Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Milton
Pires
Freudianamente, eu expliquei por telefone para uma colega de Aracaju a
minha teoria de que nossa malandragem tem origem na nossa sexualidade.
Sim, nós, brasileiros e brasileiras, somos (ou pensamos que somos) os
bons de cama.
Nós saímos do Brasil e achamos que podemos seduzir e levar pra cama
qualquer mulher do Mundo. Nossas mulheres são (ou pensam que são) as mais
lindas do planeta e que ninguém pode resistir a elas.
Dessa nossa fantasia nasceu a tentativa frustrada, o intento infeliz de
sublimação radical e é dela que vem nossa malandragem na vida social, essa
nossa malandragem amoral e anticívica, essa malandragem promíscua e bárbara que
contamina todo estamento, toda administração pública e todo serviço essencial.
Da contaminação da vida pública nasce um estamento que se sexualiza. Da
contaminação da vida íntima a sexualidade é burocratizada, politizada,
administrada e registrada em cartório... é publicada na internet, é discutida
por especialistas, por doutores, pelos intelectuais…
Ah, como é bom quando o Ministro do Supremo convida aquela advogada de
Brasília, tão bonita, tão jovem, tão gatinha, para saborear o vinho e a lagosta
que poderiam comprar, com o dinheiro público gasto, um respirador para ser
usado na COVID19.
Que maravilha quando a Deputada usa dinheiro público para pagar o hotel
em SP (ou RJ, sei lá..) onde ela se encontrou com aquele ex-senador tão
“lindinho”...
Que delícia encontrar nas livrarias dos shoppings, e até nos
supermercados e farmácias, livros e mais livros de jovens escritoras
brasileiras que discorrem sobre a vida da “nova mulher”, da “mulher
independente”, da “mulher médica, juíza, jornalista ou empresária”….na cama…
Será que ela goza? Será que ela não goza? Mais importante do que tudo: se
ela goza, será que goza como qualquer outra “mulher comum”? Afinal de contas,
todas as mulheres tem que ter “direito a gozar” da mesma forma, né?
Se algumas não estão gozando, alguém deve ser culpado por isso! É caso de
Polícia! Não interessa se é o capitalismo cruel, a revolução cultural
comunista, o marido ou os filhos...Alguém é culpado e ponto final!
É...é a "malandragem", caro leitor ...a mesma malandragem que finge não saber que "um respirador NÃO é igual a um leito de UTI e que uma UTI não é a mesma coisa que um hospital". A mesma malandragem que coloca falsos médicos cubanos e estudantes do quinto ano de medicina para atender no SUS, a malandragem que diz que "em saúde pública qualquer coisa é melhor do que nada"...e por aí vai...
É...é a "malandragem", caro leitor ...a mesma malandragem que finge não saber que "um respirador NÃO é igual a um leito de UTI e que uma UTI não é a mesma coisa que um hospital". A mesma malandragem que coloca falsos médicos cubanos e estudantes do quinto ano de medicina para atender no SUS, a malandragem que diz que "em saúde pública qualquer coisa é melhor do que nada"...e por aí vai...
E no meio disso tudo chega o Sars-Cov2, o “bicho” como eu mesmo resolvi
chamá-lo.
O bicho não quer saber de sexualidade nem de malandragem. O bicho não é
de Esquerda nem de Direita, ele não é branco nem preto, não é gay nem
hétero...O bicho não quer saber de maconha, de passeata, de aborto...Não se
interessa pela Bolsa de Nova York, pela BOVESPA nem pelo desemprego…
O bicho só quer uma coisa – MATAR. O bicho quer matar o maior número de
pessoas no menor tempo possível e contra ele só há uma coisa há fazer:
isolar-se, separar-se, segregar-se…
“Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura...
se é verdade, tanto horror perante os céus?!” Estas frases eu berro sozinho
aqui na frente do meu computador e o espírito de Castro Alves me responde:
“Cale-se! Você não está no meu Navio Negreiro, você pertence à Galera”
Aí eu me dou conta de que sou
brasileiro, de que Castro tem razão e de que eu pertenço mesmo à “galera”.
Que horror, meu Deus, ser brasileiro e estar sozinho, ficar preso em casa,
não saber o que está pensando, o que está fazendo a “galera”.
A sexualização da vida pública e a burocratização da minha vida sexual me
fizeram pertencer à “galera”.
Eu sou brasileiro, eu sou da “galera”, comigo ninguém pode… “Te cuida comigo que eu não ando sozinha”, escreveu certa vez uma imbecil comunista que é médica, sambista, mãe e preceptora de residência de Medicina “Comunistária”..tudo ao mesmo tempo lá no Rio de Janeiro…
Eu sou brasileiro, eu sou da “galera”, comigo ninguém pode… “Te cuida comigo que eu não ando sozinha”, escreveu certa vez uma imbecil comunista que é médica, sambista, mãe e preceptora de residência de Medicina “Comunistária”..tudo ao mesmo tempo lá no Rio de Janeiro…
Aí eu me dou conta de que a galera é um navio de escravos também, de escravos
que remam, de escravos que estão acorrentados aos remos no porão do navio e que
geralmente morrem afogados quando o navio é atacado e afundado pelos inimigos
numa batalha naval.
Interessante, penso eu, na morte por COVID19 o paciente também morre com
a sensação de estar se afogando...mas há uma diferença profunda, meu Deus, ele
vai morrer sozinho, isolado, sem o contato com os parentes...alguns lembrariam
que ele vai estar “sedado e não vai saber nem sentir nada”...e alguns
seguidores de George Berkeley responderiam que então ele “já teria
morrido”...enfim...deixa pra lá…isso é divagação de filósofo frustrado formado
em Medicina...De um intensivista com “fama de louco”...
O importante é o seguinte: que medo terrível que nós, da galera, temos da
solidão...que coisa incrível...que desgraça...Como nós precisamos da fila sem
fim, do elevador cheio, do trem lotado, do ônibus com as pessoas se esmagando
de tanta gente, dos estádios de futebol explodindo com tantos torcedores…
Ah, se o “bicho” soubesse como faz mal, para quem é “da galera”, precisar
ficar sozinho ou confinado com outras pessoas...
Sim, ficar confinado com outras pessoas também é ficar sozinho, sim.
Confinados com outras pessoas da nossa família nós estamos “sozinhos” porque
estas nós já conhecemos completamente, ou acabamos conhecendo completamente e
aí, rapidamente, nós acabamos nos sentindo sozinhos e a Rede Globo teria que
nos dar um milhão de reais como dá para aqueles pobres diabos do Big Brother
Brasil para que a gente aguentasse ficar com nossa própria família em casa, pô
!!!
Não, não é isso que nós, “da galera”, queremos. Nós só não nos sentiremos
sozinhos se estivermos completamente cercados de gente que sequer conhecemos,
que não são nossos familiares, que não tem nada a ver conosco... e é por isso
que gostamos da fila, do ônibus, do trem, do estádio...é isso que nós “da
galera” queremos…é aí que podemos sexualizar nossa vida pública e burocratizar
nossa vida sexual...é aí que está a morena gostosa que encontramos no ônibus, é
nela que podemos nos encostar e, quem sabe até nos masturbar e gozar...e é na
Delegacia da Mulher, na Delegacia de Todas as Mulheres, brancas ou pretas, é na
Delegacia de Combate ao Orgasmo dentro do Ônibus, que ela pode nos denunciar…
Nosso orgasmo foi registrado, catalogado, se tornou público, foi
criminalizado...É óbvio que nem todos nós gostamos de fazer isso, mas nós
gostamos de saber disso, sim...Somos da “galera”, pô!
Enquanto tudo isso acontece, o bicho segue seu trabalho. O bicho não quer
saber de nada disso que eu escrevi. Ele só quer MATAR e ponto final, mas como
ele atrapalha a “galera”! Ah, ele atrapalha, sim!
O bicho atrapalha nossa vontade de transar dentro de nossas próprias
casas, ele complica a vida do nosso estamento burocrático, ele dificulta a
cobrança dos impostos do país com uma das maiores cargas tributárias do mundo,
ele dificulta o dia a dia dos cartórios, dos procuradores, dos juízes, dos
processos, dos alvarás e dos habeas corpus…do vinho e da lagosta!
Que bicho desgraçado, meu Deus! Ele acabou com a nossa malandragem! Ele é
uma ameaça para nosso futuro!
Sim, para nosso futuro, sim! Nós só temos futuro, nós somos o país do
futuro! Nós não temos passado nem presente, só futuro!
Somos o país do futuro e aí vem esse bicho maldito parar nossa economia,
nossas indústrias, nossos negócios...e nosso tesão pela morena dentro do ônibus
lotado ou pela advogada de Brasília.
Certa vez alguém escreveu que “nunca se está tão perto de Deus como
quando se está sozinho”. O bicho vai ser então, creio eu, um teste para nossa
fé e para nossa capacidade (como “galera”) de ficarmos sozinhos.
Enquanto o bicho segue matando, os Ministros seguem com seus salários de
“autoridade”, com a verba do vinho e da lagosta que poderia ser usada nos
hospitais, nas escolas, nos presídios...mas isso não faz diferença alguma para
o bicho...
Se Maria Antonieta estivesse aqui no Brasil ela aliviaria minhas
“preocupações filosófico freudianas” respondendo o seguinte pra mim:
“Estão com falta de ar e não tem respiradores, que usem leques para ser
abanar” e para ela eu responderia com a frase de Hannah Arendt no fim do seu
livro, “A Condição Humana”:
“Não há dor que não diminua, se uma História puder ser contada sobre ela”
(para Vanessa)
3 comentários:
Tá gastando o seu latim à toa meu caro Doutor. Seu texto é maravilhoso. Parabéns. Mas, palavras são palavras, nada mais que palavras. O que resolve é o fuxil. Às armas!
Estupendo!Fantástico!Sensacional!
Ao comentarista Unknown:
Então comentarista, você vai pegar em armas é? Vai pegar um fuxil? Você vai fuzilar quem SEU OTÁRIO?
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