Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Gaudêncio Torquato
A análise política trabalha com dois conceitos
para interpretar fenômenos ligados aos protagonistas da política, sejam pessoas
físicas ou jurídicas, políticos ou governos: identidade e imagem. O primeiro se
refere à índole dos protagonistas, seu caráter, programas e ações, o que
verdadeiramente representam; já a imagem é a projeção da identidade,
significando a percepção que deles têm os cidadãos, a maneira como as pessoas
vêem os integrantes da esfera política.
A identidade do Brasil, por exemplo, abriga um
conjunto de elementos, dentre os quais o tamanho do território, suas riquezas
naturais, a natureza de sua população, os ciclos históricos, as tradições e
costumes, enfim, tudo que possa realçar o porte do país. Convido o leitor a
construir na mente o mapa da identidade da Nação brasileira. Da mesma maneira,
tente imaginar a identidade do Estado e município onde mora. Faça uma
comparação com outros entes federativos. E pense na questão: os governos do
Estado e do país correspondem efetivamente à dimensão dos territórios que
governam?
Escolhamos, a título de melhor associação de
ideias, o governo Bolsonaro. Sem intenção de diminuir seu peso na balança da
análise política, cresce a percepção de que a identidade do governo é baixa em
relação à altura do Brasil. É como se o país medisse um metro de altura e a
administração Bolsonaro apenas cinquenta centímetros. Conclusão: falta muito
governo para cobrir o real tamanho do nosso território continental.
O que causa tal sentimento? Vamos lá: a crise
interna entre grupos, a ideologização que gera conflitos, o despreparo de
perfis, a extrema relevância que se dá ao guru da família Bolsonaro e até mesmo
o baixo nível na linguagem usada por protagonistas. Eis o que disse durante a
semana a ministra dos Direitos Humanos: “a Funai tem de ficar com mamãe
Damares, não com papai Moro”. Assim a titular da pasta de Direitos Humanos fez
apelo para conservar sob sua órbita a Fundação Nacional do Índio. Já o
horoscopista elogiado pelo presidente e agraciado com o maior galardão do
Itamaraty é o recordista no uso de palavras chulas.
Ora, há uma liturgia do poder, que obriga
participantes da esfera governamental a adotar posturas condizentes com o
cargo, o que inclui o uso de expressão conveniente. O que se constata é a
“infantilização” da linguagem (essa de Damares) ou os adjetivos sacados do
pântano por figuras que posam de heróis. O próprio Bolsonaro faz afirmações que
fogem à régua da liturgia presidencial.
A sensação de um governo menor deriva também
do fato de se fazer trocas (ou criação) de áreas – Coaf da Justiça para a Economia,
Funai em negociação, política industrial saindo da Economia para Ministério da
Tecnologia, renascimento de ministérios – não por questões de escopo técnico,
mas por conveniências de natureza política. Diminuir poder de um e passar a
outro. Onde está o tão propagado compromisso de evitar o “troca-troca”, o “toma
lá dá cá”?
Espraia-se a percepção de que a administração
não é operada dentro de critérios técnicos. A taxa de improvisação é alta. Há
ilhas de qualidade, como é o caso da equipe econômica comandada pelo ministro
Paulo Guedes ou o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, mas o
arquipélago governamental é povoado de perfis sem densidade/experiência na área
em que atuam.
Qual é, afinal, a coluna vertebral do governo?
O barulho maior se dá em torno da reforma da Previdência. Mas a questão
fiscal-tributária assola os Estados e não há indicações de saída para
equilibrar os entes federativos. O improviso está no ar. A principal embaixada
do Brasil no mundo, a dos Estados Unidos, não tem titular. O chanceler espera
que um conselheiro seu amigo seja promovido a embaixador para nomeá-lo ao
cargo.
O “índice de coisas estabanadas”, que
poderíamos designar doravante como ICE, tende a se expandir. E a esfacelar a
identidade do governo Bolsonaro. Não à toa, forma-se em nossa cognição a ideia
de que o Brasil tem um governo menor que sua grandeza exige.
Gaudêncio Torquato,
jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de
comunicação Twitter@gaudtorquato
4 comentários:
Errado, pois parte de uma premissa falsa, ou seja, a de que há divergência entre pessoas do governo. O que existe são pessoas que não desejam o fim da cleptocracia e, logo, que o Bolsonaro não ocupe os espaços justamente para não governar. Se a primeira premissa é falsa, então a conclusão é necessariamente falsa, sequer forma um silogismo, ou seja, um raciocínio logicamente verdadeiro, mas que a conclusão não é necessariamente verdadeira. O grande problema dessa gente da USP é que o nosso Guru é, antes de mais nada, um Professor com letra maiúscula e ele criou um método de gerar gurus. Assim, o que temos hoje no Brasil é uma montão de gurus que está se multiplicando exponencialmente, ou seja, não adianta ficar aí tentando matar a reputação o mestre dos gurus e nem a morte dele vai parar o que começou. Seu problema é misturar emoções com a realidade. Não adianta ficar falando que nosso Professor é feio, é boquirroto, é cartomante, astrólogo etc. sem nunca prestar atenção no que ele fala e foi ele quem disse lá atrás, muito antes do Bolsonaro ser eleito que se ele não cuidasse de ocupar os espaços não governaria.
Nenhum governo apanhou tanto quanto bolsonaro em tanto pouco tempo.
Devemos dar tempo ao bolsonaro e também ter a visão de que ele no executivo tá lutando contra legislativo e judiciário o tempo todo.
Toda as as boas medidas dele estão sendo derrubadas.
Estamos quase num parlamentarismo, ao estão deixando ele governar!!!
Infelizmente o autor não compreende a realidade do que Olavo de Carvalho defende para o Brasil, a premissa de que os militares são a solução definitiva para o problema brasileiro e ume uma bobagem sem tamanho, afinal já estiveram no poder e não conseguiram sanar o problema, entregaram o poder e ainda deixaram todos os bandidos anistiados tomarem conta pois só restavam eles como classe política organizada, e o resultados e claro como o sol, mais de 30 anos de atraso, ao invés de estarmos no top 3 econômico somos este país rico e miserável ao mesmo tempo, no Brasil sobra estado, falta iniciativa privada, se fosse o contrário não estaríamos preocupados com o futuro do país caso uma reforma da previdência não saia, estamos ainda discutindo como o governo irá solucionar uma situação em que ele é o próprio problema, menos leis, nenhuma benesse estatal, menos impostos, mais iniciativa privada, mais inteligência para nosso povo ( e nao cursos superiores mequetrefes ), mais raciocínio lógico e isto que falta ao Brasil, e isto não será Bolsonaro ou QQ militar que fara, será o próprio povo e este é o cerne do que Olavo de Carvalho defende, se querem usar o estado como meio de alcancar acabar com o poder do Estado e a primeira etapa, mas os militares não parecem querer isto, leia mais Olavo e entenderá o mínimo para não ser idiota
Gaudêncio Torquato é aquele da bancada da CORJA socialista privilegiada da USP, no Jornal da TV "Herzog" Cultura.
Se o Regime Militar, o brando, falhou, a preocupação da população deveria ser com a falha dos atuais militares.
Postar um comentário