Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Gaudêncio
Torquato
As tendências parecem fortes: a polarização
entre direita e esquerda, mais precisamente, entre os polos extremos do arco
ideológico, não será atenuada. Ao contrário, a probabilidade é que se expanda
sob a hipótese de que é do alto interesse do bolsonarismo manter a chama acesa
como forma de manter permanente mobilização de exércitos simpatizantes do
capitão.
No contraponto, os enclaves oposicionistas,
divididos entre partidos, tentarão integrar suas forças e apostar numa grande
frente de combate à escalada direitista no país.
A incógnita gira em torno da liderança capaz
de organizar articulação dessa amplitude, havendo quem aposte no nome de Luiz
Inácio, hoje preso, mas caminhando para eventual liberação, que até pode ser a
prisão domiciliar, situação, ao que se sabe, rejeitada pelo ícone petista.
Lula tem dito que só aceita a liberdade se ela
vir com o figurino completo, ou seja, sem adereços para incomodá-lo, caso de
uma tornozeleira eletrônica. Ademais, há dúvidas se ele, solto,
continuaria a usufruir direitos políticos. A interpretação vigente é a de que o
ex-presidente, mesmo libertado, só poderia ser candidato ao completar 89 anos.
Mas teria condição legal para liderar uma frente oposicionista?
Enquanto seus advogados lutam por sua
liberdade e regate dos direitos políticos, os sinais no horizonte apontam para
um jogo recíproco de interesses. Bolsonaro gostaria de ver Lula como alvo
preferencial - sob o argumento de que ele é um demônio capaz de vestir o país
de vermelho –, enquanto o ex-metalúrgico gostaria de mirar nesse capitão que
defende a ditadura, faz loas a torturadores, ameaçando fazer o país regredir
aos idos de chumbo.
Ocorre que a política, como água, caminha
sinuosa entre as reentrâncias das pedras. Não depende apenas da vontade de seus
comandantes. Depende de fatores como satisfação, social, segurança coletiva,
sensação de que as coisas estão melhorando. E, que fique claro, a política
navega ao sabor das circunstâncias.
Analisemos essa última hipótese. Podemos
projetar a continuidade do discurso polarizado entre direita e esquerda, o
bolsonarismo e seus contrários. Logo, é possível aduzir que amplos segmentos
sociais - particularmente habitantes do meio da pirâmide - não suportarão
conviver por muito tempo com lengalenga raivosa, tiroteios recíprocos, como se
o país fosse puxado por um cabo de guerra.
Mais cedo ou mais tarde, a saturação da
artilharia expressiva chegará ao pensamento racional, afastando milhões de
brasileiros dos conjuntos emotivos que se esgoelam. Conhecendo um pouco as
motivações que mexem com a índole nacional, pode-se enxergar o início de um
processo de esgotamento do discurso sem eira nem beira, apenas focado no ataque
recíproco.
A partir dessa óbvia constatação, continua-se
a aduzir que não haverá clima para guerras violentas, ataques suicidas,
ressurreição da ditadura, como alguns preferem. Os contingentes do meio da
pirâmide, como o agrupamento de profissionais liberais, enxergarão a melhor
maneira de atravessar o cabo das tormentas: as águas mais calmas que correm no
meio do oceano.
A imagem é a de um mar se abrindo para dar
passagem aos núcleos racionais, ordeiros, perfilados sob a bandeira do
crescimento e dispostos a escolher seus dirigentes entre aqueles que encarnem a
ordem, a harmonia, o aperfeiçoamento institucional.
Dito isto, emerge nos horizontes sociais o
florescimento de um gigantesco corredor central, onde partidos políticos,
organizações não governamentais, associações de todos os tipos e suas
lideranças, se darão as mãos em torno de um projeto de união nacional.
Chegar-se-á facilmente à hipótese de que a
salvação do país não sairá dos extremos do arco ideológico, mas dos
protagonistas do meio. Novos figurantes se mostrarão, com ideias, propostas e
visões. Os radicalismos serão naturalmente eliminados ou, em alguns casos,
reduzidos a dimensões bem menores e até previsíveis no bojo de uma democracia.
Em suma, sairemos do apartheid social para
ingressar num espaço de convivência e ouvir um discurso menos conflituoso. A
imagem é utópica? É possível. Mas nossa índole não se acostuma com a
beligerância que consome energias e dispersa esforços.
2022 está longe. Veremos, ainda, nuvens
pesadas sobre algumas Nações. A vitória de Trump em novembro de 2020 não é mais
uma certeza. E se a recessão pegar de chofre os EUA, sentiremos por aqui os
reflexos. Demos tempo ao tempo.
Gaudêncio Torquato, jornalista,
é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato
5 comentários:
"E se a recessão pegar de chofre os EUA, sentiremos por aqui os reflexos. Demos tempo ao tempo."
É um típico esquerdista; torce para que tudo de certo e em harmonia; ou seja, uma crise pra acabar com o governo (com o povo, e quem estiver na frente), para liberar o caminho para o Clinton (será que esse articulista sabujo já recebe pixuleco da CNN ?) lá nos USA, e para o Doriana aqui no Brasil.
Depois deste texto, é bem capaz que o margarina abone algumas ausências (isso é uma piada; todos sabem que professor não precisa que as faltas sejam abonadas) dele na USP, e ainda o convide para ir atacar (destacar só os contras do governo) o Bolsonaro no jornal da cultura.
Essa é a diferença de um militante doutrinador, ele não quer ensinar nada; ele quer que o sistema de doutrinação do ensino, continue militando e amamentando. https://polibiobraga.blogspot.com/2019/09/ufrgs-usa-recursos-publicos-para.html
Muito bonitinho o caminho do meio.
Só falta combinar com os russos, ou com os acólitos dos "russos".
Não se deve confundir a ordem dada aos teleguiados para gritar contra, relembrar pontos especificamente isolados e cobrar $$$ ao que chamam os propalados "anos de chumbo".
Falam tanto de ditadura e esquecem a real ditadura que grassa no interior das universidades, como por exemplo na USP, verdadeiras formadoras de mentes distorcidas.
Quem discorda da ideologia dominante, que não passa de uma estranha doença, é ditatorialmente tratado como indivíduo de casta impura e lançado como lixo contaminado.
Os que aceitam demonstram alternancias entre soberba e raivosidade.
A idéia apresentada não seria má, mas é de bom alvitre encontrar fatores de equilíbrio com maior maturidade e racionalidade.
"... se ela vier...".
Postar um comentário