Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Fábio
Chazyn
“Quem não
viu aquilo não viu nada. Cascatas de idéias, de invenções, de concessões
rolavam todos os dias, sonoras e vistosas para se fazerem contos de réis,
centenas de contos, milhares, milhares de milhares, milhares de milhares de
milhares de contos de réis. Todos os papéis, aliás ações, saíam frescos e
eternos do prelo. Eram estradas de ferro, bancos, fábricas, minas, estaleiros,
navegação, edificação, exportação, importação, ensaques, empréstimos, todas as
uniões, todas as regiões, tudo o que esses nomes comportam e mais o que esqueceram....
Pessoas do tempo, querendo exagerar a riqueza, dizem que o dinheiro brotava do
chão, mas não é verdade. Quando muito, caía do céu.”
O texto é
do Machado de Assis falando dos sonhos do Rui Barbosa, o jurista genial e
financista visionário. Oitenta anos antes do presidente Nixon transformar o
dólar em “dinheiro-fiat”, o nosso Rui já sonhava com o que aconteceria se
libertasse os nossos contos de réis das amarras da moeda-lastreada.
Mas seu
sonho não andou como queria. O plano do “encilhamento” foi sabotado pelos
gananciosos-impatriotas-de-plantão. Os que reclamavam dos prejuízos que tiveram
com a libertação dos seus escravos viram no plano do jurista-financista, de
encilhar e liberar a “cavalaria-na-corrida-do-mercado”, a oportunidade de
lavar-a-égua...
Os
latifundiários do café e do leite tomaram o poder dos militares, dominaram a
Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e criaram a de São Paulo para desnaturar o
plano do Rui e promover as festanças com a multiplicação caótica do novo
dinheiro-fiat e distribuí-lo entre os amigos.
Depois que
os vilões impatrióticos penduraram a conta nas costas do Tesouro Nacional,
este, não conseguindo reconhecer a dívida, decretou que ela não valia o que
diziam e desvalorizou o conto de réis. Quem não tinha saído do ‘mico’, trocando
papéis por bens, viu que ficou pobre da noite-para-o-dia e o sonhado
choque-de-consumo virou pesadelo para o País.
Rui Barbosa
pagou-o-pato por ser o “bode-expiatório” mais conveniente, enquanto os donos de
terras saíram na boa e inauguraram a Política dos Governadores que durou 35
anos até o Getúlio lhes dar o golpe-de-estado, aproveitando o anseio reprimido
da população em CONSUMIR.
Os
americanos escreveram uma História diferente. A libertação do dólar da
camisa-de-força-da-moeda-lastreada abriu a grande oportunidade de prosperidade
baseada no giro livre da economia. Desde a decisão tomada em 1971 até hoje, a
quantidade de dólares, como dinheiro-fiat em circulação, cresceu 10 vezes, já
descontando a inflação. Existe quase 5 mil dólares em circulação para cada
americano.
E no
Brasil? Menos de 200 dólares para cada brasileiro, ou seja, 4% do que dispõe
cada americano! Em relação ao respectivo PIB, os Estados Unidos têm quase 4
vezes a mais em dinheiro circulando do que o Brasil!
Sem
dinheiro circulando, não podemos nos surpreender que a nossa economia esteja
parada, nem que qualquer aumento de moeda em circulação possa provocar
inflação...
O pouco
dinheiro que gira é para especular com papéis que só criam riqueza para os
especuladores, enquanto empobrecem os incautos sem alternativas (1 + -1 = 0).
Sem alimentar a economia-de-consumo, o dinheiro não se reverte em investimentos
produtivos (1+1=3) e, portanto, não gera riqueza para o País...
O estrago
já está feito. É preciso, agora, tentar sair do marasmo sem fazer mais
besteiras. A criação de uma base monetária paralela poderia ser uma das saídas.
Bem concebido, um plano usando dinheiro-fiat paralelo pode também servir para
selecionar os setores que o gestionário procurará estimular aproveitando o
enorme contingente de brasileiros que não produzem nem consomem.
Alinhar os
vários parceiros públicos e privados procurando satisfazer a demanda reprimida
por bens-de-consumo-básicos, como a produção em massa da linha-branca
(geladeiras, fogões e lavadora), pode representar uma oportunidade para ensejar
um ‘tranco’ para sair da inércia e, ao mesmo tempo, ajudar na melhoria da
qualidade de vida da população.
Afinal, não
é p’ra isso que serve o dinheiro?
Iniciativas
assim, articuladas com parceiros internacionais, servem também para centrar no
Brasil o elo de novas “cadeias-de-valor” que estão se estruturando no Mundo e
fomentar o desenvolvimento também de outros setores, como veículos elétricos e
voadores.
Será que o
nosso atual superministro não vai sair da sua torre-de-marfim? Será que ele vai
ficar na mesmice e insistir em não infringir a cartilha-sagrada-do-monetarismo
nem que só até sair da recessão? Será que ele não vê que o patamar tecnológico
está trocando e abrindo uma nova janela de oportunidades depois de 100 anos da
última troca?
Será que Paulo
Guedes vai nos privar da oportunidade que o corona-vírus nos trouxe para ousar
na criação de novas modalidades de “dinheiro-fiat”, como o “Vale-Consumo”, e
nos ensejar os meios para produzir um choque-de-consumo ‘a la’ encilhamento,
que faria a economia pegar-no-tranco?
Será que
ele vai perder a chance de se inspirar no patriotismo e na criatividade do seu
antecessor, o também liberal-da-gema, Rui Barbosa e vai nos deixar com a
saudade da euforia do Machadão?
Afinal, não
foi p’ra isso que nós elegemos o Bolsonaro.
Fabio
Chazyn, autor dos livros “Consumo Já! Projeto Vale-Consumo” (2019) e “ O Brasil
Tem Futuro?” (2020) https://clubedeautores.com.br/livro/o-brasil-tem-futuro
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