Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por André
Luís Vieira
Hoje, choro a minha inocência por acreditar num projeto de país justo,
ético e desenvolvido...
O choque de realidade gerado pelo conflito entre a busca pela democracia
participativa e pela cidadania ideal, de um lado, versus o exercício
da democracia real e do jogo político, de outro, roubaram a minha esperança
nesse projeto de Brasil...
Nosso modelo de democracia é a apenas uma versão moderna do platônico
mito da caverna.
Foi-nos prometida uma democracia ampla e participativa, mas na prática
personalismos e corporativismos, patrimonialismo e corrupção estão degradando o
sentido da constitucionalidade e o alcance das instituições.
É o agravamento irrefreável da erosão de nossa democracia!!!
Nossa democracia é uma novela tão surreal que a sociedade do espetáculo
já não dá mais conta de acompanhar. Está atordoada, dividida, fragmentada...
Enquanto paixões irascíveis acirram ânimos e nos afastam mais do que o
isolamento social pandêmico, acordos e conchavos são efetivados. E a lição
aprendida no jogo político é a sobrevivência por quaisquer meios e a qualquer
custo, mesmo ao custo da esperança...
O poder popular não é soberano, há muito tempo. O poder popular, em nossa
democracia pouco representativa, está a cada dia mais restringido aos períodos
eleitorais e olha lá, hein?!
Hoje, a participação popular é confrontada como um risco a própria
democracia, pela ótica de instituições que não são democráticas, cujos atores
não foram eleitos ou cujos mandatos são quase vitalícios e ilimitados. Paradoxo
da democracia à brasileira?
Estou convencido de que há três formas de se analisar uma questão
política: a forma certa, a forma errada e a visão do oportunismo político,
lastreada pelo interesse de ocasião.
Como invariavelmente é a visão do oportunismo que prospera,
acrescentando-se boas pitadas de imoralidade, também estou convencido de que só
há duas maneiras de se enxergar as coisas na política, ou é ingenuidade, ou é
método.
Como não creio que nesse âmbito haja ingenuidade, só me resta admitir o
método. De fato, restou claro que tudo depende da intensidade e da direção para
onde o vento sopra...
Só importa, além da sobrevivência política, o poder pelo poder para o
poder!!! No fundo e ao cabo, são as duas únicas regras do jogo. O resto é
ingenuidade...
Crise permanente? Presidencialismo de coalizão? Parlamentarismo branco?
“Ministrocracia”? “Amigocracia”? “Jeitinho brasileiro”? O que vejo é a
oligarquia cleptocrática formatada como um amálgama permanente de interesses
sempre presentes, qualquer que seja o governo.
Matematicamente, nossa democracia de soma zero é um paradoxo difícil de
explicar. Apesar dos vetores se anularem, o resultado tende a menos infinito.
Tende ao subdesenvolvimento. Tende ao retrocesso. Tende à demagogia. Tende ao
fracasso civilizatório.
Sinceramente, por que chorar, então? Sabemos que a política é a arte das
conciliações improváveis. Todo o resto é ilusão... Uma espessa cortina de
fumaça...
O fisiologismo venceu e foi de goleada... Seria um novo 7x1?
Mais uma guerra perdida pelo povo brasileiro. E essa não tem volta...
Ah é, e o povo, como fica nisso tudo? O povo é vítima e, ao mesmo tempo,
algoz de sua própria tragédia. A trágica da democracia de soma zero.
Continuaremos a ser o “país do futuro” que escolheu o fracasso como
compromisso histórico e institucional.
E onde fica a obrigação moral em ser ético? Não fica...
Às vezes, a melhor forma de mostrar que alguém está errado é deixá-lo
persistir no erro!!!
Temos mitos e heróis à vontade nas prateleiras, renovando nossas
esperanças a cada 4 anos, sempre numa visão de governo, nunca de Estado.
De Roma para cá, pouca muita coisa mudou. A política continua cínica e
populista, retórica e demagógica... Tudo depende de oportunidade e conveniência...
Mas, enquanto a decepção com os fatos se aprofunda, a pandemia avança
impiedosa. Já estamos batendo na casa dos 6 mil óbitos e a população em estado
de indigência nas ruas aumenta assustadoramente.
Difícil a solução. Qual o caminho? Não tenho respostas. Somos o que somos
e continuaremos a ser...
E, infelizmente, persistimos e persistiremos no erro. E, por isso, o
Brasil não tem o menor perigo em dar certo!
André Luís
Vieira é Advogado.
Um comentário:
O Brasil não tem cura, porque a doença é o próprio doente.
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