Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Luiz
Antônio P. Valle
O jogo é
dinâmico e as movimentações decorrem da interação, criando estratégias
alternativas, mas sem perder o objetivo principal. Muda-se a forma, mas não a
essência. As peças se movimentam em silêncio contrariando e confundindo o
entendimento do neófito. Cada ação é pensada para ter seu efeito no momento
certo.
O bispo é muito eficiente e o jogador
precisa saber usar. O “Túnel de Realidade” leva à Imunização Cognitiva que tem
como “mecanismo de controle” o seguinte processo: a pessoa imunizada cognitivamente
restringe seus contatos e leituras somente a pessoas e matérias que tenham
ressonância com suas crenças. Sem ouvir ou ler argumentos opostos, ou
simplesmente ignorando-os, fecham-se em seus grupos, pois os outros “não sabem
nada”.
O convívio no grupo limitado reforça e
consolida, pela repetição das mesmas ideias-pensamento que são a base do grupo,
a crença já prevalecente na pessoa. Desta forma sua capacidade de raciocínio e
discernimento vão paulatinamente decaindo a um nível crítico, até o ponto que
fica inteiramente “imunizada”. Todavia, o curso dos acontecimentos não espera e
uma hora o grupo se defronta com a realidade, que não corresponde
necessariamente aos seus anseios, e o debacle é cruel. Este fenômeno aconteceu
com o petismo por exemplo, e acontece rotineiramente no mesmo ciclo.
A torre não
pode ficar desprotegida para quem quer sobreviver no jogo. Quem tem olhos de
ver continua a se proteger, como mostrei fartamente nos artigos anteriores da
série Xeque-mate. Em publicação do final de agosto foi informado que:
“Recentemente, o chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney, apelou aos bancos
centrais mundiais para que criem uma "alternativa global" à moeda
americana.” A matéria continua: “Só em abril, o Reino Unido se livrou de US$ 16,3
bilhões (R$ 67,7 bilhões) em títulos do Tesouro dos EUA.” Vejam, foram US$ 16,3
bilhões num único mês e, como mostrei, provavelmente são usados para comprar
ouro ou outro lastro econômico sólido! Parece que a fé nos títulos
estadunidenses só é sólida nos gabinetes de Brasília, que mantém nossas
reservas totalmente dependentes destes títulos, colocando o Brasil em posição
de total vulnerabilidade, mesmo eu tendo apresentado dados e evidências em meus
artigos que todos os países sérios estão ancorando suas reservas em ouro, e
mantendo-o sob sua custódia. Semana passada um General do Exército Brasileiro
perguntou com que recursos compraríamos o ouro? Resposta: com os valores
apurados na venda dos Títulos do Tesouro Americano, como vários países
importantes estão fazendo. É uma troca de ativos. Não precisa colocar um
centavo!
O redator
da matéria citada acima continua: “Desde a crise financeira global de 2008, os
bancos centrais mundiais reduziram em sete pontos percentuais a cota-parte da
participação do dólar dos EUA na estrutura das suas reservas financeiras. Em
2018, os países em desenvolvimento foram particularmente ativos na venda de
dólares e das obrigações do Tesouro (títulos públicos emitidos pelo governo do)
Estado norte americano. Uns, para estabilizar suas próprias moedas, outros por
causa dos inúmeros conflitos (especialmente a Rússia e a China) com
Washington.”. - https://br.sputniknews.com/opiniao/2019082714437080-por-que-reino-unido-pede-ao-mundo-que-crie-alternativa-global-para-substituir-dolar/.
Uma matéria
de 26/08/19, num site especializado, mostrou espanto no título ao constatar que
no Brasil, mesmo havendo bons índices e tendo sido aprovada a reforma da
previdência na Câmara e sinalizada a aprovação de outras, mesmo assim os
estrangeiros mantiveram-se longe da Bolsa de Valores brasileira, retirando
volume significativo de recursos. Ele, surpreso, após dizer que o desempenho da
Bolsa superou os 10% de ganhos desde o início do ano, assim se expressou:
“Porém, o investidor estrangeiro se manteve - e ainda se mantém - fora da bolsa
brasileira nestes oito meses. Até o momento o saldo do “gringo” no País está
negativo em mais de R$ 21 bilhões, próximo de bater o recorde da série
histórica iniciada em 1996”. Será que os investidores estrangeiros não gostam
de ganhar dinheiro? Onde eles conseguiriam um ganho superior a 10% em oito
meses? Estranho?
Bem, o
redator segue em sua análise buscando uma explicação, perplexo e desorientado,
vagando nos braços da especulação, sem mostrar evidências concretas. Todavia, o
que vale são fatos, aos quais o redator se dobra mais a frente: “Por aqui, o
estrangeiro, que hoje representa cerca de 44% do mercado, já tirou R$ 21,4
bilhões do mercado brasileiro este ano, sendo que metade, ou R$ 10,9 bilhões
apenas em agosto até o dia 22. O resultado já supera o da crise de 2008, quando
em oito meses saíram R$ 16,53 bilhões do Brasil via estrangeiros.” (grifo meu)
- https://www.infomoney.com.br/mercados/acoes-e-indices/noticia/9071309/estrangeiro-retirou-r-21-bi-da-bolsa-brasileira-apesar-de-animo-com-reformas-o-que-aconteceu.
Retiraram R$ 10,9 bilhões em 22 dias do mês de agosto mesmo o Paulo Guedes e o
governo se empenhando nas reformas! Como pode ser visto tivemos uma evasão de
capitais maior que em 2008. Por que será?
Todavia, se
os brasileiros continuarem a entregar suas empresas baratinho, então o capital
aproveita a oportunidade, dá uma “mãozinha”, como ele nota quando se refere a
entrada de capital via oferta de ações. Na crise vindoura vai ficar ainda mais
barato. É conhecida a manobra de “fabricar” crises para desvalorizar ativos, e
então comprá-los por um preço baixo de “oportunidade”. Vindo o Xeque-mate, e
sem reservas que possuam liquidez, o Brasil precisará entregar seu patrimônio
baratinho em troca de “divisas conversíveis”. Um dos personagens entrevistados
representa o fundo de investimento BlackRock. Para bom entendedor isto basta.
Para o cego todos as evidências, argumentos e números não bastam.
As três são
peças importantes: o Bispo, a Torre e o Cavalo. As ideias preparam o ambiente e
minam a resistência abrindo caminho para o consentimento, a economia precisa
ser forte e independente para propiciar o “pão” que não pode faltar nas horas
críticas, e as Forças Armadas precisam ser poderosas o suficiente para
desestimular a cobiça externa sobre o patrimônio econômico, evitando que ocorra
uma ação militar concreta de tomada hostil. O cavalo precisa estar treinado e
operacional.
O general
Maynard Marques de Santa Rosa deixou clara a situação da capacidade de combate
do Exército Brasileiro ao dizer que ele só possui munição para uma hora de
guerra e o General Carlos Alberto Pinto Silva, ex-chefe do Comando de Operações
Terrestres (Coter) acrescentou: “Nossa artilharia, carros de combate e grande
parte do armamento foram comprados nas décadas de 70 e 80. Existe a ideia
errônea que não há ameaça, mas se ela surgisse não daria tempo de reagir” - https://exame.abril.com.br/brasil/exercito-brasileiro-possui-municao-para-uma-hora-de-guerra/.
Claro como
a luz do dia, não cabem interpretações. Estas declarações foram feitas a sete
anos atrás, em agosto de 2012, antes dos contingenciamentos que se seguiram.
Fácil imaginar como está a situação hoje. Na semana passada o Comandante do
Exército determinou o fechamento dos quarteis nas segundas-feiras de setembro
de 2019 para economizar água, luz e comida, no momento que se discute as
ameaças estrangeiras à nossa soberania sobre a Amazônia - https://www.oantagonista.com/brasil/quarteis-vazios/?utm_source=oa-email&utm_medium=news&utm_campaign=NEWS-OA-2019-08-30-MANHA&utm_content=link-3&oa_umh=d88cfb3e2f3b3aed2dcd66e95ea743e9&oa_news=related.
Que “sinal” estamos passando ao mundo? Antes não tínhamos equipamento e
munição, agora também não há comida para nossos soldados.
O Brasil é a oitava economia do mundo,
conforme relatório do FMI referente a 2018
(https://www.istoedinheiro.com.br/brasil-nao-e-mais-a-setima-economia-do-mundo/)
e possui o 12º maior orçamento militar do planeta neste mesmo ano, com US$ 27,8
bilhões, cerca de 1,5% do PIB - https://oglobo.globo.com/mundo/gastos-militares-globais-chegam-us-182-trilhao-em-2018-atingem-novo-recorde-pos-guerra-fria-23629490.
Vejam na companhia de que países abaixo estamos em termos de orçamento militar
e comparem nossas capacidades militares com as deles.
Logo, pelos
números apresentados na publicação, exceto se forem totalmente equivocados, o
problema não é necessariamente recurso. Países economicamente muito menores, e
com orçamentos militares inferiores como Israel (US$ 17,8 bilhões em 2017) e
Turquia (US$ 14,9 bilhões em 2017), mantem Forças Armadas em condições
operacionais excelentes, possuindo caças modernos e em número relevante,
embarcações com tecnologia avançada, sistemas de baterias antiaéreas de última
geração e força terrestre bem equipada e treinada, enfim, Forças Armadas
capazes de dissuadir pretensões hostis e defender os seus interesses nacionais.
A questão também não se prende ao percentual do PIB aplicado. Neste quesito
entendo que o Brasil até poderia investir mais, algo entre 2,5% e 3% do PIB,
pois países como Israel investem mais de 5%, ainda que o cenário lá seja diferente.
A questão
aqui é possuir e manter Forças Armadas em bom estado operacional com o
orçamento atual. E o que o Brasil investe não é nominalmente pouco, pois somos
o 12º maior orçamento militar do mundo. Logo, o que está havendo? Onde está
alocado o dinheiro? Óbvio que a conta não fecha e o peso dos inativos
isoladamente, por si só, não explica a situação. Projetos classificados entram
na equação e são conhecidos. A “teoria do canivete” fala por si.
Nosso
“desastre” não é “fortuito”, é fruto da última estratégia de sabotagem definida
em 1982, como já citei em artigo anterior. Organizações como a Open Society
Foundation de Soros ou a Antifa são pontas de lança de algo maior.
Escrevo isso com tristeza e sei que os
“vibradores” poderão ficar magoados. Frequento unidades militares
rotineiramente e vejo pessoalmente. Minha família tem gerações de militares em
duas das forças. Mas fingir que não acontece não vai resolver. Enterrar a
cabeça na areia não vai evitar que a onda venha.
Alguém em sã
consciência pode conceber que os estrangeiros não sabem de nossas fragilidades?
Sinto dizer, mas eles conhecem a nossa realidade melhor do que a imensa maioria
dos brasileiros, e por duas razões: tem agências de inteligência eficazes e não
possuem um “túnel de realidade” com filtros tão limitantes.
É por isso
que o atrevimento cresce diante da vulnerabilidade crescente e relevante do
Brasil, como relatei no artigo “O xeque-mate só surpreende o incauto” quando
narrei que o professor de Relações Internacionais da Universidade de Harvard,
Stephen M. Walt, num artigo publicado dia 06/08/19 na revista online Foreign
Policy, pergunta: “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?” - https://www.bbc.com/portuguese/geral-49253621.
Como ele
tem juízo deixa claro que, para o “crime” ambiental relativo a emissão de gases
(cujos principais poluidores são EUA, China, Índia, Rússia e Japão) não poderia
ser feito a mesma coisa porque "ameaçar qualquer deles com sanções
possivelmente não vai funcionar e ameaçar com uma intervenção armada é
completamente irrealista"; acrescentando que no caso do Brasil é
diferente, usando o seguinte argumento: "Mas o Brasil não é nenhuma grande
potência. Ameaçá-lo com sanções econômicas ou o uso da força caso se recuse a
proteger a floresta poderia funcionar". Vejam que ele foca na Torre e no
Cavalo, ou seja, sanções econômicas para dobrar ou derrubar o governo, e se
necessário, o uso da força. Enfim, ele deixa claro que o Brasil é presa fácil.
Com os demais países poluidores, que tem armas e Forças Armadas fortes, não se
deve mexer.
Em julho de
2014, de acordo com a publicação "The Jerusalem Post" o Sr.Yigal
Palmor, porta-voz do ministério das Relações Exteriores de Israel, num momento
de excessiva sinceridade disse que o Brasil “continua a ser um anão
diplomático" - http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/israel-lamenta-decisao-do-brasil-de-convocar-embaixador-em-tel-aviv.html.
Não era para ser assim. Se tivéssemos Forças Armadas fortes eles nos
respeitariam.
Aqui também
não se trata da Dialética Negativa usada pelos Globalistas como arma comportamental.
Estou oferecendo fatos, evidências e números para chamar a atenção de algo que
já chegou, está aí. Peguem as datas e conteúdo dos meus artigos da série
Xeque-mate e confrontem com os acontecimentos. Toda causa tem efeito. A série
de artigos que escrevi em 2013 e 2014 visava mostrar as causas para que não
chegássemos neste momento, o dos efeitos ou consequências, nesta situação.
Com uma
economia totalmente vulnerável e dependente do Capital Internacional, sem
reservas que tenham liquidez, e Forças Armadas em estado operacional
praticamente falimentar, o Brasil não tem muitas opções para reverter o
cenário. Pode desgastar, tornar o preço mais caro, mas reverter não. Dois
pilares do Poder Nacional estão no chão.
É claro que
todo jogo tem dois lados e muitas peças. Umas mais relevantes outras menos, mas
todas tem sua função. Entender o funcionamento do jogo, as características e
intenções dos jogadores, seu “modus operandi” e conhecer sua real posição nele
é o primeiro passo para virar o jogo. Os líderes brasileiros têm uma enorme
dificuldade nesses quesitos. Pelo fruto se conhece a árvore.
Como está a
resultante destes 500 anos de nossa história? Somos um país soberano capaz de
proteger os Objetivos Nacionais Permanentes contra quaisquer ameaças? O Brasil
está em uma posição privilegiada no Tabuleiro? Com que poder econômico e
militar o Brasil emergiu dos anos setenta e com qual está hoje? Verifique o que
aconteceu da década de oitenta para cá e veja se a “estratégia” brasileira, se
é que há, está sendo vitoriosa? As respostas sinceras e imparciais a estas
perguntas é o que importa, são elas que levam a entender os rudimentos dos
oráculos. O resto é desculpa que não muda a realidade atual. O Brasil precisa
de ação. O xeque-mate está à porta.
Para
entender o jogo é necessário desenvolver certas “habilidades” individuais, que
são fruto de procedimentos específicos desenvolvidos desde a década de
quarenta. Não vem só de leituras, Relint ou aperfeiçoamento da TAD (Técnica de
Avaliação de Dados). Apenas dados não viram informações úteis sem habilidades,
não são suficientes - https://oglobo.globo.com/mundo/apos-deixar-cia-bolsonaro-desaparece-por-duas-horas-em-washington-23531847.
Ter uma
concepção adequada da forma como a força se distribui no tabuleiro é essencial,
senão vital. Ser um gestor de parte da Earth Corporation não é ser acionista. O
exercício do poder pode criar ilusões fatais, quando não se conhece onde está o
Poder Real. Ser um Secretário de Defesa da maior potência do mundo dá a
sensação de estar no Olimpo, imagine então ser o Presidente? Intocável,
fabuloso, quase divino. A ilusão é forte, dominadora, anestesia a razão.
Eisenhower, pela formação e idade, reconheceu o terreno e movimentou as peças
devagar para sentir a reação. Reclamou, alertou, ensinou, mas percebeu que não
era hora de forçar as fronteiras, tinha o entendimento. No discurso de
despedida da presidência ele mostra prudência e sabedoria – vide link https://www.youtube.com/watch?v=hT3UoUQpaV0.
James
Forrestal percebeu o movimento, pressentiu o perigo, mas já era tarde. Os
conhecimentos que havia transmitido a J.K. (John Kennedy), logo após a Segunda
Guerra Mundial, não foram suficientes para tornar aquele jovem talentoso em um
prudente e sábio jogador, pelo contrário, ele forçou demais à mão sem ter
cacife para a aposta. Pensar ser ou possuir não significa ser Real.
“Se você
conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem
batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha
sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,
perderá todas as batalhas” – Sun Tzu em “A arte da Guerra”.
O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó
cai e empurra outro para a queda seguinte!
Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.
Luiz Antonio
Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.
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