Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Paulo
Rabello de Castro
Acaba de ser lançado o livro POLÍTICA AGRÍCOLA NO BRASIL, de Ivan Wedekin
e vários colaboradores. É uma obra de primorosa clareza. Dá ao leitor - mesmo
se não entendido em temas do agronegócio - um verdadeiro passeio guiado pelos
meandros da agricultura de hoje e de como chegamos até o ponto onde estamos.
O principal recado do livro vai agradar a quem acredita na força do empreendedorismo
e dos incentivos de mercado. Fica clara a noção de que liberar é preferível a
intervir. Que fomentar é superior a coibir. Que delegar é melhor do que
concentrar e assoberbar. No período de alto intervencionismo do governo sobre
os mercados agrícolas, o Brasil era importador de comida e só exportava
commodities de tradição centenária, como café, açúcar e algodão.
Quando o País parou de recorrer a intervenções, confiscos e tabelamentos,
o que coincide com o Plano Real e, a seguir, com a liberação do câmbio, a
agricultura até mudou de nome: virou "agribusiness", agronegócio, e
mercados mais livres e competitivos empurraram novos cultivos e criações para o
centro da ação no campo, bastando lembrar soja, milho, arroz, frutas, suco de laranja,
além de toda a cadeia de produção de proteínas animais, frango, carnes bovina e
suína, ovos etc.
Óbvio que o milagre do salto agropecuário não foi só por liberalização de
mercados. Houve um empurrão, ou vários e fortes, da política agrícola ao longo
do tempo. Lembro o mais relevante: pesquisa para adaptar variedades de clima da
Europa e EUA aos trópicos e ao bioma do Cerrado. Uma verdadeira TROPICULTURA
foi criada, não só por variedades novas e adaptadas, mas por formas inéditas de
plantio, cultivo e colheita. Basta lembrar o plantio direto, sem gradear o
solo, evitando a erosão provocada por chuvas torrenciais. A produção de grãos
se multiplicou por 5 enquanto a área plantada com grãos não chegou a dobrar.
O nome disso é um enorme salto de produtividade. Nesta safra 2019, serão
colhidos quase 250 milhões de toneladas de grãos. Em soja, passamos a ser o
número um do mundo, mas somos número dois ou três em vários outros produtos. E
sem perder a majestade na produção do rei café. Mistério desvendado: o fim do suplício
das políticas negativas de intervenção, aliado ao choque produtivo da pesquisa
aplicada, que virou tecnologia tropicalizada, revelou a pujança de um Brasil
agrícola e interiorano em que poucos acreditavam.
A liberação do câmbio em 1999 completou a obra de oxigenação dos
mercados. Não ocorreu o pisoteamento da oferta interna pela suposta preferência
por exportar. As duas agriculturas geraram mais renda e prosperaram juntas. Mas
não sem algum viés. O campo continua com vitórias concentradas em cerca de 1
milhão de estabelecimentos rurais, modernos e profissionalizados. Mas outros 4
milhões ainda carecem de muita informação, insumos modernos e apoio creditício.
Muitos produtores são meros assentados ou posseiros. A desigualdade no campo é
gritante, mas não precisava ser desse jeito.
O recado do livro de Wedekin é claro. O futuro exigirá: 1) menos
desigualdade, 2) mais sustentabilidade, 3) mais e melhor logística, 4) muito
mais pesquisa aplicada (agricultura de precisão) e, por fim, 5) mais diplomacia
brasileira via agronegócio.
Palavra final: a agricultura vibrante deu ao Brasil as folgadas reservas
em dólar que impedem a transmissão das bobagens da política nacional para
dentro do sistema interno de preços. Ou seja, sem querer, o sucesso do
agronegócio virou guardião maior da estabilidade institucional e da
Constituição de 88. Curioso não ?
Um comentário:
Não deixa de ser bom.
Melhor seria levantar os olhos e colocar o contexto na realidade histórica, procurando entender o entrelaçamento e os motes entre os eventos, considerar as origens, as idéias, as reais sementes e só após as decorrências, notando o que estas também geram. Compreender é importante.
Postar um comentário