Por Marco Antônio Barbosa
A tensão existente entre a Venezuela
e seus vizinhos, Brasil e Colômbia, apoiados pelo Estados Unidos, traz um clima
pouco vivido na América Latina. Após a Guerra do Paraguai, em 1864, quando
brasileiros, argentinos e uruguaios formaram a "Tríplice Aliança"
contra os paraguaios, a região vive em relativa união. O atual cenário político
se desenha para decisões difíceis e perigosas para o nosso país. Mesmo por uma
causa justa, derrubar o Governo Maduro pode trazer grandes prejuízos
financeiros e principalmente, de vidas.
Derrubar por medidas diplomáticas,
com embargos econômicos, pode gerar mais pobreza no país e aumentar os
confrontos internos, o que não ajuda em nada a população local. Além disso,
pressionado, o governo venezuelano deve aumentar a temperatura, gerando reações
violentas nas fronteiras. Isso empurraria a todos para um confronto entre
nações.
Partir para uma guerra é ainda mais
perigoso. Um conflito não tem um tempo determinado. Mesmo vencendo, uma guerra
civil por disputa de poder entre guerrilhas ou partidos poderia se instaurar,
vide Iraque e Afeganistão, onde o exército americano já está há mais de 15
anos. Quantas vidas seriam necessárias para sustentar este embate? Quanto seria
investido nesta missão? Importante citar, que não é ser ‘capitalista’ em pensar
em dinheiro, pois ele sairia de outras áreas que deveriam ser prioridades no
momento, como educação, saúde e segurança interna.
Neste último caso um adendo muito
importante: já vivemos uma guerra interna que precisa ser combatida e priorizada.
Nossos assassinatos anuais matam mais que o Estado Islâmico na Síria. Como
entrar em um conflito, sem resolver os nossos primeiro? Seria a primeira
explicação que o governo precisaria dar.
Além disso, temos a política externa.
Entrar em uma guerra junto com os Estados Unidos poderia gerar desconfianças na
região. Quem garante que, em um futuro próximo, os interesses americanos não
sejam contra outros países? Quem garante que não seja contra nós mesmos? A
geopolítica das últimas décadas embasa as nossas desconfianças. Os EUA apoiaram
o Talibã contra os Russos no Afeganistão.
Depois, entrou em guerra contra o
grupo controlado por Osama Bin Laden. Este é um, dos infinitos exemplos, que
mostram quão frágil são as alianças internacionais no mundo. O Brasil não tem
poderio balístico para se impor perante o ‘Tio Sam’, assim como faz a China e a
Rússia, por exemplo.
Como sair desta sinuca é uma questão
que deve ser bem pensada pela nossa inteligência militar e, principalmente,
política. Decidimos nos envolver e, agora, precisamos ter uma posição. Manter a
diplomacia e ser um intermediador entre os Estados Unidos e a Venezuela. para
que se chegue a uma solução política do impasse, seria o melhor papel para o
Brasil.
Se colocar com uma liderança local,
ajudando a manter a paz, é essencial para o nosso crescimento como potência
política. Mesmo com os ânimos exaltados na fronteira, o nosso governo deve
tomar as rédeas da negociação e tentar intervir pelo bem dos venezuelanos, mas
com inteligência nas negociações.
Declarações fortes ou ameaças veladas
podem inflamar ainda mais essa disputa e dificultar a situação de quem
deveríamos priorizar: a população venezuelana, que sofre com o descaso de
Maduro. Agravar a situação também vai prejudicar quem deve ser o principal foco
do nosso governo: o povo brasileiro.
Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.
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