Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Percival Puggina
Também acho que fake news são uma praga. Elas
promovem uma convergência entre os mal intencionados e os ingênuos para
alcançar, muito provavelmente, um efeito político desejado por ambos. Entre
nós, a verdade foi de tal modo relativizada e a mentira tão industrializada
para ser servida em quantidades multitudinárias, que os velhos censores mentais
da razão e da lógica entraram em colapso. Acredite, se quiser, como diria Jack
Pallance.
Por outro lado, como já escrevi anteriormente,
enquanto a pilantragem das fake news tem meios limitados para iludir a opinião
pública, e normalmente produz algo parecido com cédula de três reais, a grande
mídia militante, engajada, dispõe de recursos técnicos de manipulação que
começam na seleção de matérias e seguem nas manchetes, nas imagens, na produção
dos conteúdos, na coleta orientada de opiniões, no vocabulário, nos tons de
voz, nas expressões fisionômicas, nas suítes e por aí vai. Destaque especial
deve ser dado às análises falsas – as fake analysis – capazes de extrair dos
acontecimentos conclusões que neles não cabem. Como o coração, as fake analysis
dos fatos têm razões que os fatos mesmo desconhecem.
Acessei o site do Senado Federal para ler o
teor do PL 2630/2020 conforme aquele parlamento o aprovou. Não encontrei o que
queria, mas vi que o projeto do senador Alessandro Vieira foi apresentado no
dia 13 de maio e saiu aprovado do plenário no dia 30 de junho. Ou seja, em
apenas um mês e meio e em aborrecidas sessões remotas, sem público nem debates,
esse ataque à liberdade de informação, montado na covid19, surfou um plenário
vazio e foi em frente para a Câmara dos Deputados.
Isso tudo mostra que o projeto, seu trâmite, o
trabalho do relator, a votação e a aprovação foram resultado de minucioso
roteiro e cronograma combinados na “cocheira”. Aprovações assim, vapt-vupt,
quase sempre envolvem interesse próprio dos parlamentares e ferram os cidadãos.
O interesse próprio, sabe-se bem, é a mais intensa das motivações. Quando está
em jogo, faz o texto e a estratégia; é o motor e o combustível da rápida
tramitação.
A maioria dos senadores se valeu do movimento
de opinião criado em torno do fenômeno das fake news para avançarem seus
objetivos de autoproteção. Exatamente o mesmo que os ministros do STF, sob o
comando de Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, estão conduzindo para
constranger o antagonismo da sociedade, a liberdade de opinião e o trabalho de
jornalistas com foco no Supremo e seus ministros.
Leia o projeto. Vale a pena. São 31 artigos e
cerca de 120 preceitos para constranger, complicar e acabar com a liberdade nas
redes sociais imobilizando-a num emaranhado de regras que, melhor do que
qualquer discurso, caracteriza muito bem a intenção de quem o apoia.
Percival Puggina
(75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor.
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