Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Gaudêncio Torquato
Os desempregados no Brasil somam
13 milhões de trabalhadores. Para 2020, a projeção é de 12,7 milhões. Dados da
Organização Internacional do Trabalho. Pelo visto, não haverá grande mudança no
painel do emprego. E mais: especialistas demonstram que o desemprego tende a
crescer no mundo ante a expansão da automação nos parques fabris e a revolução
a que já se assiste no setor de serviços.
A hipótese, que ganha o foco de
estudiosos, é de que teremos cada vez menos emprego. E, em contrapartida, a
escalada da informalidade, com o aumento de “bicos” e trabalhadores exercendo
atividades sem vínculo contratual, físico e temporal. O impacto sobre as
economias será de monta, tornando defasada a rede de proteção social aos
trabalhadores, pois os salários pagos pelo sistema produtivo, que servem de
referência tanto para cobrança de contribuições quanto ao pagamento de
benefícios – aposentadoria, seguro desemprego – darão vez a ganhos não fixos,
obtidos pelo tipo e tempo de serviço prestado.
Veja-se o risco de ficar
obsoleta uma reforma da Previdência estruturada sobre o eixo do trabalho fixado
no emprego e no salário. Nasce envelhecida. Esse é, aliás, o alerta que faz o
economista José Roberto Afonso em recente texto acadêmico. O professor José
Pastore também tem desenhado com mestria o futuro do trabalho. Infelizmente, os
nossos homens públicos ainda não perceberam que mudar o sistema previdenciário
sem considerar a nova moldura do trabalho no mundo não equacionará o ajuste das
contas do país. Por mais que se considere essa reforma como a mais importante
do governo, o fato é que ficará caduca logo, logo, exigindo, mais adiante, uma
reforma da reforma, com a inserção de nova ordem de fatores.
Pior é constatar que, por nossas
plagas, o emprego com carteira assinada tem espaço cativo na mente nacional.
Parece ser a única forma de alguém conservar a auto-estima: “eu tenho um
emprego”. E se o emprego estiver na órbita do Estado, melhor. A árvore do
patrimonialismo tem sido responsável pelo conjunto de mazelas que contribuem
para avolumar o chamado custo-Brasil: o cartorialismo (a burocracia), o
empreguismo/nepotismo, o desleixo, a incúria, a anomia, a improvisação, entre
outras. O empreendedorismo ainda está longe de se consolidar como ferramenta de
alavancagem dos setores produtivos.
O homo brasiliensis espera
que o braço estatal seja seu protetor. E assim, a livre iniciativa, o
desbravamento de novas áreas, a produtividade acabam cedendo espaço para a
acomodação, a protelação de tarefas (“vamos deixar para amanhã”), o ócio, a
preguiça, o acobertamento da ilicitude e, por consequência, a formação de teias
de corrupção pela malha da administração publica nas três esferas da Federação.
Urge, portanto, um choque de
ações, a começar pela reformulação das estruturas que dão formação à nossa mão
de obra, com atualização das abordagens de treinamento e um direcionamento para
nichos de serviços não tradicionais. Temos de abandonar as velhas práticas e a
noção de que as oportunidades do mercado de trabalho caem sobre nossas cabeças
como o maná que caiu do céu quando Deus tirou seu povo do Egito rumo à Terra
Prometida.
Temos de substituir em nossas
cabeças emprego por trabalho. Direito ao salário pelo ganho
proporcionado por novas funções, tarefas e serviços na seara de um mercado de
trabalho que se diferencia de suas antigas estruturas.
Sob essa paisagem, a rede de
proteção ao trabalhador há de prover outras modalidades que não apenas a
carteira assinada. Sindicatos trabalhistas carecem redirecionar rumos e ações.
A velha luta de classes será substituída pela construção de um diálogo estreito
entre patrões e trabalhadores, com identificação de seus interesses e maior
parceria.
O alvo passa a ser, portanto, um
novo pacto social, cujo escopo abrigue pilares do trabalho em suas múltiplas
facetas – tempos determinados e indeterminados, contratos individuais e
plurais, serviços prestados à distância etc. As metamorfoses do mundo do
trabalho precisam ser analisadas à luz do fenômeno da globalização, que tem
puxado o carrossel de mudanças nas frentes política, econômica, social e
jurídica.
Fechar os olhos ao universo em
transformação é ter a atitude da avestruz.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é
professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato
Um comentário:
Os desempregados no Brasil somam 13 milhões de trabalhadores?
Sem somar os mais de 10 milhões desempregados do Bolsa Família, que carinhosamente o IBGE apelida de desocupados.
Em qualquer país desenvolvido, os desempregados protegidos por ações sociais do gênero do Bolsa Família, estão obrigatoriamente inscritos no Centro de emprego, isto é, contam para as estatísticas como desempregados.
Ah... mas nós brasileiros adoramos mentir a nós próprios e acreditar que as nossas mentiras são ou viram verdade.
Nós temos mais de 23 milhões de desempregados, se seguirmos o modo como os países desenvolvidos trabalham as estatísticas do desemprego.
Infelizmente muitos dos jornalistas e cultos deste país, vivem numa falsa realidade. E deixam a corrupção dominar o país, não abordando esse assunto bem vivo no Brasil atual e que segue destruindo o nosso país.
Postar um comentário