Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Paulo
Rabello de Castro
Sem saber como nem porquê, o presidente Bolsonaro foi aos Estados Unidos
para pedir ao dono do clube dos ricos - organização que atende pela
complicada sigla OCDE - sua permissão de ingresso naquele seleto grupo. Coisa
de diplomatas. Ninguém até hoje descobriu direito o que faz a tal
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, ou OCDE. Sediada
confortavelmente em Paris, o clube "dos países ricos" é local de
encontro de papos infindáveis destinados a explicar aos mais pobres como se
devem comportar se quiserem chegar a ser ricos. Com seu negativismo emburricado,
que lhe é bem característico, Bolsonaro teria tudo para haver negado querer
participar desse clube que rejeita as credenciais do nosso time verde-amarelo.
Bolsonaro é um marxista escancarado (já explico por que) e tudo nele
parece inspirado em Marx. No entanto, foi induzido pela diplomacia de punhos de
renda a mostrar uma vontade, que não era a sua, de ingressar num clube que,
tipicamente, não tem o perfil do Brasil nem constitui qualquer etapa relevante
para nossa efetiva ascensão a uma condição de democracia avançada e
socialmente equilibrada. Não ganhamos um único tostão furado por pertencer
à OCDE. Pelo contrário, só gastamos: mordomias para sustentar a corte de
embaixadores e outros burocratas que compõem a representação dos países-membros
na "Cidade Luz".
De fato, a OCDE é "coisa pra rico" e certamente não condiz
com a situação vergonhosa, de um país como o nosso, que entra agora no seu
quinto ano de gastança inveterada, com um déficit primário gigantesco - ou
seja, gastos de custeio e investimento da máquina federal muito acima dos
trilhões de impostos arrecadados, sem contar com as centenas de bilhões de
juros anuais da dívida pública que, por óbvio, ficam também sem cobertura
orçamentária. Basta lembrar esse fato vexatório - um buraco fiscal
estrondoso - para sabermos que o Brasil nada tem a fazer em Paris, sorvendo
café latte com brioches em reuniões que só discutem o sexo dos anjos.
Simplesmente, não temos dinheiro para isso.
Esse seria o discurso natural do nosso presidente marxista. Afirmar-se
pela negativa, negando a negação dos ricos, e firmar-se cada dia mais na rota
traçada de reformar o País de alto a baixo, tocando a reforma dos impostos,
de longe a mais importante para os brasileiros consumidores, que pagam uma das
cargas tributárias mais elevadas do mundo, mesmo se comparada à dos países
membros da tal OCDE, os ricos. Essa deveria ser a preocupação quase obsessiva
de um líder que estudou e fez o dever de casa de saber por que caminhos irá
liderar seu povo, até a terra da liberdade. Reformas da máquina pública,
como prescreve a OCDE, estão disponíveis para o presidente no dia e na hora
que seu coração o impulsionar a fazer isso. A reforma pública começa
cortando na própria carne e é possível de ser realizada no Brasil em apenas
um ano de sacrifício, não mais. Ao que se seguiriam medidas estruturais a
serem conduzidas por um Conselho de Gestão Fiscal, figura prevista no art. 67
da Lei de Responsabilidade Fiscal desde o ano 2000, e ainda sem execução
efetiva por nenhum presidente desde então.
Se Bolsonaro quiser fazer diferente de Lula e Dilma, ou até de FHC,
poderia começar cumprindo a lei de responsabilidade e fazendo aprovar um
Conselho de Gestão digno desse nome. Como bom marxista, inteligente, sagaz e
verboso, o presidente não precisa perder tempo com o que não interessa a
mínima para nós. Deveria fazer como Marx, que dizia para a platéia
embevecida e com isso ganhava a gargalhada geral: "Eu não quero participar
de nenhum clube que me admita como membro!" (kkk).
Evidente, estou falando do célebre comediante Groucho Marx, grande
profissional do riso e um filósofo da vida, tal como ela é. Aliás, de que
outro Marx vocês pensavam que eu estivesse a falar?
Paulo Rabello é Economista
e Escritor. Apresentou, ao longo dos anos, várias propostas de reforma
tributária e fiscal.
2 comentários:
Realmente o papel aceita tudo!
Apoio o comentarista das 11:02 AM. Parece difícil acreditar que o articulista não saiba o que o presidente Bolsonaro defende ao pleitear entrada na OCDE.
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