Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Marco Balbi
Em 17 de dezembro de 2018, 600 casas da Favela
do Bodozal em Manaus foram destruídas por um incêndio. O prefeito da cidade
decretou estado de calamidade pública para melhor administrar o socorro às
famílias.
Eu havia recém retornado de uma viagem à
cidade; estivera lá 20 anos atrás. Evidente que tudo estava muito diferente;
transformara-se numa metrópole que abriga metade do efetivo do estado do
Amazonas e, por isto mesmo, passou a ter todos os problemas mostrados em
verdadeira grandeza no incêndio da favela, entre outros: urbanização deficiente
com falta de moradia, saneamento básico, problemas de mobilidade urbana,
trânsito caótico etc.
Por outro lado, na mesma viagem, estivera na
sede do município de São Gabriel da Cachoeira, um dos maiores do país em
extensão, lá na região conhecida no mapa do Brasil por todos os brasileiros
como a “cabeça do cachorro”, um enorme vazio demográfico habitado por
brasileiros indígenas em sua maioria.
Em 1967 foi criada a Zona Franca de Manaus com
o objetivo de incluir a enorme região amazônica no mapa econômico e social do
Brasil, integrando aquele imenso vazio à nação brasileira. Seria, pois, um
programa temporário, que visava garantir a criação de uma indústria local,
encarregando-se de criar empregos.
52 anos depois, agraciada com alto volume de
subsídios e de renúncias fiscais da ordem de 24 bilhões de reais por ano, a
maioria das indústrias que lá operam não passam de montadoras de
eletroeletrônicos, produtos de informática, motocicletas e veículos similares
ou refrigerantes. Criaram-se 40 mil empregos diretos e indiretos na Grande
Manaus, mas o desenvolvimento sustentável não ocorreu.
A liberação de tarifas de importação previstas
nos acordos comerciais que o Brasil ora participa, associada às dificuldades
logísticas da região tendem a dificultar ainda mais a manutenção da Zona
Franca.
Mas, toda a vez que o governo central ameaça a
retirada dos subsídios ou rever as renúncias concedidas existe uma grita geral das
autoridades locais. Num momento em que se pesam na balança os gastos públicos
seria o caso de perguntar e questionar: parte desses recursos não seriam melhor
aplicados se destinados a desenvolver de maneira sustentável o interior do
Estado do Amazonas, diminuindo a pressão sobre Manaus, evitando a criação de
novas Favelas do Bodozal? Que tal um amplo programa de investimentos em
infraestrutura e desenvolvimento humano?
O questionamento aqui colocado também vem à
luz no momento em que muito se discute, mais uma vez, como preservar, proteger
e desenvolver de maneira sustentável a nossa Amazônia, explorando a rica
biodiversidade da qual a região é detentora. É muito simplista colocar a culpa
nos outros, sejam países de primeiro mundo ou ONGs ou entidades religiosas de
diferentes credos que vez por outra se manifestam sobre o que pode ou deve ser
ou não feito nesta rica vastidão do nosso território, se nós mesmos, os
brasileiros, não decidimos, através de um programa realista, o destino daquela
área.
Penso que temos uma oportunidade única para a
tomada da decisão.
Marco Antonio Esteves Balbi é Coronel
do EB, na reserva. Obs: utilizei no texto observações publicadas recentemente
no Estadão em artigo assinado pelo jornalista Celso Ming.
Um comentário:
O destino da área amazônica não diz respeito a nenhuma entidade estrangeira, ainda que os brasileiros demorem a decidir o que fazer dela. Considerar natural que entidades internacionais deem palpite na atuação brasileira na região é mentalmente abrir mão de nossa soberania, ainda mais que se conhece a falácia de a floresta ser "pulmão do planeta".
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