Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Eduardo Villela
Quero começar o texto de hoje com uma
reflexão. Imagine duas situações em que você teria de optar por uma delas. Na
primeira, você visita um lugar distante de sua realidade e nessa viagem poderá
sentir in loco todas as sensações que o lugar te provoca: os aromas e o sabor
da comida local, ver e tocar as belas paisagens urbanas e rurais e etc. Já a
outra alternativa é assistir um vídeo, documentário ou programa de viagem sobre
o mesmo lugar, mas por melhor que seja a qualidade de roteiro e edição deles, o
fato é que você não viveu a experiência sensorial de estar presente
fisicamente. Qual seria a sua escolha? E se usarmos essa metáfora para a
comparação entre os livros impressos e e-books?
Muitos acreditam que os livros digitais podem
extinguir os livros impressos no futuro. Minha visão como Book Advisor é que o
livro "em papel" não vai desaparecer, pois ele proporciona uma
experiência de leitura que integra três sentidos: o tato, que nos faz sentir o
toque na capa e a textura do papel das páginas, a visão, que usamos para a
leitura em si e para nos deliciarmos com a beleza de páginas muito bem
impressas (pense em livros de viagens, de vinhos e HQs que possuem muito
conteúdo visual - fotos, ilustrações), e o olfato, trazendo-nos aquele
cheirinho delicioso de livro novo que sempre sentimos assim que pegamos nas
mãos um exemplar recém comprado.
O livro digital é um mercado novo que vem para
ajudar a fortalecer o hábito de leitura. Ele complementa o papel do livro
impresso. Não o enxergo como um concorrente que tirará o espaço do livro
"em papel". Ele inclusive pode contribuir positivamente para aumentar
as vendas de livros impressos. Eu mesmo conheço pessoas que começaram a ler o
livro digital de uma determinada obra e pouco tempo depois compraram a sua
versão impressa.
Mas vamos, agora, dar uma olhadinha na
realidade de mercado dos livros digitais no Brasil e no exterior. Nos EUA e no
Reino Unido, os e-books chegaram a representar entre 15 a 25% das vendas das
maiores editoras, mas estes percentuais estão em queda desde 2013. Por outro
lado, as vendas de romances, obras de fantasia e livros de ficção científica
publicados de forma independente possivelmente já ultrapassaram as vendas
totais de e-books dos cinco grandes grupos editoriais destes países. Os dados
foram apontados pelo "Global eBook: a report on market trends and
development" em 2017.
No Brasil, o Censo do Livro Digital mostrou
que em 2016 foram vendidas 2.751.630 unidades de e-books, representando em
dinheiro R$42.543.916,96. As vendas totais do mercado editorial brasileiro em
2016 foram R$3.915.054.463,33. Portanto, o valor das vendas de e-books
representou 1,09% deste total. Ou seja, estamos em um país em que 98,91% das
vendas são de livros impressos.
As vendas de e-books no Brasil ainda são
pequenas quando comparadas a outros países por algumas razões. De acordo com o
Censo do Livro Digital, de 794 editoras pesquisadas, apenas 37% delas produzem
e comercializam conteúdos digitais. Outro fator, o principal em meu ponto de vista,
é que a experiência de leitura de livros digitais deixa a desejar: um e-book
ainda é um arquivo em texto estático e pouco versátil, além de sua leitura por
mais de 1 a 2 horas em uma tela de notebook, smartphone, tablet ou e-reader
cansar nossos olhos e estarmos mais sujeitos a uma perda de atenção e foco com
o recebimento frequente nestes dispositivos de mensagens de Whatsapp, SMSs,
e-mails e ligações.
Apesar da leitura de livros digitais não ser
tão prazerosa como a de obras impressas, em um único dispositivo de leitura,
como um kindle ou smartphone que pesam muito pouco, é possível armazenar uma
infinidade de e-books.
Acredito que, por meio da integração, viável
de acontecer em poucos anos, de novas tecnologias (vídeos, áudios, animações e
outras) ao texto, tornando a experiência de leitura do e-book muito mais
agradável do que é hoje, poderá fazer o mercado de livros digitais apresentar
um bom crescimento na próxima década.
Imagine-se daqui a cinco anos lendo um
livro digital que lembre um game de hoje? Como seria tal experiência para você?
Um comentário:
Uma desvantagem do livro digital é sua efemeridade maior que a do impresso.
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