Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Fábio Chazyn
Quando a
gente vê um gato e um cachorro, tem que chamar o gato de gato e o cachorro de
cachorro.
Quando a
gente vê um mocinho e um bandido, tem que chamar o mocinho de mocinho e o
bandido de bandido. O cidadão é o mocinho e o bandido é quem está organizado
contra o cidadão.
O cidadão
se sente lesado pelo Estado por que este foi ocupado pelos bandidos.
O
contribuinte se sente lesado pelo fisco porque este foi ocupado pelos bandidos.
O mocinho se sente ultrajado pela justiça porque esta está mais preocupada em
proteger o direito do contraditório (digo) do bandido, do que o do mocinho.
Um sistema
que permite recursos sem fim é um ultraje contra o cidadão de bem. O resultado
desse sistema de proteção ao bandido é um estoque de 80 milhões de processos
pendentes na Justiça brasileira!
Os bandidos
têm o poder porque estão organizados. Agora falta organizar o cidadão.
No front
externo, a situação é mais ou menos igual. Os bandidos estão organizados. Falta
organizar as fileiras dos mocinhos.
As maiores
potências mundiais estão em disputa para dominar o mundo. Para o Brasil, sobra
lutar pelo menos-mal.
Se
conseguirmos nos organizar, vamos conseguir tirar proveito da disputa entre a
China e os Estados Unidos.
No passado
tínhamos um sistema de industrialização pelo processo de substituição de
importações em que as multinacionais tiravam proveito da reserva-de-mercado e
as agências multilaterais (FMI, Banco Mundial, BID, OMC) as protegiam contra os
perigos dos países que as abrigavam.
Agora,
estamos entrando num novo modelo: o modelo da livre movimentação dos capitais
supranacionais. Esse novo modelo devolve uma certa dose de soberania aos países
que, via tarifação e regulações seletivas, podem escolher os parceiros nas
cadeias-produtivas que lhes facilitem posições de mais agregação-de-valor.
A China
está promovendo o grande projeto da Nova Rota da Sêda, o BRI – Belt & Road
Initiative, investindo na infraestrutura dos países que participarão da
cadeia-de-valor a ser integrada pela China, que se debate para conseguir
incorporar anualmente mais de 10 milhões de trabalhadores no mercado de
trabalho do país. E para alimentá-los nas zonas urbanas!
Por sua
vez, os Estados Unidos precisam defender os seus feudos duramente conquistados
pelas guerras do século XX. O modelo dos Blocos Econômicos Regionais está
cambaleante devido às contradições internas produzidas pelos países favorecidos
durante a maturação desses Blocos. A administração Trump pautada nas
preferências / personalismos está dando o golpe de misericórdia nos Blocos
Econômicos dos países do Mundo Ocidental. E agora está alinhando a
cadeia-de-valor que interessa ao seu país.
A simpatia
do Trump à nomeação do Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em
Washington faz parte desta estratégia. Ao Brasil sobra tentar tirar vantagem
dessa oportunidade. O patrono da diplomacia brasileira, o grande Barão do Rio
Branco, nos ensinou que mediar conflitos entre outros países rendia lucros.
Rendeu-nos novos territórios maiores do que as áreas da França e da Alemanha
reunidas.
Organizados,
podemos repetir a dose ajudando o novo Embaixador a mediar os conflitos entre
os Estados Unidos e outros países, que não são poucos... Precisamos dessa
estratégia para conseguir modernizar a nossa infraestrutura. Precisamos
implantar o conceito do “Comércio Exterior Patriótico”.
“Comércio
Exterior Patriótico” vem a ser o comércio exterior com um ôlho nos interesses
privados dos exportadores e outro ôlho nos interesses públicos para capacitar o
Brasil no enfrentamento do futuro.
Precisamos
pensar menos nos negócios ‘spot’ e mais nas parcerias de longo-prazo.
Precisamos
recapacitar o Itamaraty para promover menos o B2B, ‘business-to-business’, e
mais as estratégias que nos coloquem no tôpo das cadeias-de-valor que estão se
formando no Mundo.
Precisamos
organizar a sociedade para apoiar o esforço de quem está dirigindo o nosso
País. Chega dessa burrice de ajudar a tempestade a afundar o navio. Precisamos
ajudar a organizar a sociedade a enfrentar os bandidos organizados. Eles estão
em todo o lugar e dominam as instituições brasileiras.
A
democracia representativa brasileira está em crise. Precisamos da participação
popular para enfrentar essa situação.
A sociedade
tem que organizar o Canal do Cidadão como meio de expressão permanente. Robôs
com Inteligência Artificial, aprendendo as preferências da sociedade, já podem
sair da ficção científica para ajudar a “representar” o povo. É a era moderna
da Democracia Participativa!
Entretanto,
a primeira coisa em se focar é a definição de um Projeto Estratégico de Nação.
Precisamos definir que tipo de sociedade queremos ser.
Uma
sociedade do vale-tudo, uma sociedade tutelada por semi-deuses de um STF ou uma
sociedade da ética do comportamento do cidadão?
Para essa
definição, temos que nos sintonizar no Canal do Cidadão e, a partir daí,
promover a revisão da nossa Constituição.
Precisamos
de uma “Constituição de Princípios”.
O movimento
das “Diretas Já!” ficou velho. Precisamos de novos movimentos. “Patriotismo
Já!” ou “Empregos Já!” são bandeiras mais atuais.
A
consequência maior das “Diretas Já!”, a Constituição Cidadã de 88, ficou
superada. Está morrendo afogada nos seus 250 artigos, 100 Disposições
Transitórias e mais de uma centena de emendas. Gerou uma constelação de mais de
5 milhões de leis para regulamentar um terço dos artigos. Ainda falta
regulamentar os dois terços restantes! Virou um emaranhado regulatório que
ninguém consegue dominar e, por isso, o STF, (ar)roubando o monopólio da
interpretação, perpetua o seu poder sobre a sociedade e o Estado.
A
Constituição-Cidadã morreu como Constituição-Vilã. Está faltando sepultá-la.
Fabio Chazyn, empresário, engenheiro,
cientista político, mestre em história econômica pela London School of
Economics e escultor. Autor do livro: “Consumo Já!” – Por um Novo Itamaraty
(2019)
fchazyn@chazyn.com
3 comentários:
Mas essa especialidade é ensinada a exércitos de outros países.
Precisamos de uma nova constituição já!
Interessante o artigo. Sem dúvida precisamos definir a sociedade de princípios. Saber a direção 1ye queremos ir e impedir a continuação da corrupção, das falcatruas e apoiar a renovação dos agentes politicos
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