios
aliados. O fato é que a identidade do governo Bolsonaro ainda não se firmou.
Tateando na escuridão – é a impressão que passa. O ultraconservadorimo que
funciona como marca da administração, e que se faz presente em pautas como
aborto, escola sem partido, ideologia de gêneros, agrada aliados, mas abre
contrariedade.
As tragédias deste início de ano – Brumadinho (MG), os assassinatos de
jovens em Suzano (SP) – baixaram uma sombra de desalento e medo. Ampliar o
acesso às armas – como defendem a bancada da bala e a esfera do agronegócio – é
uma discussão que acende a fogueira de alas a favor e contra. O campo
educacional vive uma balbúrdia. O ministro Vélez não sabe se fica ou “será
convidado a deixar o cargo”.
A prisão do ex-presidente Michel Temer gera nebulosidade no horizonte
político. O instinto de sobrevivência dos políticos abre um alerta. Juiz e
promotores antecipam julgamento com inferências pesadas. Desfaz-se o clima
propício à aprovação da Previdência. A distância entre bolsonaristas e
não-bolonaristas se expande. A visão de que o avião governamental começa a
perder altura na decolagem parece correta. Rodrigo Maia, peça-chave na
engrenagem, recua alguns passos. Acende-se o sinal amarelo.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor
titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato
4 comentários:
A pergunta se faz aos contribuintes brasileiros: Quanto vos custa por dia o governo que elegeram?
Criaram um governo a que pagais soma bilionária por dia para que os príncipes que elegeram só se dediquem a fazer manicure ao longo do dia?
O comentário acima é inoportuno e o(a) comentarista parece ter amplo domínio do que se passa no governo do Brasil. Venha para cá e de suas opiniões diretamente ao governo, quem sabe você tem todas as soluções para um país quebrado pelo socialismo dos governos anteriores e pela corrupção. Melhor que te cales!
Muito interessante o artigo do antigo aluno do curso primário.
Gostar de jogar lenha verde na fogueira dos outros parece fácil.
Bom mesmo seria o articulista observar os vícios dos comissionados antigo que ocupam postos na administração quanto a "boa vontade" ditada pela ideologia e que fazem por emperrar a administração pública, a famosa burocracia.
O articulista é um esquerdista que pensa que consegue se passar por desinformante.
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