Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Renato
Sant’Ana
Quantos saberão hoje o que é
capadócio? Pois Aulete Caldas ensina que, entre outras acepções, capadócio é
aquele que tenta enganar com trapaças, espertezas, imposturas: é o espertalhão
que age como canalha, que trapaceia e dissimula. Em suma, gentalha.
Mas, pasmem, hoje não é de Brasília,
aquele antro de capadócios engravatados, que se está a falar, senão do que
acontece em Porto Alegre ou, mais exatamente, no seu Centro Histórico. É a
crônica de uma cidade condenada por seu povo, frise-se, e por gestores
patéticos.
A história da cidade impressa nas suas
ruas, solares centenários, igrejas, palácios, seu magnífico teatro e a suntuosa
arquitetura surgida no limiar do século XX, além do privilégio de estar
debruçada sobre o Guaíba (seja ele rio ou lago), um conjunto de elementos
urbanos tornam o núcleo originário de Porto Alegre de uma beleza muito
peculiar.
Mas olhar para o Centro Histórico é
ver um holograma da capital gaúcha. Todo o imenso potencial turístico, que
poderia gerar riqueza e alavancar a economia, é arruinado por uma escória que
se opõe à civilização.
Aqui, vale o lugar comum de citar
Nelson Rodrigues: "Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de
séculos." Tanto governos municipais quanto estaduais vêm, por décadas,
"privilegiando" capadócios, transformando o Centro Histórico numa
incubadora do crime. A começar pela quantidade de jovens que, sem regras nem
noção de civilidade, pulula em suas ruas pelas madrugadas.
Ora, com exceção das autoridades
públicas, toda a gente sabe que o tráfico de drogas, a vadiagem de menores e
toda sorte de dissolução têm trânsito livre no que deveria ser um "espaço
nobre" da cidade.
É a segmentação, entende? Hoje, a vida
noturna elegante se concentra na rua Padre Chagas. Os "alternativos"
vão para a noite da Cidade Baixa. E o Centro Histórico, graças ao beneplácito
de nossas autoridades, vem se consolidando como o setor dos
"inferninhos", quer dizer, "casas noturnas" para a ralé, um
público transgressor, desocupado e improdutivo, com um traço antissocial muito
marcado.
Quando a noite cai, uma juventude
viciosa, liderada por veteranos delinquentes, torna o coração do Centro
Histórico um lugar insalubre.
Moços, sem perspectiva em razão de
suas próprias escolhas, veem-se disponíveis para uma "militância no
crime", o que, para muitos, acabará sendo a única forma de custear o
próprio vício.
A metódica degradação dos últimos 30
anos pode ser sintetizada num fato.
Hoje há três edifícios (provavelmente,
todos patrimônio público) tomados por presuntivos "sem-teto", invasão
mais do que liderada: articulada por capadócios ideológicos numa estratégia de
subverter a ordem e pavimentar o caminho do totalitarismo.
Ao menos parte desses invasores são os
experimentados capadócios que mantêm vivos os inferninhos. Mas as autoridades e
a "extrema imprensa" não o sabem... Nenhuma providência é tomada. E
não há ninguém para denunciar essa barbárie.
E a população se refugia em casa,
proibida de fruir de sua cidade, vendo perplexa as facções criminosas ampliarem
suas áreas de domínio - inclusive graças ao recrutamento feito no Centro
Histórico.
Mas o prefeito Nelson Marchezan e o
governador Eduardo Leite nunca deram sinais de terem aptidão para compreender
que tamanha leniência do poder público só favorece a expansão do crime. Certo,
Marchezan e Leite não podem tudo. Porém, cabe ao prefeito liderar a
transformação da cidade. E o governador é, em última análise, o chefe da
segurança pública.
E depois, quem estará, mais do que
eles , legitimado para peitar o Ministério Público, o Judiciário e qualquer um
que faça corpo mole?
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo. E-mail do autor:
sentinela.rs@uol.com.br
Um comentário:
"Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo." E escritor (é elogio; pois percebesse que domina a gramatica e língua portuguesa).
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